O Beckham do século 17
24 de maio de 2004

Depois de estudar letras de baladas românticas e a imprensa popular dos anos 1600, historiadora descobre que o duque de Monmouth, filho ilegítimo de Carlos II, era o grande astro britânico daqueles tempos

O Beckham do século 17

Depois de estudar letras de baladas românticas e a imprensa popular dos anos 1600, historiadora descobre que o duque de Monmouth, filho ilegítimo de Carlos II, era o grande astro britânico daqueles tempos

24 de maio de 2004

 

Agência FAPESP - O jogador britânico David Beckham é o grande astro britânico da atualidade, mesmo atuando do outro lado do Canal da Mancha, na equipe espanhola do Real Madrid. Nenhum dos boatos recentes, de casos fora do casamento, por exemplo, conseguiram abalar a imagem de herói nacional do futebolista.

"Enquanto hoje são os jogadores de futebol que ganham os corações dos jovens, no século 17 eram os políticos que capitalizavam as atenções", afirma a historiadora Angela McShane-Jones, da Universidade de Warwick, em comunicado da instituição. A pesquisadora acaba de finalizar um estudo histórico sobre o duque de Monmouth, o grande astro da Inglaterra na época. O trabalho será publicado em forma de livro ainda este ano.

O herói inglês na época, conforme mostrou a análise de baladas românticas e da imprensa popular, era repleto de virtudes. O estudo revelou que o filho ilegítimo de Carlos II era louvado pela beleza e por suas conquistas militares. Como se isso não fosse suficiente, o duque empregava sua fortuna em obras assistenciais a favor da Igreja e do Estado.

"O duque foi um líder da oposição protestante à ascensão ao trono de seu tio Jaime II, sabidamente católico. As baladas em sua homenagem tinham um forte sentido político. Eram o modo pelo qual uma sociedade protestante, cento e cinquenta anos após a ruptura com a Igreja Romana, manifestava sua oposição à ascensão ao trono de um católico romano", contou o estudioso do período Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Segundo Angela McShane-Jones, as pesquisas sobre James Scot, como se chamava o nobre, são importantes também para a atualidade. "O desinteresse da juventude em políticos e na política é muito grande hoje, ao contrário do que ocorria naquela época, e essa grande mudança pode servir de alerta", disse.

O estudo feito na Universidade de Warwick também detectou o período em que as letras das baladas românticas eram feitas para exaltar figuras públicas. A partir do século 18, segundo a análise histórica, as letras começaram a ser ofensivas e, na verdade, passaram a destruir os heróis nacionais. Um processo semelhante ocorreu na própria imprensa popular do Reino Unido.


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