Professor titular aposentado da USP, publicou mais de 35 livros sobre a história da ciência, tecnologia e inovação no Brasil (foto: IEA/USP)

Morreu o historiador Shozo Motoyama
29 de janeiro de 2021

Professor titular aposentado da USP, publicou mais de 35 livros sobre a história da ciência, tecnologia e inovação no Brasil

Morreu o historiador Shozo Motoyama

Professor titular aposentado da USP, publicou mais de 35 livros sobre a história da ciência, tecnologia e inovação no Brasil

29 de janeiro de 2021

Professor titular aposentado da USP, publicou mais de 35 livros sobre a história da ciência, tecnologia e inovação no Brasil (foto: IEA/USP)

 

Agência FAPESP – O historiador Shozo Motoyama faleceu em 26 de janeiro, aos 81 anos. Professor titular aposentado de História da Ciência do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), era casado com Julia Mizuno Motoyama e deixa dois filhos e três netos.

Filho de um matemático imigrante do Japão – e com acesso a uma “biblioteca enorme” em japonês –, Shozo formou-se em Física pela USP (1967) e iniciou sua carreira acadêmica orientado por Mário Schenberg, num trabalho sobre os fundamentos da mecânica quântica.

Ficou precocemente “órfão de pai”, como ele dizia, quando Schenberg foi cassado pelo AI-5, em 1968. Foi então contratado pelo recém-formado Instituto de Física e concluiu o doutorado em Ciências (1971) com uma tese sobre Galileu Galilei e a lógica do desenvolvimento científico. A Física ainda estava em seu foco de interesse quando fez pós-doutorado no Science and Engineering Laboratory da Waseda University e no Cosmic Ray Laboratory da University of Tokyo (1975), no Japão.

Em entrevista publicada em Cadernos de História da Ciência, em 2010, Shozo credita a Schenberg a paixão pela filosofia e pela história que o levariam a mudar definitivamente sua trajetória de pesquisa para a história da ciência em meados dos anos 1970.

Desde então, ocupou os cargos de coordenador do Núcleo de História da Ciência e Tecnologia no Brasil da Unesco (1980-1983), secretário-geral da Sociedade Brasileira de História da Ciência (1982-1988) e diretor do Centro Interunidade de História da Ciência da USP (1988-2009).

Publicou e organizou, junto com Amélia Hamburger, Marilda Nagamini, entre outros colaboradores, mais de 35 livros, entre eles FAPESP - Uma História de Política Científica e Tecnológica (1999), Para uma história da FAPESP: marcos documentais,  FAPESP 50 Anos: Meio Século de Ciência (2015), além de 50 anos do CNPq contados pelos seus presidentes (2002) – todos editados pela FAPESP – e USP 70 Anos - Imagens de uma história vivida (2006), publicado pela Edusp. Assinou também mais de meia centena da capítulos em livros sobre a história da ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

“O professor Shozo foi, entre nós, um desbravador da história da ciência e da tecnologia, campo do conhecimento de grande relevância, que ensejou a convergência do passado e do futuro. Preserva a memória das realizações. Oferece lições para os caminhos da recorrente necessidade da consolidação da endless frontier da ciência”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP entre 2007 e 2015. “É muito significativa a sua contribuição para a história da FAPESP, que se desdobrou no tempo e resultou em vários volumes. Entre eles o FAPESP 50 anos: Meio Século de Ciência, que me deu a oportunidade de muito interagir com o professor Shozo e apreciar os seus méritos.”

“O professor Shozo foi uma das principais referências em história da ciência e da técnica no Brasil”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP entre 2005 e abril de 2020, período em que a maioria dos estudos do historiador sobre a Fundação foi produzida. “Ele liderou, junto com Amélia Hamburguer e Marilda Nagamini, o trabalho sobre a história da FAPESP que muito me ajudou a conhecer os debates que fundaram a instituição, e que ainda me ajuda".

Shozo entendia que a história das instituições contava também a história da ciência e da tecnologia e lançava luz sobre o futuro. “Estudar a questão da FAPESP é estudar a história da política científica e tecnológica no Brasil; estudar a questão da USP engloba tudo”, afirmou na entrevista a Cadernos de História da Ciência. “Se nós conseguirmos fazer uma sociedade desenvolvida capaz de se sustentar, e que não tenha muita miséria, acho que essas coisas [baixa capacidade tecnológica do país] serão superadas”, disse em 2010.

“Ele foi um exemplo no diálogo interdisciplinar com muitas instituições”, disse Francisco Assis de Queiroz, professor de História da Ciência do Departamento de História da FFLCH da USP, ex-orientando de Shozo e seu colaborador na elaboração da Linha do Tempo da FAPESP, que resgata a história e a memória da Fundação. “Shozo teve uma participação importante na valorização das variáveis ciência e tecnologia para a compreensão da História, oferecendo elementos para a reflexão sobre a política científica e tecnológica.”

Filho de imigrantes, Shozo nunca se afastou de suas origens. Em 2011, publicou o livro Sob o Signo do Sol Levante, sobre a história da imigração japonesa até o advento da Segunda Guerra Mundial, e, em 2016, junto com o jornalista Jorge Okubaro, lançou Do Conflito à Integração – Uma História da Imigração Japonesa no Brasil, abordando a história da imigração japonesa de 1941 até 2008. Foi diretor do Museu Histórico de Imigração Japonesa no Brasil (1991-1997; 2008-2009) e, em 2004, presidiu o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros.

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