A construção da estância hidromineral de Araxá (MG) nos anos 1930 foi inspirada nos modelos urbanísticos europeus daquela época

Modelo europeu
22 de dezembro de 2005

Abordagem das ações urbanísticas, paisagísticas e arquitetônicas em cidades como Araxá (MG) nos anos 1930 revela as qualidades – e limitações – dos grandes planos para a criação de estâncias hidrominerais no Brasil

Modelo europeu

Abordagem das ações urbanísticas, paisagísticas e arquitetônicas em cidades como Araxá (MG) nos anos 1930 revela as qualidades – e limitações – dos grandes planos para a criação de estâncias hidrominerais no Brasil

22 de dezembro de 2005

A construção da estância hidromineral de Araxá (MG) nos anos 1930 foi inspirada nos modelos urbanísticos europeus daquela época

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Na primeira metade do século passado, o sucesso dos banhos e das fontes termais chegou também ao Brasil. Incorporar essas atrações aos destinos turísticos nacionais passou também a ser cada vez mais um objetivo mercantil. Foi quando entraram em ação, portanto, os grandes expoentes do urbanismo e da arquitetura brasileira.

A lista passa por Ulhôa Cintra, que atuou em Águas da Prata (SP), Luís Saia, um dos responsáveis pelos projetos de Águas de Lindóia (SP) e Victor Duburgas, que trabalhou tanto em Poços de Caldas (MG) como no interior paulista. No caso da também mineira Araxá, Burle Marx foi quem assinou o paisagismo.

"Seguindo o modelo de Poços de Caldas, que havia passado por reformas que transformaram suas instalações hoteleiras e termais desde os primeiros anos do século 20, todos os demais planos visavam a criar condições para o aumento da atividade turística, aproveitando as fontes terapêuticas", explica a arquiteta Daniele Porto à Agência FAPESP.

A pesquisadora acaba de concluir um mestrado sobre as transformações urbanísticas, arquitetônicas e paisagísticas, a partir de um contexto histórico, ocorridas na cidade de Araxá nos anos 1930. No estudo, ela identificou dois requisitos básicos existentes em todos os projetos de transformação territorial das estâncias.

"O planejamento tinha como objetivo garantir um padrão arquitetônico e urbanístico de qualidade, capaz de diferenciar as estâncias das cidades tradicionais. Ainda que morfologicamente essas cidades apresentam uma ampla variedade de tipos e formas, é possível reconhecer algumas características comuns em sua configuração territorial", explica Daniele. Além disso, em todas as situações sempre existia a figura do promotor.

Em termos de modelo, todos os projetos incorporaram o que era feito na Europa. Segundo Daniele, a sintonia com as ações urbanísticas que ocorriam do outro lado do Atlântico foi muito grande. "O formato inglês da ‘cidade-jardim’, por exemplo, não foi o único presente nas estâncias brasileiras. A arquitetura e a paisagem rural européia foram freqüentemente reproduzidas em nossos balneários também, inclusive com a introdução de espécies exóticas", afirma. O clima ameno de algumas cidades, como as da Serra Fluminense, também foram determinantes para o sucesso delas.

O cenário em Araxá, montado na região que ficou conhecida como a Estância do Barreiro, era recorrente. Parques de grandes proporções permeavam o tecido urbano, articulando o traçado de suas ruas e abrigando seus principais edifícios. "A ocorrência de generosos espaços públicos em grande parte dos projetos apresentados para essas cidades visava ao conforto da seleta elite que as freqüentava", explica Daniele.

Se nas adaptações e nas modificações feitas aos modelos europeus surgiram o efeito desejado pelos urbanistas e promotores (soluções como escoamento de águas pluviais e esgoto, por exemplo, são usados até hoje), o estudo também mostra uma das limitações dos projetos.

"Fiz um apontamento crítico sobre o caráter elitista da estância araxaense", conta Daniele. Apesar de não ter estudado as estâncias como estão hoje – e muitas discutem como voltar aos velhos tempos –, a pesquisadora desconfia que esse modelo restritivo pode não funcionar mais.

"A minha intenção é que a pesquisa contribua com os estudos de recuperação e preservação das estâncias no Brasil", diz Daniele. Pelo menos há 80 anos, as cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais fizeram sucesso, muito provavelmente pela mescla identificada pela arquiteta da USP.

"A adequação dos modelos internacionais às necessidades técnicas e funcionais da cidade moderna, em especial das estâncias brasileiras, mostrou-se ideal para a constituição de ambientes saudáveis e agradáveis para o paciente e o turista", diz. A simples cópia do passado para o presente pode não funcionar, adverte a pesquisadora.


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