Para Sérgio Danilo Pena, da UFMG, obras-primas da música podem ajudar a entender conceitos atuais da genética (foto: E.Geraque)

Mozart, o geneticista
09 de setembro de 2005

Para Sérgio Danilo Pena, da UFMG, obras-primas da música podem ajudar a entender conceitos atuais da genética e evitar equívocos de uma sociobiologia popular, como a idéia de que a infidelidade feminina tem base biológica

Mozart, o geneticista

Para Sérgio Danilo Pena, da UFMG, obras-primas da música podem ajudar a entender conceitos atuais da genética e evitar equívocos de uma sociobiologia popular, como a idéia de que a infidelidade feminina tem base biológica

09 de setembro de 2005

Para Sérgio Danilo Pena, da UFMG, obras-primas da música podem ajudar a entender conceitos atuais da genética (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, da Águas de Lindóia

Agência FAPESP - A polêmica ópera Così fan tutte, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), pode ser perfeitamente evocada para explicar a visão determinista que existe no meio dos geneticistas nos dias atuais. Pelo menos esse é o pensamento de Sérgio Danilo Pena, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Em conferência realizada no primeiro dia do Congresso Brasileiro de Genética, em Águas de Lindóia (SP), o geneticista fez alusão a obras do compositor, que ele classifica de sublime, para explicar alguns conceitos genéticos.

No caso de "Assim fazem todas", no título em português, o mote da obra é a traição feminina. Para os autores – o libretista Lorenzo da Ponte também participou da criação da ópera, que estreou em 1790 –, as mulheres costumam agir de forma idêntica: elas traem.

"A visão central da obra de Mozart faz emergir a questão da visão determinista", disse Pena. Segundo ele, o estudo do determinismo genético no comportamento humano normalmente vem carregado de um ponto de vista perigoso. Para o pesquisador, estudos como os que tentaram provar a infidelidade feminina a partir de provas biológicas devem ser classificados como bobagem.

O mesmo raciocínio vale para as pesquisas que tentam defender a tese de que existe um gene que faz o ser humano ter necessidade de acreditar em Deus, ou para estudos que imaginam que o homem já nasça criminoso.

"Todas essas questões ocorrem sem contar o fator do ambiente sobre a genética. O grande problema hoje é que se olha para os genes como um conjunto de caracteres, e não como um todo", disse o geneticista à Agência FAPESP.

Além disso, para Pena, em muitas situações está ocorrendo ou uma hipervalorização da genética ou uma hipersimplificação. "Nesses dois casos é que entra a questão ambiental", afirma. O próprio Mozart encerra essas visões. "Ele era um gênio da música e, ao mesmo tempo, desenvolveu um problema grave de comportamento. Ele podia estar falando com você, mas parar de falar e sair dando cambalhotas", disse.

Uma das suspeitas, explica Pena, é que o compositor austríaco sofria da chamada síndrome de Gillet de La Touret. "Independentemente disso, no todo, o importante é que Mozart fez a música mais sublime que a humanidade já viu. Será que sem o comportamento socialmente inadequado a produção seria a mesma?", indaga, desconfiado, o pesquisador.


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