Medições feitas por instrumentos em diversos países mostram uma queda de 10%, em média, na incidência de raios solares no planeta desde a década de 50. Em alguns lugares, como Hong Kong, o escurecimento foi ainda maior: 37%
Medições feitas por instrumentos em diversos países mostram uma queda de 10%, em média, na incidência de raios solares no planeta desde a década de 50. Em alguns lugares, como Hong Kong, o escurecimento foi ainda maior: 37%
Centenas de instrumentos, espalhados em diversos países, têm registrado uma tendência de queda na quantidade de raios solares que atingem o planeta. De acordo com o jornal New York Times, a média global da diminuição foi de espantosos 10% desde a década de 1950. Pior: em algumas regiões da América do Norte, Ásia e Europa, a queda foi ainda maior. Em Hong Kong, por exemplo, o tombo no período foi de 37%.
A tendência foi verificada pela primeira vez há duas décadas, mas foi ignorada por ninguém ter acreditado na possibilidade. Recentemente, entretanto, o assunto voltou à tona, após um grande número de medições, feitas em diferentes regiões do globo, terem indicado a diminuição dos raios solares que atingem a superfície terrestre. O tema será discutido esta semana em Montreal, em encontro das sociedades geológicas do Canadá e dos Estados Unidos.
De acordo com James Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da Nasa, é sabido há tempos que as partículas de poluição na atmosfera refletem os raios solares, mas nunca se calculou a extensão do efeito. "É uma questão muito importante, que tem ocorrido há muito tempo", disse em entrevista ao jornal norte-americano.
Os cientistas acreditam que a poluição esteja bloqueando os raios solares de duas formas. Na primeira, a luz é simplesmente rebatida nas partículas e retorna ao espaço. Na outra, a poluição faz com que mais partículas de água se condensem no ar, ocasionando nuvens mais espessas e mais escuras. Por este motivo, o escurecimento seria maior do que o normal em dias nublados.
As regiões menos industrializadas, por aparecerem com poucas ou nenhuma diminuição da luz solar, ajudam a reforçar a tese da poluição. Por outro lado há locais, como a Antártica, onde o ar seria absolutamente limpo, em que o escurecimento também tem sido verificado.
A conclusão que se pode tirar é que a dinâmica do fenômeno é completamente desconhecida. "A realidade é que não entendemos o que está ocorrendo", disse Shabtai Cohen, do Ministério da Agricultura de Israel, que tem estudado o escurecimento por mais de uma década.
O escurecimento foi verificado em medições feitas no Japão, na década de 1980, por Atsumu Ohmura, hoje no Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça. Os resultados foram apresentados em uma conferência, mas foram ignorados. Cerca de dez anos depois, Gerald Stanhill, do Ministério da Agricultura de Israel, verificou o mesmo fenômeno. A análise, relatada em artigos científicos, também passou em branco. Em 2001, Stanhill e Cohen fizeram novas medições e calcularam o escurecimento médio do planeta em 2,7% por década.
Nem todos estão convencidos do fenômeno. De acordo com alguns cientistas, os instrumentos utilizados para as medições, chamados radiômetros, exigem calibração periódica e cuidado no uso. O simples acúmulo de poeira em sua cúpula de vidro seria suficiente para fornecer dados errôneos. Outro porém é que os equipamentos estão localizados em terra, ou seja, não se têm medidas de três quartos do planeta.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.