Soldados brasileiros investigam desmatamento no Pará, em 2009 (foto: Antonia Scorza/AFP/Getty)”.

Mundo deve seguir exemplo brasileiro de proteção de florestas, diz Nature
08 de abril de 2015

Editorial da revista Nature destacou iniciativas brasileiras bem-sucedidas no combate ao desmatamento na Amazônia como exemplos para outros países em desenvolvimento

Mundo deve seguir exemplo brasileiro de proteção de florestas, diz Nature

Editorial da revista Nature destacou iniciativas brasileiras bem-sucedidas no combate ao desmatamento na Amazônia como exemplos para outros países em desenvolvimento

08 de abril de 2015

Soldados brasileiros investigam desmatamento no Pará, em 2009 (foto: Antonia Scorza/AFP/Getty)”.

 

Agência FAPESP – O editorial da edição de 2 de abril da revista Nature destacou ações de proteção e recuperação de florestas do Brasil como exemplos a serem seguidos por outros países em desenvolvimento.

A publicação apresentou uma série de medidas tomadas pelo país para diminuir o desmatamento, que já dava sinais de recuo há uma década – de acordo com o editorial, atribuído inicialmente à diminuição da atividade agrícola entre 2005 e 2006. A surpresa veio com os baixos índices de desmatamento registrados mesmo com a melhora do setor produtivo nos anos seguintes.

“A suposição era que os agricultores e pecuaristas em breve voltariam aos seus velhos hábitos. Mas eles não o fizeram. A produção se recuperou e cresceu, enquanto a taxa de desmatamento continuou a cair. O Brasil provou aos céticos que estavam errados e, ao fazê-lo, mudou a conversa global sobre florestas, alimentos e desenvolvimento rural”, afirma a Nature.

De acordo com a revista, que traz também um artigo sobre diversos esforços governamentais, da iniciativa privada e da comunidade científica pela proteção da Amazônia, pesquisadores ainda estudam as relações de causa e efeito que teriam levado à diminuição do desmatamento mesmo com a retomada do aumento da produção.

“A queda no desmatamento se deve a uma série de fatores, incluindo políticas governamentais e esforços corporativos para pôr em ordem as cadeias de carne bovina e de fornecimento de soja. Acadêmicos ainda estão dissecando a causa e efeito, tentando entender o que funcionou e como ajudar outros países a seguir o exemplo.”

Para a revista, o primeiro fator importante é que, “em 2004, o governo brasileiro decidiu levar o assunto a sério, aproveitando seu sistema de localização por satélite (...) para promover fiscalização contínua em áreas onde o desmatamento era galopante”.

Também é destacado o combate à corrupção dentro das fileiras de aplicação e fiscalização da legislação ambiental, com medidas como o revezamento das equipes das agências entre as regiões para evitar relações de longo prazo, que facilitariam tentativas de suborno.

Foram designadas ainda novas terras públicas de proteção permanente, e bancos que oferecem empréstimos agrícolas aumentaram a pressão sobre os governos locais, que, por sua vez, intensificaram suas próprias campanhas contra o desmatamento.

Esforços conjuntos

“Mas o governo não agiu sozinho”, destaca o editorial. Utilizando dados de satélite disponíveis publicamente, grupos ambientais teriam “colocado um holofote sobre as corporações internacionais de comércio de carne e soja”.

“A maioria dos principais envolvidos em ambas as indústrias cedeu à pressão da opinião pública e de acordos para impedir a compra de produtos de terras recentemente desmatadas. Pesquisas sugerem que essas e outras medidas estão mudando a forma como agem os proprietários das terras”, diz o editorial.

Essas e outras medidas levaram o Brasil, de acordo com a Nature, a dispor de um arsenal de ferramentas que outros países podem utilizar para avaliar como minimizar o desmatamento em seus territórios. Mas os próximos desafios seriam menos claros.

Isso porque, pondera o editorial, não há uma receita simples para o desenvolvimento rural sustentável, e derrubar florestas continua a ser um assunto rentável entre os especuladores de terra. “A solução desses problemas exigirá um esforço extra, bem como dinheiro, e isso numa época em que o Brasil está lutando para evitar a franca recessão.”

Nesse sentido, a revista trata ainda da criação do mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD, na sigla em inglês), surgido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

A ideia é compensar financeiramente países em desenvolvimento que reduzam a emissão de gases de efeito estufa oriunda de desmatamento de florestas tropicais. Segundo a Nature, a Noruega já se comprometeu com US$ 1 bilhão para iniciativas brasileiras nesse sentido.

“Novos investimentos, particularmente do setor privado, são necessários. O Brasil ainda está escrevendo sua história na Amazônia, mas sua experiência mostra potencial para progresso rápido (...) e traz lições para ativistas, empresas e governos. A principal delas é unir os três. É uma dança complicada, mas o mundo deve aprender”, afirma o editorial.

A revista lembra ainda que, em 2014, vários países assinaram a Declaração de Nova York sobre Florestas, que apela à redução do desmatamento pela metade até 2020 e à erradicação da prática até 2030. O documento também pede a restauração de 350 milhões de hectares de florestas e outras paisagens até 2030.

O texto, no entanto, não diz que apenas 30 dos 130 países participantes da Cúpula do Clima 2014 da Organização das Nações Unidas (ONU) assinaram o documento. O Brasil não foi um dos signatários. À época, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, explicou que o país não aderiu porque não foi chamado a participar da elaboração da declaração, cujos termos poderiam colidir com as leis nacionais que controlam o desflorestamento na Amazônia e em outras florestas brasileiras.

A íntegra do texto pode ser lida em www.nature.com/news/tree-cheers-1.17229, e o artigo que trata em detalhes das iniciativas brasileiras contra o desmatamento na Amazônia está disponível em www.nature.com/news/stopping-deforestation-battle-for-the-amazon-1.17223.

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