Segundo Maria Assunção Silva Dias, do Inpe, partículas lançadas pelas queimadas atingem áreas distantes do Brasil (foto: E.Geraque)

Nuvens de fumaça
28 de julho de 2004

Queima de biomassa da floresta amazônica representa 75% das emissões de carbono do Brasil. Além de colocar o país na lista dos 10 maiores poluidores, o impacto das queimadas é grave tanto para a saúde humana como para o meio ambiente global, como foi apresentado na 3ª Conferência Científica do LBA

Nuvens de fumaça

Queima de biomassa da floresta amazônica representa 75% das emissões de carbono do Brasil. Além de colocar o país na lista dos 10 maiores poluidores, o impacto das queimadas é grave tanto para a saúde humana como para o meio ambiente global, como foi apresentado na 3ª Conferência Científica do LBA

28 de julho de 2004

Segundo Maria Assunção Silva Dias, do Inpe, partículas lançadas pelas queimadas atingem áreas distantes do Brasil (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Brasília

Agência FAPESP - Esta é uma época do ano ruim para o povo amazônico. Entre os meses de julho, agosto e setembro as queimadas atingem níveis elevados em toda a região. Em alguns dias, respirar em algumas das cidades do Norte do país pode ser pior do que estar em São Paulo quando a inversão térmica traz todo o tipo de poluente para perto do solo.

Não bastasse o impacto sobre a saúde da população – 20 milhões de pessoas vivem na Amazônia brasileira – os cientistas começam a detectar cada vez com mais detalhes o peso das queimadas no meio ambiente. As conseqüências não dizem respeito apenas ao Brasil.

Segundo Maria Assunção Silva Dias, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), estudos revelaram que as partículas lançadas na atmosfera por causa das queimadas atingem áreas muito distantes do território brasileiro.

"Por causa do regime de ventos em altitudes maiores, as partículas provenientes das queimadas podem se espalhar tanto para o Pacífico, onde elas chegam depois de passar por sobre os Andes, como para o Atlântico Sul", disse a pesquisadora, que participou da sessão plenária inaugural da 3ª Conferência Científica do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), em Brasília, na terça-feira (27/7).

Uma das grandes contribuições do experimento em 2004 foi revelar um elo que era desconhecido entre os aeróssois e o sistema climático da Amazônia. O impacto também é local. Maria Assunção explica que o tipo das nuvens sobre a região também está mudando por causa das atividades antrópicas. "Estamos observando que as nuvens menores, que causam chuvas apenas na região onde se formam, não estão se formando com a mesma freqüência de antes", revelou.

Segundo a pesquisadora paulista, a tendência, se as condições atuais se mantiverem, é de que apenas as nuvens mais profundas, que causam as tempestades, continuem se formando. "O problema é que, nesse caso, a chuva vai se deslocar e ter menos influência na própria Amazônia. Essas nuvens de tempestade podem afetar o clima no mundo inteiro", afirmou.

A relação entre as queimadas e o sistema de chuvas na Amazônia está cada vez mais clara para os cientistas. Se os processos continuarem com freqüência, em questão de décadas as chuvas na Amazônia estarão totalmente diferentes. Se esse argumento não bastasse para que a queima da biomassa amazônica fosse controlada existem outros que, inclusive, prejudicam a imagem do Brasil no exterior.

De acordo com os cientistas presentes na sessão plenária inaugural da conferência da LBA, do total de emissões de carbono do Brasil, 75% são causadas pelas queimadas da região. Derrubar esse índice, segundo eles, é uma forma de se posicionar melhor no mercado internacional de compra de créditos de carbono, que começa a se desenvolver.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.