O grupo foi reconhecido pelo comitê do Nobel “por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar através de testemunhos que as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas”

Prêmio
Nobel da Paz reaviva a memória do horror nuclear
16 de outubro de 2024

Laureada, a organização japonesa Nihon Hidankyo reúne sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki

Prêmio
Nobel da Paz reaviva a memória do horror nuclear

Laureada, a organização japonesa Nihon Hidankyo reúne sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki

16 de outubro de 2024

O grupo foi reconhecido pelo comitê do Nobel “por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar através de testemunhos que as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas”

 

Fabrício Marques | Pesquisa FAPESP – O Prêmio Nobel da Paz foi concedido no dia 11 de outubro à organização japonesa Nihon Hidankyo, movimento que luta pela abolição das armas nucleares criado há 68 anos por sobreviventes das explosões das bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. O grupo, denominado oficialmente Confederação Japonesa das Organizações de Vítimas das Bombas A e H, foi reconhecido pelo comitê do Nobel “por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar através de testemunhos que as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas” e vai receber o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões).

De acordo com o comitê norueguês, a mobilização dos hibakusha, como são conhecidas as cerca de 100 mil vítimas ainda vivas das explosões no Japão, representados pela organização, teve um papel importante para manter acesa a consciência sobre o horror causado pelas armas atômicas e a ajudar a transformar seu uso em um tabu nas últimas décadas. “Os hibakusha nos ajudam a descrever o indescritível, a pensar o impensável e a compreender a dor e o sofrimento incompreensíveis causados pelas armas nucleares”, disse Jorgen Watne Frydnes, presidente do comitê, ao anunciar o prêmio. “Por favor, acabem com as armas nucleares enquanto ainda estamos vivos”, reagiu o presidente da Nihon Hidankyo, Toshiyuki Mimaki, um sobrevivente da bomba de Hiroshima, de 81 anos de idade, logo após o anúncio da premiação.

As atividades da organização incluem a elaboração de campanhas educativas, apelos públicos e o envio de delegações a eventos de organizações internacionais, como as Nações Unidas, em defesa da assinatura de um acordo internacional que proíba o uso de armas nucleares e elimine os arsenais existentes.

Não é a primeira vez que a causa do desarmamento nuclear é homenageada pelo Comitê do Nobel. Em 2017, a Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares havia sido agraciada com o prêmio. Dessa vez, o reconhecimento ocorre a um ano do 80º aniversário do lançamento das bombas atômicas, pelos Estados Unidos, sobre Hiroshima e Nagasaki, que mataram mais de meio milhão de pessoas, 150 mil delas instantaneamente, e precipitaram a rendição dos japoneses na Segunda Guerra Mundial.

A Nihon Hidankyo já havia sido indicada para o Nobel da Paz em outras ocasiões, nos anos 1980 e 1990, mas sua premiação agora vem em um momento especialmente oportuno. O cientista político Kai Lehmann, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), observa que o comitê organizador do Nobel da Paz com alguma frequência reconhece pessoas e organizações que trabalham em temas emergentes na agenda internacional, como se tornou, em tempos recentes, a possibilidade de uso de armas atômicas. “As ameaças que a Rússia tem feito de usar armas nucleares contra a Ucrânia são uma sinalização de que o perigo não apenas ainda existe como está mais vivo hoje do que há 20 ou 30 anos”, afirma.

Segundo sua análise, os últimos anos foram marcados pela fragilização do regime internacional de não proliferação nuclear, a começar pela saída dos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump, do acordo internacional para limitar o programa nuclear iraniano e o abandono de tratados internacionais pelo líder russo Vladimir Putin. “Há, ainda, a instabilidade constante entre Índia e Paquistão, que são duas potências nucleares, e um conflito no Oriente Médio entre uma potência nuclear, Israel, e um país com programa nuclear, o Irã”, afirmou. A postura mais ofensiva da China em sua política internacional e a possibilidade de Trump voltar à presidência dos Estados Unidos sugerem que o problema pode piorar no curto prazo, segundo o cientista político.

“Em uma era em que sistemas de armas automatizados e a guerra impulsionada por inteligência artificial estão emergindo, o apelo da Nihon Hidankyo pelo desarmamento não é apenas histórico ‒ é uma mensagem crítica para o nosso futuro”, informou, em comunicado, o cientista político norueguês Henrik Urdal, diretor do Instituto de Pesquisas de Paz de Oslo, uma instituição privada norueguesa de estudos sobre conflitos. “O prêmio destaca a necessidade de cooperação global para afastar a humanidade de outra guerra mundial e rumo a uma paz global duradoura.”

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