O epidemiologista Oswaldo Forattini, da USP
As transformações causadas pelo próprio homem e o comportamento dos mosquitos anofelíneos, transmissores de doenças como a malária e a dengue, formam um binômio perigoso que poderá trazer mais problemas de saúde pública para as zonas urbanas das várias regiões do mundo
As transformações causadas pelo próprio homem e o comportamento dos mosquitos anofelíneos, transmissores de doenças como a malária e a dengue, formam um binômio perigoso que poderá trazer mais problemas de saúde pública para as zonas urbanas das várias regiões do mundo
O epidemiologista Oswaldo Forattini, da USP
Agência FAPESP - O ano de 1999 registrou dados epidemiológicos importantes para os estudiosos da Saúde Pública. Em agosto daquele ano, um surto de encefalite, causado pelo vírus Nilo-Oeste, atingiu a população da cidade de Nova York. Em seis meses, 59 casos haviam sido registrados entre a população da maior cidade dos Estados Unidos. Neste universo, sete pessoas perderam a vida.
Independente da forma como a doença chegou à América, a ocorrência dessa arbovirose (doença causada por vírus, transmitida por artrópodos) traz à luz uma relação perversa. As condições encontradas pelos mosquitos transmissores da doença, o Culex pipiens e o Aedes vexans, foram as ideais. Esses invertebrados se sentiram praticamente em casa.
"A domiciliação dos mosquitos é um processo que ocorre também no Brasil, em cidades como São Paulo", disse Oswaldo Forattini, um dos grandes estudiosos brasileiros do processo de domiciliação de mosquitos da família Culidae. "Na Amazônia, por exemplo, o vetor da malária já existia. A população, quando migrou para lá, levou com ela o parasita que causa a doença", disse Forattini, que dedicou os últimos 50 anos, sempre na Faculdade de Saúde Pública da USP, a estudos epidemiológicos. Sobre o assunto, ele acaba de lançar um livro, de espectro amplo, com o título Ecologia, Epidemiologia e Sociedade. "É um livro direcionado para todo sanitarista. Nele, relaciono até epidemias com o genoma humano."
O pesquisador, formado em medicina e conhecedor da ecologia de doenças como a dengue e a malária, confessa não ter ficado surpreso quando a dengue voltou a atingir as cidades brasileiras. "Os chamados reservatórios, como as bromélias que as pessoas pagam para ter em casa, propiciaram o ambiente ideal para o desenvolvimento da epidemia", disse.
Editor científico da Revista de Saúde Pública e vice-presidente da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), Forattini, diz que o problema, no caso do controle das epidemias, seja de dengue, de cólera ou de malária, está na área político. "A ciência, hoje, já tem informações suficientes para enfrentar as doenças", disse.
Se a reemergência de infecções nos últimos anos não surpreendeu o experiente cientista paulista, novas surpresas, não muito desagradáveis, podem voltar a ocorrer, em sua opinião. Surtos de encefalites, como o de Nova York, há quatro anos, estão sempre rondando as cidades, inclusive as brasileiras.
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