Livro reúne depoimento de 13 dos 19 ministros da Educação que exerceram o cargo nos 37 anos que vão do início do governo Figueiredo ao fim do governo Dilma (FOTO: divulgação)

Ministros apresentam amplo painel da educação no Brasil
26 de junho de 2018

Livro reúne depoimento de 13 dos 19 ministros da Educação que exerceram o cargo nos 37 anos que vão do início do governo Figueiredo ao fim do governo Dilma

Ministros apresentam amplo painel da educação no Brasil

Livro reúne depoimento de 13 dos 19 ministros da Educação que exerceram o cargo nos 37 anos que vão do início do governo Figueiredo ao fim do governo Dilma

26 de junho de 2018

Livro reúne depoimento de 13 dos 19 ministros da Educação que exerceram o cargo nos 37 anos que vão do início do governo Figueiredo ao fim do governo Dilma (FOTO: divulgação)

 

José Tadeu Arantes  |  Agência FAPESP – A educação é amplamente reconhecida como um dos principais fatores para o desenvolvimento econômico, a diminuição das desigualdades sociais e a promoção da democracia. Programas de longo prazo, continuidade de ação a despeito da alternância dos partidos no governo e substantivos aportes de recursos são ingredientes indispensáveis. Quando se busca um exemplo de política educacional que deu certo, a Coreia do Sul é sempre citada.

E o Brasil?

Um livro recém-publicado fornece subsídios importantes para uma avaliação mais abrangente e menos partidarizada do desempenho do país na esfera educacional. Trata-se de Quatro décadas de gestão educacional no Brasil: Políticas públicas do MEC em depoimentos de ex-ministros, do jornalista Antônio Gois, editado pela Fundação Santillana e pelo Instituto Unibanco.

Gois entrevistou 13 dos 19 ministros da Educação que exerceram o cargo nos 37 anos que separam o início do governo de João Baptista Figueiredo, o último chefe da ditadura civil-militar, do fim do mandato de Dilma Rousseff, a última presidente eleita no país. O jornalista entrevistou todos os ministros então vivos – exceto Marco Maciel, que não pôde dar seu depoimento por motivos de saúde.

A publicação está disponível para download gratuito na página do Observatório da Educação e no site da Fundação Santillana. As entrevistas foram também gravadas em vídeo e podem ser assistidas na íntegra.

No período considerado, a população brasileira quase dobrou de tamanho, passando de 119 milhões em 1980 para 206 milhões em 2016. No mesmo arco temporal, o percentual investido em Educação cresceu expressivamente: de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) durante o último governo da ditadura para 5,9% do PIB entre 2005 e 2012, época em que Fernando Haddad ficou à frente do Ministério da Educação (MEC), em partes dos governos Lula e Dilma. A diferença é ainda maior se considerarmos que, no período ditatorial, o MEC englobava as funções depois distribuídas por quatro ministérios: Educação, Cultura, Esporte e Ciência e Tecnologia. 

Um primeiro aspecto apontado por Gois no livro foi que, ao longo dos 37 anos estudados, o Brasil, em média, trocou de ministro de Educação a cada dois anos. Isso foi, em parte, consequência de turbulências econômicas ou políticas: a transição da ditadura para a democracia; a hiperinflação durante o governo José Sarney; o impeachment de Fernando Collor de Mello; a deposição de Dilma Rousseff. Mas foi também consequência do fato, igualmente grave, de que os ministérios brasileiros tornaram-se moeda de troca nas barganhas destinadas a dar sustentabilidade política aos governos. Ministros com reconhecida competência técnica e políticos profissionais alternaram-se na gestão do MEC, ao sabor das premências ou conveniências do momento.

José Goldemberg, presidente da FAPESP e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), quebrou uma sequência de cinco ministros políticos ao ser nomeado por Collor para o cargo. Em seu depoimento, ele falou do estranhamento que sentiu, como técnico, ao chegar ao MEC e descobrir que, apesar de não dispor de muitos recursos, o ministro detinha um enorme poder sobre a liberação de verbas para projetos de municípios, estados e instituições de ensino. Era um “lugar formidável para fazer favores”, disse.

Mas, a despeito desse defeito crônico e generalizado nos quadros da administração brasileira, algumas iniciativas importantes tiveram continuidade no MEC. 

A mais expressiva foi a criação do Plano Decenal de Educação, ocorrida por iniciativa do ministro Murílio Hingel, no governo Itamar Franco. Esse esforço de planejamento de longo prazo resultou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, durante a gestão de Paulo Renato Costa Souza, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. E, depois, no Plano Nacional de Educação (PNE, em 2014, durante a gestão de José Henrique Paim Fernandes, no primeiro governo Dilma Rousseff).

Outra iniciativa importante que teve continuidade foi a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização dos Profissionais do Magistério (Fundef), durante o governo Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula, o Fundef transformou-se no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que, além do Ensino Fundamental, passou a abranger também a Educação Infantil e o Ensino Médio.

Mais um momento em que uma visão mais ampla prevaleceu sobre as disputas político-partidárias foi durante a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), no primeiro mandato de Lula. Tarso Genro, então ministro da Educação, garantiu a aprovação do projeto no Congresso graças ao apoio que recebeu de Antônio Carlos Magalhães, então senador pela Bahia e um dos mais ardorosos opositores do governo. Como disse Genro em seu depoimento, ele obteve a adesão de Magalhães ao convencê-lo do benefício que o ProUni traria para os estudantes “negros” e “pardos”, especialmente em um estado como a Bahia.

O último aspecto assinado por Gois em seu capítulo introdutório é também um retrato do Brasil no quesito mazelas. “Apesar de o magistério ser uma profissão majoritariamente feminina, apenas uma mulher ocupou o cargo não só durante os 37 anos aqui retratados, como até a finalização deste livro: Esther de Figueiredo Ferraz, última ministra do mandato de João Baptista Figueiredo”, escreveu o jornalista.

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