Mudança de hábitat
26 de junho de 2006

Com o aumento do desmatamento próximo às cidades, morcegos hematófogos viram problema de saúde pública, alerta pesquisador da Fiocruz. No Recife, 20 pessoas foram mordidas em 13 dias

Mudança de hábitat

Com o aumento do desmatamento próximo às cidades, morcegos hematófogos viram problema de saúde pública, alerta pesquisador da Fiocruz. No Recife, 20 pessoas foram mordidas em 13 dias

26 de junho de 2006

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - A cena tem se tornado freqüente em áreas urbanas brasileiras. Por causa da destruição de seus hábitats naturais os morcegos, que costumam viver em áreas rurais próximas às cidades, têm se adaptado ao espaço urbano e passado a viver em casas e galpões abandonados. A conseqüência imediata desse processo é o aumento no número de ataques a animais e a humanos nas cidades.

Em Pernambuco, o primeiro registro de ataque em animais foi feito no fim de 2004, em Olinda, que integra a região metropolitana do Recife. Desde então a situação tem piorado, segundo o médico veterinário Filipe Dantas Torres, pesquisador em saúde pública do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No primeiro caso, que ganhou repercussão local, um cão da raça doberman pinscher foi atacado por um morcego vampiro da espécie Desmodus rotundus. Torres publicou um artigo científico sobre o caso na Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. Segundo o pesquisador, o maior problema é que, com a migração para as áreas urbanas, esse tipo de morcego hematófago (que se alimenta de sangue) começou, recentemente, a atacar também humanos.

"O morcego Desmodus rotundus é atualmente o principal transmissor da raiva em áreas rurais, principalmente entre animais de grande porte, como bovinos", disse Torres à Agência FAPESP. "Os primeiros ataques a humanos em Pernambuco ocorreram em março deste ano. Vinte ataques foram registrados no bairro da Imbiribeira, no Recife, em apenas 13 dias", explica. Os casos foram registrados pelo Centro de Vigilância Animal (CVA) da prefeitura do Recife.

O pesquisador explica que a raiva humana pode ser transmitida de duas maneiras: o morcego infecta o cão, que por sua vez transmite a doença ao homem, ou o morcego ataca diretamente o homem. Segundo informações do Ministério da Saúde, o Desmodus rotundus é considerado atualmente o principal responsável pela transmissão da raiva entre animais e a segunda entre humanos, perdendo apenas para o próprio cão.

"Os ataques de morcegos hematófagos em áreas urbanas vêm se tornando cada vez mais comuns em todo o país. O que mais preocupa é que em muitas cidades, como Olinda, não existem equipes de saúde responsáveis pela captura e controle sistemático desse tipo de animal", alerta o especialista. A raiva é uma doença fatal provocada pelo vírus do gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae.

O artigo Primeiro registro de Desmodus rotundus na área urbana da cidade de Olinda, Pernambuco, Nordeste do Brasil: relato de caso, publicado na Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, está disponível na biblioteca eletrônica SciELO (Bireme/FAPESP). Para ler o texto na íntegra, clique aqui.


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