Novo modelo para problema antigo
03 de dezembro de 2007

Projeto arquitetônico que propõe nova abordagem de ocupação de favelas é premiado em concurso na Europa. Trabalho feito na UFMG reúne características de uma vila de casas montada em uma estrutura de edifício

Novo modelo para problema antigo

Projeto arquitetônico que propõe nova abordagem de ocupação de favelas é premiado em concurso na Europa. Trabalho feito na UFMG reúne características de uma vila de casas montada em uma estrutura de edifício

03 de dezembro de 2007

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Cinco estudantes de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram premiados em Copenhague, na Dinamarca, no 51º Concurso Estudantil da Federação Internacional de Habitação e Planejamento (IFHP, na sigla em inglês).

O concurso tem o objetivo de identificar soluções nos cinco continentes para problemas que as grandes cidades enfrentarão no futuro. Um importante desafio proposto pelos organizadores nesta edição foi o aumento populacional: em 2030, o mundo deverá ter 9 bilhões de habitantes. Outro ponto é o deslocamento para áreas urbanas: em 2007, pela primeira vez, a população nas cidades no mundo superou a das áreas rurais.

O projeto dos alunos da Escola de Arquitetura da UFMG, Bernardo Araújo, Éder Andrés, Isabel Brant, Mateus Andreatta e Thiago Campos, orientados pela professora Maria Lúcia Malard, recebeu menção honrosa por ser um dos 11 melhores entre 193 trabalhos inscritos.

O trabalho, intitulado Uma microcomunidade resolvendo problemas globais, propôs uma nova abordagem de ocupação para o Aglomerado da Serra, favela com mais de 50 mil habitantes localizada na região centro-sul de Belo Horizonte.

A área teve seu planejamento urbano refeito pelos alunos, que sugeriram a criação de mais unidades habitacionais e o aumento no número de áreas verdes e de espaços de lazer. A "nova comunidade" também foi projetada para ser mais bem servida de transportes públicos e ser capaz de produzir alimentos, energia e empregos.

Segundo Bernardo Araújo, a favela teria ruas principais que acompanhariam a inclinação do morro. Entre uma viela e outra, seriam construídas as "grelhas de habitação", estruturas que formam vilas suspensas divididas em andares, com entrada comum para elevadores e escadas.

Cada andar seria dividido no que os pesquisadores chamaram de "lotes aéreos", sendo que apenas 60% desses poderiam ser ocupados por residências e o restante utilizado para construções públicas, como postos de saúde e delegacias de polícia, além de praças que contribuiriam para a ventilação natural e iluminação do prédio. As grelhas de habitação, de acordo com o estudo, poderiam ser construídas em concreto ou metal.

"O projeto reúne características de uma vila de casas montada em estrutura de edifício. Como as áreas verdes não acompanham o crescimento das construções das grandes cidades, estabelecemos uma taxa mínima de ocupação, que pode ser variável dependendo da topografia do local, com o intuito de abrigar esses espaços públicos de convivência nos lotes aéreos sem construção", explicou Araújo à Agência FAPESP.

O trabalho, que também propôs que as grelhas fossem abastecidas por energia solar e sistemas de reutilização de água da chuva, incluiu ainda uma estrutura de transporte formada por estações de bondes para locomoção interna dos moradores entre as partes altas e baixas da favela.

"O projeto foi desenhado a partir de tecnologias de construção existentes no mercado e, por isso, pode ser adaptado a qualquer favela do Brasil. Ganhar uma menção honrosa no concurso da IFHP traz oportunidades de discutir questões sobre a sustentabilidade econômica e ambiental das metrópoles", afirmou Araújo.

Segundo ele, a prefeitura de Belo Horizonte, que mantém o programa de habitação Vila Viva, cujo projeto piloto está sendo realizado no Aglomerado da Serra, demonstrou interesse pelo estudo da UFMG, uma vez que o trabalho aumentou em cerca de 50% a capacidade habitacional da favela sem a necessidade de ampliação de área.

"Ainda que a implementação desse tipo de projeto demande planejamento urbano a longo prazo, estamos, com o auxílio dos professores da universidade, buscando parcerias com gestores da prefeitura e de empresas urbanizadoras para tentar, de alguma maneira, discutir a aplicação prática desse novo conceito de urbanização", disse Araújo.


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