Sensor identifica presença de moléculas de antígeno em soro sanguíneo, fornecendo rapidamente resultado positivo ou negativo (foto: Cleverton Pirich)
Sensor identifica presença de moléculas de antígeno em soro sanguíneo, fornecendo rapidamente resultado positivo ou negativo
Sensor identifica presença de moléculas de antígeno em soro sanguíneo, fornecendo rapidamente resultado positivo ou negativo
Sensor identifica presença de moléculas de antígeno em soro sanguíneo, fornecendo rapidamente resultado positivo ou negativo (foto: Cleverton Pirich)
Peter Moon | Agência FAPESP – Estatísticas epidemiológicas de doenças transmitidas por mosquitos impressionam. Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, em 2016 foram notificados cerca de 1,5 milhão de casos de dengue, 272 mil de febre chikungunya e 215 mil de febre Zika. Em 2015, foram 143 mil casos de malária.
Estratégias de combate a essas epidemias incluem prevenção – por meio do combate às diversas espécies de mosquitos transmissores –, desenvolvimento de vacinas, vigilância epidemiológica com rápido diagnóstico dos doentes e tratamento clínico e ambulatorial.
No quesito da vigilância epidemiológica, grupos em universidades brasileiras pesquisam o desenvolvimento de biossensores de baixo custo para acelerar o diagnóstico. Um exemplo é o imunochip para detecção de doença da dengue que está em desenvolvimento no grupo BioPol dos Departamentos de Química e de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
“No nosso sensor, a detecção da doença da dengue é indireta. O que se detecta não é o vírus, mas um antígeno característico da infecção. Essa detecção se dá através de anticorpos ancorados no biossensor, que detectam rapidamente a presença do antígeno no soro e, indiretamente, nos dá a resposta de infecção”, disse o doutorando em bioquímica Cleverton Pirich, um dos autores do estudo.
O imunochip é capaz de detectar a presença de moléculas do antígeno (NS1) para a dengue em soro sanguíneo, fornecendo um resultado positivo ou negativo de forma rápida. Resultados do trabalho foram publicados no periódico Biosensors and Bioelectronics.
O sensor é baseado na tecnologia das microbalanças de cristal de quartzo (MCQ). O termo microbalança se refere à capacidade desses dispositivos detectarem quantidades de uma molécula, a exemplo de uma proteína, na ordem de nanogramas (bilionésimos de grama).
Isso é possível devido a uma propriedade eletroquímica chamada efeito piezoelétrico. Piezoeletricidade é a capacidade de alguns cristais gerarem tensão elétrica como resposta a uma pressão mecânica.
Os sensores piezoelétricos são dispositivos que usam o efeito piezoelétrico para medir pressão, aceleração, tensão ou força, convertendo-os em sinal elétrico.
Para validar os resultados e a eficiência do imunochip desenvolvido em Curitiba, Pirich e sua orientadora, a professora Maria Rita Sierakowski, contaram com a colaboração do professor Roberto Manuel Torresi, do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo, quanto ao funcionamento e interpretação de resultados em uma microbalança com dissipação de energia (MCQ-D).
“A microbalança utiliza o efeito piezoelétrico reverso. No caso específico do novo imunochip, um sinal elétrico é aplicado ao cristal e a frequência desse sinal muda quando algumas moléculas de antígeno (NS1) para a dengue presentes em uma amostra se depositam sobre o cristal”, disse Torresi.
No laboratório coordenado pelo professor Torresi há uma das mais sofisticadas e precisas microbalanças de cristal de quartzo em operação no Brasil. O equipamento foi adquirido com apoio da FAPESP.
Assim como o imunochip, a microbalança MCQ-D também baseia sua operação na detecção utilizando efeito piezoelétrico reverso. Só que sua precisão é de outra ordem de grandeza, além de detectar também mudanças reológicas.
“A microbalança do nosso laboratório é muito mais sofisticada que outras existentes no país”, disse Torresi, que também assina o artigo publicado na Biosensors and Bioelectronics e coordena o Projeto Temático “Otimização das propriedades físico-químicas de materiais nanoestruturados e suas aplicações em reconhecimento molecular, catálise e conversão/armazenamento de energia".
A microbalança do IQ (MCQ-D) e as do BioPol (MCQ, adquirida com apoio da Capes, e MCQ-D, com apoio da Finep) confirmaram a presença do antígeno NS1 para a doença da dengue em todas as amostras de soro que foram contaminadas por acréscimo desse antígeno, para as quais o imunochip havia sido produzido contendo o anticorpo NS1, resultando num resultado positivo de detecção.
Aplicações ambientais
“O imunochip foi desenvolvido para detectar moléculas do antígeno da doença da dengue em qualquer material em meio líquido. Mas o princípio pode ser aplicado na detecção de outras doenças, assim como em aplicações ambientais e saúde para detectar moléculas contaminantes presentes em água, alimentos e meio ambiente, por exemplo”, disse Sierakowski.
A base do imunochip é um cristal de quartzo importado, sobre a qual são depositados os demais componentes em finas camadas. A primeira, logo acima do cristal, é de ouro. Imediatamente acima está uma película de um polímero chamado polietilenimina.
Por fim, sobre o polímero é colocado um nanofilme de nanocristais de celulose, oriundo de tratamento químico de resíduos industriais de celulose bacteriana, preparado para reagir quimicamente na presença do antígeno da dengue. A reação química acarreta uma mudança de resposta dos nanocristais, que é refletida pela alteração dos seus padrões de frequência e de dissipação de energia.
É a mensuração precisa da mudança desses padrões de frequência e de dissipação de energia que indicará a presença ou não do antígeno para a doença da dengue e, por consequência, se o paciente de quem aquela amostra foi obtida está ou não infectado pelo vírus da dengue.
O processo pode parecer longo, mas, após o desenvolvimento do biossensor, a resposta é praticamente imediata. Pinga-se a amostra sobre o biossensor e se obtém o resultado com precisão. A presença do antígeno (NS1) para a dengue é determinada a partir de quantidades de 0,03 micrograma por mililitro.
“O mais importante para um paciente no diagnóstico não é saber quantas moléculas de antígeno há na amostra. O que interessa para ele é saber se está ou não infectado e, caso esteja, começar o mais rápido possível o tratamento correto. Visando somente um diagnóstico qualitativo, ou seja, com uma resposta positiva ou negativa, isso abre margem para o desenvolvimento de equipamentos mais simples, baratos e acessíveis que cumpram esse propósito”, disse Pirich.
“Como foi discutido e demonstrado em nosso trabalho, um imunochip desse, se desenvolvido e comercializado, poderá ser uma ferramenta de diagnóstico em tempo real, capaz de fornecer resultados em aproximadamente 15 minutos”, disse.
O artigo Piezoelectric immunochip coated with thin films of bacterial cellulose nanocrystals for dengue detection (doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.bios.2017.01.068), de Cleverton Luiz Pirich, Rilton Alves de Freitas, Roberto Manuel Torresi, Guilherme Fadel Picheth e Maria Rita Sierakowski, pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0956566317300684.
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