Nômades globalizados
05 de julho de 2004

O historiador Nicolau Sevcenko, da USP, propõe a criação de uma nova ordem jurídica mundial capaz de identificar e ajudar as minorias étnicas sujeitas a processos de escravidão

Nômades globalizados

O historiador Nicolau Sevcenko, da USP, propõe a criação de uma nova ordem jurídica mundial capaz de identificar e ajudar as minorias étnicas sujeitas a processos de escravidão

05 de julho de 2004

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Pessoas intimamente conectadas mas que possuem características culturais extremamente diferentes. A definição para aqueles que se submetem a condições desumanas de trabalho em países distintos dos de origem é do historiador Nicolau Sevcenko, professor de História da Cultura da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ele, quando os indivíduos emigram em busca de novas oportunidades, principalmente em regiões desenvolvidas, muitas vezes acabam se submetendo a condições desumanas de trabalho, o que considera ser um processo de absoluta escravidão em pleno século 21.

"O trabalho escravo está presente em nosso cotidiano de forma muito clara, porém usamos outros nomes para caracterizar essa situação extremamente ameaçadora", disse em conferência durante o Fórum Cultural Mundial, em São Paulo, na semana passada.

Sevcenko acredita que, com o passar do tempo, tais pessoas tenham suas identidades culturais fragmentadas ao perderem os laços com as regiões de origem, além de não conseguirem se adaptar completamente ao novo local onde se encontram. "O cidadão acaba adquirindo uma terceira identidade cultural, totalmente diferente das duas em que se inseriu, o que acaba comprometendo sua dignidade humana", disse.

Para o historiador, é preciso criar um novo patamar de direito para proteger esses novos "nômades escravizados" pelo mundo afora. "É preciso estabelecer um padrão ético de conduta universal que nos permita criar horizontes de consciência expandida, capaz de dar conta dessas mudanças sociais que estamos vivendo", disse.

Essa nova ordem jurídica mundial, segundo Sevcenko, precisaria levar em consideração o que chama de "aspectos de uma justiça compensatória", para ser capaz de analisar os indivíduos não apenas pelo seu estatuto atual e individual, mas também para verificar toda a sua trajetória cultural, que pode ou não ter sido afetada por condições de colonialismo ou escravidão.

"Com esse novo conceito de justiça, seria realmente possível ajudar as minorias étnicas, as criaturas vulneráveis e a população exposta a toda forma de discriminação e preconceito", disse.


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