Para o geólogo Gerôncio Rocha, do DAEE, ações locais são fundamentais na preservação do aqüífero
(foto: Eduardo Geraque)

Mercosul integrado pela água
23 de março de 2005

Durante o 10º Encontro de Geógrafos da América Latina, na USP, pesquisadores discutem o futuro do Aqüífero Guarani. Se a natureza já fez a integração subterrânea entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o desafio agora é gerir as águas transfronteiriças

Mercosul integrado pela água

Durante o 10º Encontro de Geógrafos da América Latina, na USP, pesquisadores discutem o futuro do Aqüífero Guarani. Se a natureza já fez a integração subterrânea entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o desafio agora é gerir as águas transfronteiriças

23 de março de 2005

Para o geólogo Gerôncio Rocha, do DAEE, ações locais são fundamentais na preservação do aqüífero
(foto: Eduardo Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Milhões de anos antes de surgir o conceito político de Mercosul, a natureza já fazia sua própria integração, subterrânea, entre o que hoje é a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. Trata-se do Aqüífero Guarani – nome em homenagem aos povos indígenas que viveram na região –, um reservatório de água subterrânea que compreende uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados.

Se as águas estocadas nas entranhas do Cone Sul não respeitam as fronteiras nacionais, os pesquisadores e técnicos envolvidos com a gestão das águas nos quatro países de abrangência do aqüífero tiveram que fazer o mesmo. Pelos menos segundo os presentes nesta terça-feira (22/3) na Universidade de São Paulo, durante evento que fez parte do 10º Encontro de Geógrafos da América Latina, esse processo específico de integração está bastante adiantado.

Números divulgados pelo argentino Jorge Santa Cruz, membro da secretaria geral do Projeto Aqüífero Guarani, mostram que US$ 26,7 milhões já foram empenhados para o projeto de gestão do reservatório subterrâneo. Além de objetivos técnico-científicos, o programa internacional também terá ações no campo da educação ambiental e no estímulo à participação da sociedade civil, por meio de organizações não-governamentais. "Até agora, temos 24 projetos de ONGs aprovados, em um total de US$ 240 mil", disse Santa Cruz durante o debate.

Uma das principais preocupações é a questão da contaminação urbana do reservatório. "O importante é dar espaço para as ações locais e tomar conta principalmente das áreas de afloramento", afirmou Gerôncio Albuquerque Rocha, geólogo do Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, à Agência FAPESP.

"No caso do Estado de São Paulo, um dos pontos nevrálgicos é a cidade de Ribeirão Preto, que justamente por isso foi escolhida uma das quatro áreas piloto pelo projeto", disse o especialista no aqüífero. Para o pesquisador, uma experiência bem-sucedida em Ribeirão Preto – o plano de expansão da cidade coincide com as áreas de afloramento do reservatório – será fundamental.

"Ações bem-sucedidas poderão ser irradiadas para todos os outros países", acredita. Segundo Rocha, um dos grandes problemas do Aqüífero Guarani está no campo técnico. "Precisamos conhecer mais sobre a estrutura geológica, as áreas de descarga e o tempo de renovação das águas", disse. Rocha também é contra alguns mitos que estão sendo perpetuados. "Não está no aqüífero a salvação do problema da água para toda a humanidade", afirma.

Em um cenário mundial onde 2 bilhões de pessoas não contam com água para suas necessidades básicas, ter um aqüífero como o Guarani é mais do que importante também do ponto de vista estratégico, segundo o geógrafo Wagner Costa Ribeiro, da USP.

Para Ribeiro, mediador do debate de terça-feira, é mais do que necessário que palavras como "gestão compartilhada" e "uso sustentável" estejam sempre presentes no debate entre os quatro países. "E o próprio acordo do Mercosul oferece ferramentas para que essa integração seja feita. Poderíamos até passar a usar o termo Aqüífero Mercosul, para reforçar essa situação", argumenta.

Para mais informações, clique aqui.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.