Menarca antecipada
13 de fevereiro de 2006

Meninas de populações caboclas na Amazônia estão menstruando pela primeira vez mais cedo. Estudo revela que entre 1930 e 1980 a idade média da primeira menstruação caiu de 14,5 para 12,8 anos

Menarca antecipada

Meninas de populações caboclas na Amazônia estão menstruando pela primeira vez mais cedo. Estudo revela que entre 1930 e 1980 a idade média da primeira menstruação caiu de 14,5 para 12,8 anos

13 de fevereiro de 2006

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A idade da menarca, a primeira menstruação, é um indicador bastante sensível, sob vários aspectos. Marco do ciclo reprodutivo feminino, ela retrata também as condições sociais de determinada população. Além do componente genético, as condições sociais e ecológicas são determinantes para que o evento ocorra mais tarde ou mais cedo.

A partir desse pano de fundo, Hilton Silva, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, e Cristina Padez, da Universidade de Coimbra, em Portugal, resolveram investigar vários aspectos do crescimento, desenvolvimento, nutrição e saúde de duas populações caboclas da Amazônia. As comunidades são grupos resultantes da mistura de europeus, africanos e indígenas sul-americanos.

Quando a dupla de pesquisadores tratou os dados sobre a idade da menarca entre as populações de Caxiuanã e Ituqui, ambas no Pará, surgiu uma importante constatação. Entre 1930 e 1980, a primeira menstruação entre as meninas caiu de 14,5 anos para 12,8 anos. O declínio médio por década foi de 0,237 anos.

"A idade da menarca vem baixando em várias populações do mundo, devido à melhoria de condições nutricionais e socioeconômicas e seu reflexo na saúde das populações", explica Silva à Agência FAPESP. O caso amazônico, entretanto, não pode ser explicado apenas por essa possível melhora nas condições sociais das comunidades.

De um lado, o acesso à saúde melhorou na zona rural amazônica. De outro, as incertezas geradas pelo ambiente também continuam presentes. "Evolutivamente, quanto mais cedo a menarca ocorrer, maior será a chance de a mulher se reproduzir. A primeira menstruação, quando vem mais cedo, favorece a adaptação aos ambientes naturais imprevisíveis, como a Amazônia", explica o antropólogo do Museu Nacional.

Entre os estudos já feitos, a idade média da menarca identificada na população de caboclos amazônicos (12,2 anos) é uma das mais baixas no Brasil. Ela é igual à encontrada nas cidades de Guarulhos e São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, e próxima à da cidade do Rio de Janeiro, que é de 12,3 anos.

Mesmo para o contexto latino-americano, a idade é uma das menores. Na Cidade do México, por exemplo, ela é de 12,3 anos, e no Haiti 15,37 anos. "No caso do Brasil, com seu tamanho continental, a variação encontrada entre os vários estudos é explicada pelas questões ambientais, genéticas, sociodemográficas e de acesso à saúde", dizem os autores da pesquisa.

O artigo Secular trends in age at menarche among Caboclo populations from Para, Amazonia, Brazil: 1939-1980 está publicado na edição atual do American Journal of Human Biology. Assinantes podem ler o texto no endereço: www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/jhome/37873


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