Medo do morro
03 de fevereiro de 2004

Hegemonia conservadora das elites mudou muito pouco no cenário carioca desde os tempos imperiais. No livro O Medo na Cidade do Rio de Janeiro, que será lançado na quinta (5/2), a historiadora Vera Malaguti aborda a questão do medo do ponto de vista sociológico e antropológico. Antes se temiam os quilombos; hoje, as favelas

Medo do morro

Hegemonia conservadora das elites mudou muito pouco no cenário carioca desde os tempos imperiais. No livro O Medo na Cidade do Rio de Janeiro, que será lançado na quinta (5/2), a historiadora Vera Malaguti aborda a questão do medo do ponto de vista sociológico e antropológico. Antes se temiam os quilombos; hoje, as favelas

03 de fevereiro de 2004

 

Agência FAPESP - O balanço frio da batalha de 25 de janeiro de 1835 nas ruas de Salvador (BA) apontou a morte de 70 negros muçulmanos e de sete soldados oficiais. Entretanto, as marcas sociais do episódio que ficou conhecido como a Revolta dos Malês foram bem mais contundentes. Alfabetizados, livres e conscientes de seus direitos, 1,5 mil negros de origem muçulmana (os malês) se levantaram, principalmente contra a escravidão.

O episódio ecoou ao Sul do país e chegou até à capital. No Rio de Janeiro, as elites temiam os negros. A difusão do caos e da desordem foi implementada. O objetivo principal, o de neutralizar e disciplinar as massas empobrecidas, foi conseguido.

A partir desse primeiro tempo da história social do medo, a historiadora Vera Malaguti, professora da Universidade Cândido Mendes e secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia, desenrola seu estudo, que chega até os dias atuais. O resultado pode ser conferido no livro O Medo na Cidade do Rio de Janeiro – dois tempos de uma história (Editora Revan), que será lançado nesta quinta-feira (5/02), na capital fluminense.

Se antes o discurso partia das elites, da Igreja, do Direito e da Imprensa contra os Quilombos, o mesmo ainda ocorre agora no século 21, na visão da pesquisadora. É como se os quilombolas estivessem instalados agora nos morros, representando pelas favelas cariocas.

Desde os tempos do Brasil Império, como procura mostrar Vera de forma detalhada, a penalização e a racialização caminharam juntas. Sempre existiram interessados no processo de "demonialização da ralé".

Apesar de voltado para setores acadêmicos, o livro, como apresenta o pesquisador francês radicado nos Estados Unidos Loïc Wacquant, no prefácio, pode ser útil também para os cidadãos das grandes metrópoles brasileiras.

O estudo de Vera permite desvendar as razões da obsessão que a sociedade contemporânea tem pelo "medo do outro" e pela violência criminal. A pesquisadora carioca aponta até os motivos que levam as políticas de segurança pública ao fracasso e os caminhos que podem ser trilhados para que esse quadro mude.

Mais informações sobre o livro, que vai custar R$ 30,00, e sobre o lançamento da obra podem ser obtidas no site da Editora Revan: http://www.revan.com.br.


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