Luciana de Andrade, da PUC-MG, em palestra em Olinda, na Reunião Brasileira de Antropologia (foto: E.Geraque)
A investigação do espaço urbano mostra novas relações homem-território. Se na Argentina há a perda de qualidade do espaço público com intervenções gerais, a dissecação dos condomínios brasileiros ajuda a desmitificar a idéia de autosegregação
A investigação do espaço urbano mostra novas relações homem-território. Se na Argentina há a perda de qualidade do espaço público com intervenções gerais, a dissecação dos condomínios brasileiros ajuda a desmitificar a idéia de autosegregação
Luciana de Andrade, da PUC-MG, em palestra em Olinda, na Reunião Brasileira de Antropologia (foto: E.Geraque)
Agência FAPESP - A análise antropológica das cidades e dos espaços urbanos, entre outras finalidades, ajuda a desvendar as facetas que essas áreas têm, quando manejadas pelo homem. Quando o foco se volta para as grandes metrópoles brasileiras, surge com bastante freqüência a figura dos condomínios horizontais, que cresceram com mais vigor a partir do fim dos anos 70.
"Ao contrário do que pode parecer, esses espaços existem desde os anos 50. Eles não são necessariamente um fenômeno novo", disse à Agência FAPESP Luciana de Andrade, pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais que esteve em Olinda, na Reunião Brasileira de Antropologia, apresentando um estudo no qual procurou relativizar os aspectos negativos que estão sempre associados aos condomínios.
Ao entrevistar os moradores de determinados loteamentos da cidade de Nova Lima, vizinha de Belo Horizonte, Luciana teve contato com algumas nuances antropográficas interessantes. "Na verdade, não existe assim um mundo tão autônomo como se imagina. A segregação, ou autosegregação, pode ser relativizada nesse caso", explicou.
Segundo os resultados obtidos por Luciana, os moradores dessas cidades quase que cenográficas apresentam relações muito fortes com a cidade – no caso de Nova Lima com a vizinha Belo Horizonte – e também com o próprio estilo de vida extremamente urbano. "Não estou querendo dizer com isso que não existe uma apropriação do espaço público nesses condomínios", esclareceu.
Outra nuance revelada pelo estudo mineiro apresentado em Olinda diz respeito às diferenças sócio-culturais que existem num mesmo loteamento fechado. "As pessoas que foram para lá a princípio estavam atrás de valores diferentes dos que foram mais recentemente. Os primeiros moradores demonstram até sentir uma relação de perda com a identidade do lugar", disse Luciana.
Ao se deslocar da periferia para o centro, mas também ficando no campo das pretensas belas paisagens, o trabalho apresentado por Monica Lacarrieu, da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, realça os aspectos negativos que algumas intervenções urbanas tiveram sobre a capital do país em relação ao espaço público urbano.
"Algumas intervenções, sejam elas públicas ou privadas, são incompreensíveis no contexto de uma política de lugares e de memória, de onde se poderia, de alguma forma, iluminar e legitimar alguns pontos da cidade", disse.
Quando cita exemplos práticos, Monica se refere a muitas regiões que os turistas costumam freqüentar. Entre eles, a famosa praça de San Telmo, que, segundo a pesquisadora, "pretendeu recriar um centro histórico para a Capital Federal".
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