Em 1998, Candotti recebeu o Prêmio Kalinga, da Unesco, conferido a pessoas ou entidades que, pelas contribuições significativas na popularização científica, "contribuíram para reduzir a distância entre a ciência e a sociedade"

Obituário
Morre o físico Ennio Candotti, diretor-geral do Museu da Amazônia
08 de dezembro de 2023

Ele presidiu a SBPC e foi um dos criadores da revista Ciência Hoje

Obituário
Morre o físico Ennio Candotti, diretor-geral do Museu da Amazônia

Ele presidiu a SBPC e foi um dos criadores da revista Ciência Hoje

08 de dezembro de 2023

Em 1998, Candotti recebeu o Prêmio Kalinga, da Unesco, conferido a pessoas ou entidades que, pelas contribuições significativas na popularização científica, "contribuíram para reduzir a distância entre a ciência e a sociedade"

 

Agência FAPESP – O físico Ennio Candotti, fundador e diretor-geral do Museu da Amazônia (Musa), morreu na quarta-feira (06/12), aos 81 anos. O velório será hoje, das 9 às 15h, no Musa.

Candotti presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 1989 a 1993 e de 2003 a 2007. Em 1982, Candotti participou da criação das revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, editadas pelo Instituto Ciência Hoje, e em 1988 esteve na Argentina implantando a revista Ciencia Hoy, que até hoje trabalha em parceria com a edição brasileira.

Nascido na Itália, Ennio Candotti emigrou para São Paulo em 1951. Formou-se em física pela Universidade de São Paulo (USP) em 1964. Em 1965, foi para a Europa, onde se especializou em física e matemática. Em 1974, voltou ao Brasil para dar aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 1974 a 1996, e na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Em 1998, Candotti recebeu o Prêmio Kalinga, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), conferido a pessoas ou entidades que, pelas contribuições significativas na popularização científica, "contribuíram para reduzir a distância entre a ciência e a sociedade".

A ideia de criar um museu na floresta surgiu em 2007, em Belém, quando ele presidia a SBPC. O Musa foi fundado dois anos depois, num pedaço da Reserva Florestal Adolpho Ducke. O museu recebeu, em 2013 e 2014, verba do Fundo Amazônia, o que possibilitou a construção de laboratórios, trilhas e uma torre de observação de 42 metros.

A SBPC lamentou, em nota, o falecimento de Candotti. “Nos anos 1970, Candotti foi importante figura contra as políticas nucleares do governo Geisel (1974-1979). Por conta de seu ativismo político e científico, conheceu a SBPC. Foi a única pessoa a ser eleita quatro vezes para presidir a SBPC, com mandatos exercidos entre os anos de 1989 e 2007. Apaixonado pela Amazônia, sempre defendeu que o Brasil nunca será uma nação desenvolvida se não colocar a preservação ambiental como uma de suas prioridades”, afirma a nota.

“A perda de Ennio Candotti é um choque tremendo para todos nós. Ennio se destacou no começo dos anos 1990 quando, presidente pela primeira vez da SBPC, conduziu a comunidade científica na luta pelo impeachment de um presidente acusado de corrupção. Mais tarde, em 2003, foi novamente eleito para dirigir nossa sociedade. Seu papel na luta pela educação e divulgação científica foi notável, deixando como outro legado a revista Ciência Hoje e um sem-número de projetos e iniciativas que sempre prestigiou”, destaca o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro.

Helena Nader, presidente de honra da SBPC, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e membro do Conselho Superior da FAPESP, salientou o papel de Candotti nas lutas pela melhoria do país. “Mais que um revolucionário, ele contribuiu para a valorização da educação e da divulgação científica. Ennio também era um lutador pela democracia. Um amigo para sempre.”

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) destacou o compromisso de Ennio para o desenvolvimento da ciência no país. “O professor Ennio Candotti foi uma figura ímpar, reconhecida por seu conhecimento e contribuições notáveis para o avanço da ciência no Brasil. Sua atuação em prol das questões amazônicas foi incansável ao longo de 15 anos, sendo um defensor apaixonado pelo estudo e preservação da biodiversidade da região”, diz a nota do Inpa. “A comunidade científica perde um grande líder, mas suas ideias e realizações continuarão a inspirar futuras gerações de pesquisadores.”

“Para mim ele era um grande herói da ciência brasileira, muito inteligente, interessado em tudo, sempre procurando meios de promover boa ciência e sua divulgação. Teve um impacto imenso aqui na Amazônia, especialmente nestes últimos anos, como a cabeça e força atrás do Musa”, disse Mike Hopkins, pesquisador do Inpa.

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