Novamente visíveis
22 de outubro de 2003

Há 20 anos, os trabalhadores rurais do Acre eram praticamente ignorados, lembrados apenas como parte do passado, quando o ciclo da borracha levou mudanças à floresta. Trabalho apresentado na 27ª Reunião Anual da Anpocs mostra como os seringueiros voltaram à cena

Novamente visíveis

Há 20 anos, os trabalhadores rurais do Acre eram praticamente ignorados, lembrados apenas como parte do passado, quando o ciclo da borracha levou mudanças à floresta. Trabalho apresentado na 27ª Reunião Anual da Anpocs mostra como os seringueiros voltaram à cena

22 de outubro de 2003

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - A segunda metade dos anos 80 e a Rio-92 podem ser considerados importantes divisores de águas. No período, os seringueiros, que estavam praticamente invisíveis da cena brasileira, voltaram a ocupar um espaço social.

O fenômeno, segundo o trabalho apresentando por Mauro Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), ocorreu muitas vezes por combinações não esperadas e até mesmo sem uma estratégia definida por parte dos seringueiros.

Nessa transformação, a figura de Chico Mendes, além de outros seringueiros como Antônio Macedo, teve papel fundamental, principalmente pela liderança que o primeiro exerceu enquanto vivo. Almeida, que esteve pessoalmente na floresta em várias das ações protagonizadas por Mendes, relatou como a criatividade e a sabedoria popular do seringueiro ajudaram na batalha contra o poder econômico e político local.

"Enquanto alguns líderes tinham ações mais locais, Chico Mendes era aquela pessoa que fazia as tensões do Acre chegarem até Brasília", disse Almeida. O discurso desses líderes sempre estava baseado no balanço exercido entre a modernidade, representada pelos patrões que chegavam na floresta, e pelo atraso presente no estilo de vida dos trabalhadores rurais.

Ao mesmo tempo em que os seringueiros, que ressurgiram nos anos 80 em um movimento social iniciado com grupos de sindicalistas locais, tiveram um período de organização e avanço como atores da sociedade na segunda metade dos anos 80 até a Rio-92, eles também viram a tensão no Acre aumentar. Tudo culminou com a morte de Chico Mendes.

Conforme relata Almeida em seu trabalho Do movimento agrário ao movimento socioambiental: os seringueiros e os novos rumos do desenvolvimento muita coisa ficou, mesmo com o desaparecimento de um dos líderes dos seringueiros.

"Existem muitas conseqüências de todo esse processo", disse Almeida à Agência FAPESP. "As reivindicações por novas reservas de extração, os movimentos indígenas e de moradores locais exigindo serem reconhecidos como atores sociais são exemplos", disse o pesquisador, que continua, com o seu grupo de pesquisas, investigando as relações sociais no Acre.


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