Professor emérito da Unifesp, ele foi pioneiro no estudo da psicofarmacologia, tendo mais de 50 anos de pesquisa na área (foto: Eduardo César/Pesquisa FAPESP)
Professor emérito da Unifesp, ele foi pioneiro na área de psicofarmacologia, tendo mais de 50 anos de pesquisa na área
Professor emérito da Unifesp, ele foi pioneiro na área de psicofarmacologia, tendo mais de 50 anos de pesquisa na área
Professor emérito da Unifesp, ele foi pioneiro no estudo da psicofarmacologia, tendo mais de 50 anos de pesquisa na área (foto: Eduardo César/Pesquisa FAPESP)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Faleceu nesta quarta-feira (16/09), aos 91 anos, o professor Elisaldo Luiz de Araujo Carlini. Médico e um dos maiores especialistas em entorpecentes no Brasil, ele foi fundador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
Professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), Carlini foi pioneiro no estudo da psicofarmacologia, tendo mais de 50 anos de pesquisa na área.
“As contribuições do professor Carlini transcendem a formação de inúmeras gerações de estudantes de medicina, de pós-graduandos e de professores em diferentes instituições de pesquisa no Brasil e no mundo”, lamentou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.
Mello destaca o papel transformador e questionador de Carlini. “Ele permitiu a criação de departamentos em uma dezena de universidades, gerou importantes contribuições na etnofarmacologia e é personagem central na presente e atualíssima discussão do uso medicinal do canabidiol. Perco uma fonte de inspiração sobre o que é ser cientista. Não trancado no laboratório, mas em diálogo constante com a sociedade”, disse.
“Sua carreira e trajetória como intelectual, cientista e militante pela legalização da maconha medicinal mostram a grandeza do professor Carlini, tendo vivido a pesquisa e a vida acadêmica em dedicação exclusiva até o último instante”, diz nota de Soraya Soubhi Smaili e Nelson Sass, respectivamente reitora e vice-reitora da UNIFESP.
Carlini começou a estudar psicofarmacologia, área que ajudou a difundir no Brasil nos anos 1960, após uma passagem de quatro anos pelos Estados Unidos, três deles na Universidade Yale. Desde então, o pesquisador continuou seus estudos sobre os efeitos da Cannabis sativa e de outras drogas em nível experimental durante toda a sua vida profissional.
“Além de pioneiro e uma inspiração constante para tantos pesquisadores, Carlini foi essencial para quebrar barreiras e ampliar o estudo de psicotrópicos no país. Hoje já sabemos dos efeitos benéficos do canabidiol para pacientes com epilepsia. A ação da Cannabis no controle das convulsões foi observada por ele, pela primeira vez, em modelo animal, em 1973”, afirmou Antonio Waldo Zuardi, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que foi aluno de Carlini na Escola Paulista de Medicina.
No Twitter, Stevens Rehen, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), lamentou a perda. “Elisaldo Carlini foi precursor das pesquisas sobre maconha medicinal. Publicou mais de 400 artigos científicos. Autor de trabalho pioneiro que descreveu o efeito terapêutico do canabidiol na epilepsia.”
“Visionário, revolucionário, corajoso, audacioso, fundou o Departamento de Psicobiologia e foi um dos idealizadores da criação da AFIP. Sempre a frente de seu tempo desenvolveu pesquisas inovadoras. Enérgico e ao mesmo tempo terno, sempre tinha uma palavra de estímulo e sua característica principal era a sinceridade e assertividade”, diz nota de pesar do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.
Carlini foi condecorado duas vezes pela Presidência da República por seu trabalho como pesquisador. No entanto, a despeito de todo o reconhecimento, tinha como frustração nunca ter sido ouvido com atenção pelas autoridades brasileiras para a criação de uma política pública para a Cannabis medicinal no país. Carlini chegou a ser intimado a depor por ser um dos organizadores do “5º Simpósio Internacional Maconha - Outros Saberes”, realizado em maio de 2018, em São Paulo.
Neste ano, a Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) criou uma petição para que o Projeto de Lei nº 399/2015, de regulamentação do cultivo de cannabis para uso medicinal e industrial no Brasil, receba o nome de Elisaldo Carlini.
Carlini formou-se em medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) em 1956. Foi professor do Departamento de Farmacologia, fundou o Departamento de Psicobiologia e foi membro do Departamento de Medicina Preventiva da EPM, tendo também contribuído para a formação do Instituto de Ciências Ambientais Químicas e Farmacêuticas, campus Diadema da Unifesp.
Até seu falecimento seguia atuando como orientador de mestrado e doutorado do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp.
Pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlini foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas.
Doutor honoris causa de várias universidades, dentro e fora do país, teve mandatos como membro do Expert Advisory Panel on Drug Dependence and Alcohol Problems, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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