Em 2 de julho de 1823, os últimos soldados portugueses eram expulsos de Salvador, após longa luta armada. Segundo o historiador Luis Henrique Dias Tavares, a data, conhecida como Dia da Independência da Bahia, marca a "verdadeira independência do Brasil"
Em 2 de julho de 1823, os últimos soldados portugueses eram expulsos de Salvador, após longa luta armada. Segundo o historiador Luis Henrique Dias Tavares, a data, conhecida como Dia da Independência da Bahia, marca a "verdadeira independência do Brasil"
Agência FAPESP – Há exatos 184 anos, no dia 2 de julho de 1823, o Brasil se tornava um país independente, depois de uma longa e sangrenta guerra. Naquele dia, o exército brasileiro entrou na cidade de Salvador e conseguiu expulsar os últimos soldados portugueses do território nacional.
A data, conhecida pelos baianos como o dia da independência da Bahia, é um feriado estadual intensamente festejado. Desde 2006, o cortejo popular de 2 de julho foi oficializado como patrimônio imaterial do estado.
Se o Dia da Independência, no entanto, não coincide com o tradicional contido dos livros escolares – sendo muito pouco conhecido pelos demais brasileiros –, isso ocorreria apenas "porque falta compreensão histórica sobre aquele conturbado período", de acordo com o historiador Luis Henrique Dias Tavares, autor do livro Independência do Brasil na Bahia (reeditado em 2006 pela Editora da Universidade Federal da Bahia).
"O dia 7 de setembro de 1822 foi oficializado como se fosse a independência, mas nessa data o Brasil ainda estava muito longe de ser independente. Só em julho de 1823, com a vitória do Exército e da Marinha na Bahia, a separação política do país se consolidou. Só ali se anulou o perigo de um ponto de apoio para uma intervenção armada vinda da Europa", disse Tavares à Agência FAPESP.
Professor emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, Tavares defende que o 2 de julho deixe de ser considerado apenas pela Bahia para ser reconhecido por todo o país.
"Naquele dia, a Bahia conquistou a independência do Brasil e não só da província. O episódio forneceu elementos para que outras partes do país que ainda não estavam inseridas no Brasil independente procurassem caminhos para a integração à nova nação. A partir daquele momento, a independência se tornou irreversível", destacou.
O conhecimento sobre o episódio baiano também é útil, segundo Tavares, para afastar a idéia de que a independência brasileira foi feita pacificamente, com uma simples proclamação. "O 2 de julho foi o desfecho de uma longa e violenta guerra de 17 meses. A independência foi conseguida com sangue, suor e muitas lágrimas", disse.
Se a independência não formal, mas de fato, ocorreu na Bahia, o conflito não envolveu apenas o estado. "O 2 de julho só foi possível porque morreram aqui muitos paulistas, fluminenses e, principalmente, sergipanos, paraibanos, alagoanos e cearenses. A data não é uma vaidade baiana, é uma glória brasileira", afirmou Tavares.
O professor ressaltou que, por ser um processo, a independência não pode ser demarcada apenas em um único dia, ainda que o 2 de julho seja o momento decisivo para a independência. "A rigor, só podemos dizer que o Brasil existe a partir de 1845, quando garantiu sua unidade com a derrota dos farroupilhas no Rio Grande do Sul", disse.
A guerra de independência gerou heróis que são até hoje lembrados, especialmente pelos baianos, como João das Botas, o Corneteiro Lopes e Maria Quitéria. A heroína das Independências (das duas) nasceu onde fica hoje o município de Feira de Santana e deixou a fazenda do pai em 1822, para combater nas fileiras brasileiras até a vitória. Por Decreto Presidencial de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria (1792-1853) foi nomeada patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Ainda assim, mesmo na Bahia a compreensão histórica sobre o 2 de julho é limitada. "É preciso pesquisar muito mais sobre o período, principalmente sobre o que ocorreu depois do 2 de julho. O povo transformou a data em uma festa de afirmação baiana, mas ela representa muito mais do que isso", destacou.
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