Bertrand Auvert, da França, e pesquisadores reunidos na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids discutem se a circuncisão masculina deveria ser considerada uma ferramenta na prevenção do HIV (foto: W. Castilhos)

Nova estratégia preventiva?
27 de julho de 2005

Bertrand Auvert, da França, e pesquisadores reunidos na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids discutem se a circuncisão masculina deveria ser considerada uma ferramenta na prevenção do HIV

Nova estratégia preventiva?

Bertrand Auvert, da França, e pesquisadores reunidos na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids discutem se a circuncisão masculina deveria ser considerada uma ferramenta na prevenção do HIV

27 de julho de 2005

Bertrand Auvert, da França, e pesquisadores reunidos na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids discutem se a circuncisão masculina deveria ser considerada uma ferramenta na prevenção do HIV (foto: W. Castilhos)

 

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP - A circuncisão masculina deveria ser considerada uma nova ferramenta na prevenção do HIV? A relação entre circuncisão e o vírus causador da Aids tem dividido opiniões de cientistas.

Estudo feito pelo francês Bertrand Auvert, na África do Sul, testou a prática como uma forma de estratégia preventiva. A pesquisa, financiada pela Agence Nationale de Recherches sur le Sida (ANRS), foi realizada em uma área urbana com alta prevalência do HIV – 32% da população adulta –, onde a transmissão se dá principalmente de mulher para homem.

"Recrutamos homens não-circuncidados entre 18 e 24 anos, sexualmente ativos, com um risco de infecção mais alto", contou Auvert. Os 3.274 participantes foram então circuncidados e amostras de sangue coletadas durante os três anos da pesquisa.

O estudo revelou significativa redução da incidência do HIV entre homens circuncidados. "A intervenção impediu que de seis a sete entre dez pessoas contraíssem o vírus", disse o pesquisador francês na terça-feira (26/7), na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids (IAS) sobre Patogênese e Tratamento do HIV/Aids, no Rio de Janeiro.

Segundo o pesquisador, inúmeros estudos haviam sido feitos anteriormente levantando a hipótese de que homens circuncisados têm um menor nível de infecção pelo HIV do que os não-circuncidados. Os estudos observaram que a prevalência do vírus é menor em populações que tradicionalmente praticam a circuncisão masculina do que em grande parte da África, continente de maior incidência da Aids. Outros dois testes foram realizados no continente, um em Uganda e outro no Quênia. Os resultados são semelhantes.

"O que mostramos reforça a hipótese de que a circuncisão pode ajudar na prevenção do HIV", observou David Serwadda, responsável pelo estudo em Uganda, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

No entanto, especialistas alertam que é preciso ter cautela antes de considerar a prática como uma nova forma preventiva do HIV/Aids. "Até que surjam novos resultados, não podemos assegurar a relevância ou eficácia da circuncisão masculina como prevenção com base somente em um estudo", disse Catherine Hankin, do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids).

O receio é que, se vier a ser considerada como nova modalidade preventiva, a circuncisão possa fazer com que os homens acreditem estar livres da infecção e relaxem em relação ao uso de outros métodos tradicionais de prevenção, como os preservativos.

"Pode ser que estejamos diante de uma nova estratégia para reduzir o número de infecções pelo HIV. Mas, antes, temos que analisar os impactos dessa nova estratégia e esperar mais resultados, para que homens circuncidados não achem que estão livres de contrair Aids", acentuou o cientista britânico Charles Gilks, também da Unaids.

Outro fator a ser levado em conta, segundo eles, é a aceitação cultural. "Devemos lembrar que a prática de circuncisão é avaliada pela cultura e pela religião do país", disse Catherine.

Apoiado em argumentos clínicos, Bertrand Auvert assinalou outros motivos pelos quais a circuncisão deveria passar a ser encarada como ferramenta preventiva contra o HIV. "Removendo o prepúcio, o número de lesões na glande diminui. Além disso, um pênis não-circuncidado é mais propício ao vírus, que penetra mais facilmente no corpo através deste canal", afirmou.

A 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids, parceria da IAS com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Infectologia, termina na quarta-feira (27/7).


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