Sistema Metrobús, que acaba de completar um ano de funcionamento, recebeu uma boa avaliação por parte dos moradores da Cidade do México
(foto: WRI)
Debate sobre mobilidade nas grandes cidades do mundo indica caminhos para sistemas sustentáveis de transporte. A cultura do coletivo, em vez do uso do carro, está presente em vários centros urbanos
Debate sobre mobilidade nas grandes cidades do mundo indica caminhos para sistemas sustentáveis de transporte. A cultura do coletivo, em vez do uso do carro, está presente em vários centros urbanos
Sistema Metrobús, que acaba de completar um ano de funcionamento, recebeu uma boa avaliação por parte dos moradores da Cidade do México
(foto: WRI)
Agência FAPESP - Soluções pontuais não são mais possíveis nos grandes centros urbanos do mundo. Também não faz parte da solução construir cada vez mais vias destinadas apenas a automóveis. É com base nessas premissas, segundo especialistas de diversos países reunidos em São Paulo, que um sistema de transporte sustentável deve ser pensado.
"Admito que são decisões políticas difíceis. Mas cada vez mais temos que restringir o uso do carro", afirmou o economista Enrique Peñalosa, prefeito de Bogotá, na Colômbia, entre 1998 e 2000, no Congresso do Ar Limpo para as Cidades da América Latina, que termina nesta quinta-feira (27/7), em São Paulo.
O político, derrotado nas últimas eleições para uma vaga ao Senado, é reconhecido por ter iniciado uma grande revolução em termos de mobilidade na cidade. Um dos projetos mais conhecidos é o Transmilenio, inspirado no sistema de ônibus existente em Curitiba.
Ao defender o uso do ônibus, do metrô, da bicicleta e até dos próprios pés, Peñalosa apontou que faz isso também com base nas experiências das cidades mais ricas do mundo. "O transporte coletivo é usado em locais como Nova York ou Zurique não porque todos amam o meio ambiente, mas por ser difícil usar automóvel", disse. O mesmo vale para as bicicletas, usadas por quase 40% da população em países como a Holanda.
Mesmo em cenário exclusivamente latino-americano, onde os sistemas de transporte coletivo são hostis aos usuários, a cultura de deixar o automóvel um pouco de lado está sendo criada aos poucos, segundo o político colombiano. "A iniciativa Um Dia Sem Carro, realizada em Bogotá toda primeira quinta-feira de fevereiro, foi aprovada por meio de um referendo popular. Apenas outra consulta pública poderá desfazer isso", disse.
Outras experiências colombianas são o rodízio de veículos – nos horários de pico da manhã e da tarde duas vezes por semana – e a ampliação do uso da bicicleta, depois que Peñalosa resolveu criar uma ciclovia de 23 quilômetros de extensão na cidade. "Saímos do zero para 4% da população que agora se desloca pedalando", disse.
Outra experiência bem-sucedida apresentada e discutida durante o congresso veio da Cidade do México. Na cidade, que tem um metrô quase cinco vezes mais extenso do que o paulistano, há pouco mais de um ano foi criado um grande corredor de ônibus, nomeado de Metrobús, que atravessa os 20 quilômetros da avenida Insurgentes, eixo viário que corta de norte a sul a capital do país, em 58 minutos.
Depois de muitas críticas por parte da população no início do projeto, hoje a aprovação é bem maior. Segundo o balanço oficial dos primeiros 12 meses, cerca de 15 mil pessoas, que equivalem a 6% do total de usuários do novo serviço, disseram ter trocado os carros pelo Metrobús. Os veículos são movidos a diesel e foram fabricados no Brasil.
Apesar de utilizarem o diesel, combustível altamente poluente, os projetos colombiano e mexicano geram benefícios ambientais devido à tecnologia empregada nos veículos, que faz uma queima mais eficiente do combustível, emitindo menos poluentes. No caso do México, por exemplo, a emissão é 50% menor do que no motor a diesel convencional.
Sem uma cultura da mobilidade e um planejamento político adequado que não beneficie apenas os automóveis, Lloyd Right, consultor inglês também presente no congresso em São Paulo, acredita ser difícil construir um sistema de transporte realmente sustentável.
"Conseguir chegar a esse conceito, que é muitas vezes pouco palpável, não é simples. Mas temos que ter em mente também que a tecnologia e os combustíveis limpos não são a solução para tudo. Eles apenas fazem parte do pacote", disse.
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