Cientistas brasileiros e chineses descrevem em artigo na Pnas o Nemicolopterus crypticus, réptil voador com apenas 25 centímetros de envergadura que viveu há 120 milhões de anos (divulgação)

Menor pterossauro é descoberto
12 de fevereiro de 2008

Cientistas brasileiros e chineses descrevem em artigo na Pnas o Nemicolopterus crypticus, réptil voador com apenas 25 centímetros de envergadura que viveu há 120 milhões de anos. Museu Nacional abre exposição sobre a espécie

Menor pterossauro é descoberto

Cientistas brasileiros e chineses descrevem em artigo na Pnas o Nemicolopterus crypticus, réptil voador com apenas 25 centímetros de envergadura que viveu há 120 milhões de anos. Museu Nacional abre exposição sobre a espécie

12 de fevereiro de 2008

Cientistas brasileiros e chineses descrevem em artigo na Pnas o Nemicolopterus crypticus, réptil voador com apenas 25 centímetros de envergadura que viveu há 120 milhões de anos (divulgação)

 

Por Heitor Shimizu

Agência FAPESP – Primeiros vertebrados a ganhar os céus, os pterossauros não eram exatamente dinossauros, mas grandes répteis voadores. Ou melhor, não tão grandes assim, como mostra o anúncio da descoberta de um exemplar minúsculo do tipo.

A análise de um fóssil encontrado na formação de Jiufotang, em Liaoning, na China, destaca a existência de um pterossauro que media apenas 25 centímetros de uma ponta da asa a outra. Ou seja, mais para o tamanho de um pardal do que de um dinossauro.

O exemplar, encontrado em um pedaço de rocha sedimentar, foi analisado por um grupo de pesquisadores brasileiros e chineses. Alexander Kellner, professor do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Diogenes de Almeida Campos, responsável pelo Departamento Nacional de Produção Mineral do Museu de Ciências da Terra, são os autores brasileiros de artigo sobre a espécie na edição de 12 de fevereiro da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

O fóssil descrito agora foi encontrado em 2004 e consiste de um esqueleto articulado e quase completo, com praticamente todos os ossos nas posições corretas. "Inicialmente se achou que fosse um filhote, mas as análises que fizemos mostram ossos bem formados, apesar de não totalmente, como seria em um adulto", disse Kellner à Agência FAPESP.

Com base na ossificação, os pesquisadores se certificaram da importância da descoberta. "Na nossa opinião, trata-se da menor espécie de pterossauro conhecida até o momento", afirmou Kellner. Segundo o paleontólogo, isso vale ainda que o jovem pterossauro crescesse duas ou três vezes de tamanho até se tornar adulto.

Denominado Nemicolopterus crypticus, ou "habitante voador e oculto da floresta", a espécie teria vivido há cerca de 120 milhões de anos e pertenceu à Pterodactyloidea, uma das subordens dos pterossauros.

O Nemicolopterus crypticus apresenta características morfológicas peculiares e não identificadas anteriormente em pterossauros. Entre elas estão pés diferentes das demais espécies. "Ele tinha falanges curvas, condizentes com as que se encontrariam em um animal que passava muito tempo em árvores", explicou Kellner.

A proximidade com o grupo Ornithocheiroidea indica que os pterossauros, incluindo criaturas gigantescas com mais de 6 metros de envergadura, eram parentes de pequenas criaturas arbóreas e sem dentes, como a descrita agora, que viviam em árvores e se alimentavam de insetos.

Outra diferença notável no fóssil analisado é a presença de uma projeção posterior bem desenvolvida no fêmur, situada acima da articulação com a tíbia. "Essa projeção tem forma triangular e provavelmente apoiava tendões ou músculos que conectavam o fêmur e a tíbia, reforçando o movimento da parte inferior das pernas", descreveram no artigo.

Extintos há cerca de 65 milhões de anos, os pterossauros são conhecidos como répteis voadores, apesar de não terem relação com os répteis atuais. Até hoje, no Brasil, foram descritas 24 espécies desse grupo. Alguns dos fósseis mais completos foram encontrados na bacia do Araripe, que hoje abrange áreas do Ceará, Pernambuco e Piauí.

Os principais registros de pterossauros foram feitos, além do Brasil, na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos e, mais recentemente, na China.

A pesquisa descrita na nova edição da Pnas é mais um resultado de um acordo de cooperação entre as academias de ciência do Brasil e da China para o estudo de espécies de répteis voadores. O estudo teve apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Além de Kellner, que está com nova viagem marcada à China para análise de outros fósseis, e Campos, assinam o artigo na Pnas Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da China.


Reconstituição em 3D

Kellner é autor de várias descobertas paleontológicas importantes, como a do Santanaraptor placidus, dinossauro encontrado em 1999 na bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Campos e Kellner descreveram em 2002 o maior predador terrestre que viveu em tempos passados no Brasil, o Pycnonemosaurus nevesi.

Em Pterossauros – Os senhores do céu do Brasil (Vieira & Lent Casa Editorial, 2006), Kellner descreve todas as espécies desse grupo descobertas no país. O livro também apresenta perspectivas sobre a extinção dos pterossauros na bacia do Araripe.

O Museu Nacional abrirá nesta terça-feira (12/2) uma exposição sobre o Nemicolopterus crypticus, com uma réplica do fóssil, reconstituição em três dimensões do esqueleto, escultura do animal em uma árvore e informações sobre o pequeno pterossauro.

O museu fica no Parque da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Mais informações: www.museunacional.ufrj.br ou (21) 2568-1290.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.