Referência para a física brasileira, ele associou a pesquisa básica ao empreendedorismo para desenvolver sensor não invasivo capaz de monitorar a pressão intracraniana (foto: Miguel Boyayan/Pesquisa FAPESP)
Referência para a física brasileira, ele associou a pesquisa básica ao empreendedorismo para desenvolver sensor não invasivo capaz de monitorar a pressão intracraniana
Referência para a física brasileira, ele associou a pesquisa básica ao empreendedorismo para desenvolver sensor não invasivo capaz de monitorar a pressão intracraniana
Referência para a física brasileira, ele associou a pesquisa básica ao empreendedorismo para desenvolver sensor não invasivo capaz de monitorar a pressão intracraniana (foto: Miguel Boyayan/Pesquisa FAPESP)
Agência FAPESP – Sérgio Mascarenhas, professor e pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), morreu na segunda-feira (31/05), aos 93 anos de idade.
“O Brasil perdeu um excepcional educador e cientista, que participou diretamente na fundação de várias instituições e apoiou a criação de várias outras. Uma delas foi Departamento de Física da UFPE [Universidade Federal de Pernambuco], que teve o seu apoio desde o momento inicial, quando ele era Conselheiro do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Sou particularmente grato a ele, pois foi quem me convenceu a vir para o Recife há 50 anos e desde então nos apoiou de várias formas. Ele me disse que eu tinha uma oportunidade histórica! Achei que a frase era fantasiosa, mas ele tinha toda razão”, escreveu o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Mascarenhas sempre pensou na pesquisa como um empreendimento colaborativo e adorava compartilhar ideias e trabalhar com equipes de jovens. Ele tinha uma virtude muito importante: procurava ver nas pessoas suas qualidades, enquanto relevava os defeitos. Por estas e outras razões, deixará muitas saudades em tod@s que com ele conviveram. Querido Mascarenhas, você nos deixou presencialmente, mas seus exemplos e seus ensinamentos ficarão conosco. Muito obrigado”, acrescentou.
Mascarenhas fundou e dirigiu o Instituto de Física e Química (IFQSC-USP), o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária em São Carlos – hoje Embrapa Instrumentação –, implantou o primeiro curso de engenharia de materiais na recém-criada Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e foi um dos fundadores da Fundação de Pesquisas Adib Jatene, no Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, e do Programa Internacional de Estudos e Projetos para a América Latina no Instituto de Estudos Avançados da USP em São Carlos.
"Estamos em profunda tristeza, perdemos um de nossos membros mais expressivos, responsável por grandes avanços da física brasileira. Incansável e desbravador, propôs ideias e elevou a ciência brasileira por meio de seus feitos e relacionamentos com o exterior. Formou inúmeras pessoas que acabaram sendo fundamentais no desenvolvimento do país”, escreveu Vanderlei Bagnato, diretor do IFSC-USP.
Mascarenhas graduou-se em física na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1952) e em química na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1951). Em 1956, instalou-se definitivamente em São Carlos. Entre 1959 e 1980, acumulou quatro pós-doutorados: na Carnegie Mellon University, na Princeton University e na Harvard University, nos Estados Unidos, e na University of London, no Reino Unido.
Foi professor visitante na Universidade Nacional Autônoma e no Centro de Estudios Avanzados, ambos no México; no Institute of Physical and Chemical Research, do Japão; na London University (Reino Unido); e no International Center for Theoretical Physics, em Trieste, e na Universidade de Roma, ambas na Itália.
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), recebeu, ao longo da carreira, diversos prêmios, como a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2002) e o Troféu José Pelúcio Ferreira (2006), conferido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outros.
"Sérgio Mascarenhas teve um grande e permanente impacto sobre a vida da cidade de São Carlos e sobre as duas entidades acadêmicas de sucesso que ali se desenvolveram: o campus da USP, onde participou da criação da Faculdade de Engenharia e, a seguir, do Instituto de Física, e a Universidade Federal de São Carlos. Foi uma referência para a pesquisa básica no país e, ao mesmo tempo, associou esse conhecimento à tecnologia e ao empreendedorismo para desenvolver soluções para desafios na área da medicina e melhorar a vida das pessoas”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Em 2006, depois de ter sido diagnosticado com hidrocefalia, Mascarenhas desenvolveu um sensor não invasivo para monitorar a pressão intracraniana. “Eu não me conformava que, em pleno século 21, ainda fosse preciso fazer um furo na cabeça para medir a pressão intracraniana”, recordou em entrevista à revista Pesquisa FAPESP.
O desenvolvimento teve a parceria de pesquisadores de diversas instituições, como as faculdades de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da USP de Ribeirão Preto, além de médicos do Hospital São João, da Universidade do Porto, em Portugal.
Em 2014, em parceria com o farmacêutico-bioquímico Gustavo Frigieri Vilela, que foi seu aluno de doutorado na USP de São Carlos, e o engenheiro Rodrigo Andrade, Mascarenhas criou a startup Brain4care para produzir o dispositivo. A empresa hoje tem escritórios próprios no Brasil e nos Estados Unidos e realiza pesquisas no Brasil, Estados Unidos, Portugal e Bruxelas.
“Sérgio – a gente o tratava assim, carinhosamente – foi um grande cientista, visionário e eficiente diplomata. Eu devo minha carreira e emprego a ele, criador do primeiro curso de engenharia de materiais na UFSCar, onde me graduei, e do IFSC-USP, onde cursei o mestrado”, comentou Edgar Dutra Zanotto, coordenador do Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação em Vidros (CeRTEV) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na UFSCar.
Em 2020, estava preocupado com a situação da ciência no país. “Dizer, como estão dizendo atualmente, que o Brasil não precisa de ciência básica é não conhecer nada da evolução da humanidade. Da pesquisa básica nasce a ciência aplicada. O Brasil, se não for pelo caminho da ciência, da computação, da inteligência artificial, da robótica, nanotecnologia, vai ficar cada vez mais colonizado pela tecnologia alheia […] O caminho para o desenvolvimento passa pela tecnologia, educação e empreendedorismo”.
* Vídeo produzido pela Brain4care.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.