Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país (foto: arq.pessoal)

Morre Imre Simon, pioneiro da computação
14 de agosto de 2009

Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país

Morre Imre Simon, pioneiro da computação

Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país

14 de agosto de 2009

Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país (foto: arq.pessoal)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Imre Simon, professor titular aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP), morreu na noite de quarta-feira (12/8), em sua residência na capital paulista, em decorrência de um câncer de pulmão.

Simon foi um dos pioneiros e um dos mais importantes líderes na área de ciência da computação no país, com enorme contribuição científica. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e foi um dos idealizadores do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

O velório será realizado no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, no próximo domingo (16/8), a partir das 9 horas da manhã. O professor completaria 66 anos nesta sexta-feira (14/8). O cemitério fica na Avenida Engenheiro Heitor Eiras Garcia, nº 5.530.

“O professor Imre deu insubstituível contribuição para o desenvolvimento científico no Brasil. Sua participação foi fundamental no estabelecimento da ciência da computação. Ele sempre colaborou intensamente com a FAPESP e suas ideias moldaram programas da Fundação. Sentiremos sua falta”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Simon nasceu em 14 de agosto de 1943, em Budapeste, na Hungria, região na qual passou os 13 primeiros anos de sua vida, quando a grave situação política no país levou sua família a emigrar para o Brasil.

Em 1962, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde teve sua primeira experiência com computadores, um IBM 1620, e, juntamente com outros estudantes de sua geração, entre eles Tomasz Kowaltowski e Claudio Lucchesi, atuou no Centro de Computação da USP.

“Somos amigos há quase 50 anos, fomos colegas de faculdade, estudamos e trabalhamos juntos durante todo esse tempo. Fizemos parte da primeira turma de estagiários do Centro de Computação da USP”, disse Tomasz Kowaltowski, professor aposentado do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“O professor Simon foi um dos primeiros cientistas da computação no Brasil e talvez tenha sido a pessoa que mais contribuiu para o estabelecimento dos programas de graduação e pós-graduação da USP. Ele é muito conhecido internacionalmente por suas contribuições científicas em teoria algébrica dos autômatos finitos, com resultados pioneiros e importantes até hoje. Foi um pesquisador brilhante”, destacou Kowaltowski.

Simon e colegas desenvolveram, em 1965, o primeiro exame vestibular computadorizado do país para o ingresso nas escolas médicas do Estado de São Paulo. Em 1967 foi convidado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, para escrever um programa de computador que estimasse a taxa de inflação do Brasil.

Depois de ter se formado em engenharia eletrônica em 1966 na Poli-USP, em 1969 Simon ganhou uma bolsa da FAPESP para fazer doutoramento na Universidade de Waterloo, no Canadá. Em 1972, completou sua tese, intitulada Hierarchies of Events with Dot-Depth One, com orientação do professor Janusz Brzozowski.

Após o doutoramento, retornou ao Brasil para se tornar professor do IME-USP, onde permaneceu até recentemente. Em 2005, foi homenageado em edição especial da revista Rairo – Theoretical Informatics and Applications (vol.39 – nº1), publicada com apoio do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, que destacou a importante contribuição científica do pesquisador.

Com o título Imre Simon, o cientista da computação tropical, a publicação apresentou diversos artigos escritos por colegas e ex-alunos do professor e prestou um tributo a um dos maiores nomes da ciência da computação mundial.

Yoshiko Wakabayashi, professora titular do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP que assina o prefácio da publicação, lamentou profundamente a perda, lembrando que a influência de Simon na área de ciência da computação tem destaque mundial.

“Além de um grande pesquisador, foi um professor excepcional. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir suas aulas puderam não só aprender o que ele expunha, mas também aprender como expor”, disse.

Segundo ela, Simon teve um papel fundamental no estabelecimento de uma escola forte na área de ciência da computação no país, na criação do curso de bacharelado de Ciência da Computação e também na formação do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP.

Yoshiko lembra um episódio ocorrido em julho, durante a conferência “Developments in Language Theory”, em Stuttgart, Alemanha, quando um dos palestrantes convidados, o polonês Mikolaj Bojanczyk, proferiu palestra intitulada “Factorization Forests”, um dos objetos de pesquisa do professor Imre que teve grande impacto na teoria dos autômatos.

“Essa palestra foi um dos pontos altos da conferência e nela ficou novamente evidenciado quão profundas e de impacto foram as contribuições do professor Simon. É com muita honra e orgulho que faço esse relato. Mais recentemente, ele passou a se dedicar à tecnologia da informação, tendo várias contribuições marcantes nessa área”, disse.

Pioneiro da computação

Claudia Bauzer Medeiros, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), conheceu o professor Simon ao ser contratada na Unicamp, em meados dos anos 1980. “Desde então, a cada novo encontro ele me encantava. Uma pessoa maravilhosa, uma voz imponente, alguém que fará muita falta a todos nós”, disse.

Claudia também ressalta que Simon foi um dos pioneiros da computação no Brasil, ajudando a criar e consolidar linhas de pesquisa, cursos e departamentos da área.

“Sua personalidade e forma de trabalho lhe angariou admiradores e seguidores por todo o país. Pesquisador dedicado, educador apaixonado e uma figura humana fantástica. Um batalhador incansável pelas causas que abraçava”, disse.

A também professora do Instituto de Computação da Unicamp e membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP lembra-se de um dos inúmeros prêmios recebidos por Simon, o Mérito Científico da SBC, em 2006.

“Eu coordenei a comissão que avaliou as indicações para concessão daquele prêmio e os depoimentos apoiando o seu nome vieram de todo o Brasil, dando testemunho da variedade de atividades do professor e de como seu trabalho atingia a comunidade de pesquisa brasileira das formas mais diversas”, disse.

Além de suas atividades científicas, Simon ocupou vários cargos administrativos, tendo sido, entre outros, presidente da comissão central sobre informática da USP, membro da comissão de coordenação do Programa Tidia e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, além de ter recebido inúmeros prêmios e distinções.

Em 1979, recebeu o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas e, em 1989, foi premiado pela Union des Assurances de Paris (UAP), na França. Em 1996 foi honrado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, na seção de Ciências.

Em 1980 tornou-se membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e, em 1981, membro titular da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Matemáticas.

A edição especial da Rairo em homenagem a Imre Simon pode ser lida em www.edpsciences.org/ita.

 

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