Coletas realizadas por navio do centro de pesquisas do Ibama revelam a existência de mais de 20 espécies inéditas de caracóis (foto: divulgação)

Novos moluscos descobertos no Nordeste
23 de abril de 2004

Coletas realizadas por centro de pesquisas do Ibama revelam a existência de mais de 20 espécies inéditas de caracóis. Alguns dos exemplares encontrados, como o gênero Aclis, haviam sido descritos uma única vez para águas brasileiras, há mais de um século

Novos moluscos descobertos no Nordeste

Coletas realizadas por centro de pesquisas do Ibama revelam a existência de mais de 20 espécies inéditas de caracóis. Alguns dos exemplares encontrados, como o gênero Aclis, haviam sido descritos uma única vez para águas brasileiras, há mais de um século

23 de abril de 2004

Coletas realizadas por navio do centro de pesquisas do Ibama revelam a existência de mais de 20 espécies inéditas de caracóis (foto: divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O barco pesqueiro Natureza, de propriedade do Centro de Pesquisas e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste, órgão ligado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é o protagonista da descoberta.

A velha embarcação de 30 metros de extensão foi projetada para pesca e não para a pesquisa científica. Mesmo assim, a poderosa draga instalada sobre ela conseguiu trazer preciosidades do fundo do litoral nordestino, em várias expedições realizadas ao longo de quatro anos.

“Os resultados apontam para, pelo menos, 20 novas espécies de caracóis. Depois de finalizada a análise de todo o material devem surgir até mesmo gêneros inéditos”, disse José Carlos Barros, professor do Departamento de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco, à Agência FAPESP. Entre as novidades estão espécies ainda não descritas, pertencentes aos gêneros Athepra, Columbella e Fulgurofusus.

O resultado não chegou a surpreender os pesquisadores, pois os arrastos com fins científicos feitos ao longo de grande parte do Nordeste, desde a Foz do Parnaíba até Salvador, principalmente em grandes profundidades, não são freqüentes.

“O desconhecimento dessa fauna de moluscos que vive sobre o talude continental, entre 200 metros e 1,2 mil metros de profundidade, é muito grande. Toda vez que se jogar a draga para arrastar sobre o fundo do mar é bastante provável que novas espécies sejam descobertas”, explicou Barros. Segundo os cientista pernambucano, grande parte dos moluscos encontrados está em microconchas com menos de 5 milímetros de altura.

Se a coleta de novas espécies é comemorada pelos pesquisadores, pelo aumento do conhecimento científico dos moluscos marinhos no Brasil, a redescoberta de alguns grupos pode ser igualmente comemorada. “Duas espécies encontradas agora, do gênero Aclis, haviam sido identificadas na costa nordestina brasileira apenas uma única vez, há mais de 100 anos”, disse o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco

Segundo Barros, os moluscos haviam sido coletados pelo navio inglês Challenger, que fez pesquisas na costa brasileira entre 1873 e 1876. “As espécies descritas, que estavam na coleção do Museu Britânico, perderam-se há algum tempo. Com o material coletado pelo pesqueiro Natureza poderemos repor essa coleção”, anima-se o cientista.

Por preferir águas frias, como a dos mares ao norte da Europa, os representantes do gênero Aclis são pouco encontrados em águas tropicais como as do litoral nordestino. “Na costa de Pernambuco, elas foram identificadas a 600 metros de profundidade”, disse Barros.

O trabalho dos cientistas que procuram por novos moluscos retirados das profundezas oceânicas mais se parece a de um garimpeiro no meio da selva. Quando o guincho do barco recolhe a draga para o convés, surgem apenas sedimentos marinhos, que são devidamente acondicionados e levados para o laboratório.

Em terra firme, explica Barros, os cientistas secam o material antes da triagem propriamente dita. “É necessário, sob um microscópio, separar as conchas dos grãos de areia.” Depois de isolados os moluscos, os invertebrados passam por um tratamento especial antes de serem fotografados por microscopia eletrônica. Somente após tudo isso é que serão identificados.


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