Movimentos necessários
21 de julho de 2008

Segundo especialistas, a mobilidade acadêmica, apesar de pouco praticada no Brasil, é fundamental para acelerar o desenvolvimento e descentralizar a atividade científica

Movimentos necessários

Segundo especialistas, a mobilidade acadêmica, apesar de pouco praticada no Brasil, é fundamental para acelerar o desenvolvimento e descentralizar a atividade científica

21 de julho de 2008

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Tradicionalmente, no Brasil, são as instituições públicas de ensino que incentivam a mobilidade acadêmica entre estudantes para a troca de experiências, apesar de cerca de 80% deles estarem em universidades privadas que, na maioria dos casos, não contam com centros de pesquisa e laboratórios para a realização de pesquisas.

A tendência foi discutida durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na semana passada, em Campinas (SP).

“O aluno não aprende apenas com o professor, mas também convivendo em uma comunidade científica que lhe ensina com base inclusive em recursos tecnológicos e de internet que nós, professores, muitas vezes não temos domínio”, disse Maria Clotilde Ferreira, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Clotilde defende a maior mobilidade dos estudantes para o avanço do conhecimento gerado na academia e fora dela. “Assim como andorinha sozinha não faz verão, cientista sozinho não faz pesquisa”, disse a psicóloga.

“O pesquisador deve sempre buscar uma maior flexibilidade para tentar trabalhar com suas pesquisas e também entender onde os resultados desses estudos poderão ser úteis, pensando na sociedade, nos projetos e programas de governo e na transferência de conhecimento para aplicações em empresas e indústrias. O acadêmico precisa sair da dimensão fechada de sua docência e pesquisa para começar a ampliar seu olhar”, afirmou.

Por outro lado, Clotilde mostrou-se extremamente preocupada com a questão da constituição da família como uma conseqüência negativa da mobilidade dos pesquisadores, uma vez que as pós-graduandas de todo o país estariam, segundo ela, adiando cada vez mais a maternidade. Ela também defendeu uma maior mobilidade social e empresarial da comunidade acadêmica.

Desconcentração científica

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, também destacou o papel da mobilidade acadêmica para o progresso da ciência. “A ciência é um ato social, feito em constante comunicação com o outro, o que pode ocorrer em um almoço ou com a leitura de um artigo científico. A mobilidade tem papel fundamental para essa comunicação”, destacou.

Para ele, a mobilidade acadêmica, em suas várias formas, é pouco praticada no Brasil, seja quando um pesquisador muda de instituição ou quando apenas passa uma temporada em outra universidade para adquirir novos conhecimentos. “Essa é uma opção ainda pouco explorada para acelerar o progresso científico no país”, disse.

Considerando que no Brasil a atividade científica é distribuída de forma heterogênea, com poucas instituições fortes de pesquisa concentradas em alguns lugares no país, a idéia de mobilidade, segundo Brito Cruz, é mais necessária ainda quando o assunto é promover a desconcentração da atividade científica.

“A mobilidade se torna mais importante quando se considera que 75% dos doutores brasileiros são formados no Estado de São Paulo. Se a ciência quer chegar a outros lugares essas pessoas devem se mover, não por obrigação, mas por enxergarem condições de realização profissional em outras localidades”, apontou, lembrando também da importância de trazer cientistas de outros países que possam contribuir para as atividades de pesquisa brasileiras.

Brito Cruz destacou, nesse contexto, o que chamou de “apoio institucional e local” como fator preponderante para a mobilidade acadêmica, em especial no caso dos pesquisadores, que têm outro nível de compromissos sociais e profissionais, e levando em conta também que a lógica de funcionamento do ensino superior público e privado é completamente distinta.

“Uma das grandes restrições à mobilidade acadêmica no país se refere às questões relacionadas ao apoio institucional, que incluem toda a infra-estrutura para a pesquisa como a existência de pessoal qualificado e instalações físicas adequadas, e ao apoio local, que significa, por exemplo, a existência de uma fundação de amparo à pesquisa, que funcione no estado para o qual o cientista está se mudando. A falta desse tipo de apoio desestimula a mobilidade”, afirmou.

“Com exceção de algumas universidades públicas, as instituições de ensino e pesquisa brasileiras infelizmente ainda dão pouco valor e incentivo à mobilidade estudantil. Nós gostaríamos que os bolsistas e os jovens pesquisadores da FAPESP tivessem mais iniciativas nesse sentido para que a ciência feita no Brasil possa progredir melhor”, disse.


 

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