Luiz Pinguelli Rosa (foto), do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e José Miguez, do MCT, falam sobre o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas que deverá ser apresentado ao governo federal (foto: W.Castilhos)

Medidas urgentes
23 de abril de 2007

Luiz Pinguelli Rosa (foto), do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e José Miguez, do MCT, falam sobre o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas que deverá ser apresentado ao governo federal

Medidas urgentes

Luiz Pinguelli Rosa (foto), do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e José Miguez, do MCT, falam sobre o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas que deverá ser apresentado ao governo federal

23 de abril de 2007

Luiz Pinguelli Rosa (foto), do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e José Miguez, do MCT, falam sobre o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas que deverá ser apresentado ao governo federal (foto: W.Castilhos)

 

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – Depois de assistir juntos ao filme Uma verdade inconveniente: um aviso global, do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o físico Luiz Pinguelli Rosa, professor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), reuniram-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concordou com a iniciativa de formular um Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas urgentemente. No documentário, Gore apresenta uma visão do futuro do planeta, revelando o superaquecimento global como um perigo real que precisa ser enfrentado.

Nomeado pelo presidente como secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Pinguelli Rosa se reuniu, na quinta-feira (19/4), no Rio de Janeiro, com pesquisadores e membros de instituições governamentais – como o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – e de instituições como o Greenpeace, para debater a estruturação do plano e sugerir propostas de ação, as quais serão encaminhadas ao governo federal nos próximos dias.

Segundo os especialistas reunidos, o plano deverá abordar medidas de incentivo à produção renovável de bens de consumo, de redução da emissão de gases e também medidas de adaptação às mudanças no clima que parecem ser inevitáveis em um futuro não muito distante.

Para Pinguelli Rosa, o maior dos problemas ambientais que o Brasil enfrenta atualmente é o desmatamento. "O governo reduziu o desmatamento nos últimos dois anos, mas não basta. Precisa diminuir mais", disse à Agência FAPESP.

As duas grandes emissões de gases no país – de dióxido de carbono (CO2) e de metano – são causadas pelo desmatamento, pelos setores energético e agropecuário. Segundo levantamento recente feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, a principal emissão de CO2 do Brasil continua tendo como causa o desmatamento, promovida pela mudança do uso da terra da floresta para outro tipo de uso – dois terços devido ao desmatamento na Amazônia e um terço pela devastação no Cerrado.

"Isso representa 75% das emissões de CO2 e quase 55% das emissões globais do Brasil. Já a emissão de metano e de óxido nitroso está basicamente no setor agropecuário. Por conta disso, o maior esforço do governo federal no momento está na redução do desmatamento. Conseguimos reduzir 50% em quase dois anos. Além disso, estamos propondo, no âmbito da negociação da Convenção de Kyoto, incentivos aos países desenvolvidos, em termos de recursos e de capacidade tecnológica e técnica, para nos auxiliar a reduzir ainda mais", explicou José Miguez, coordenador-geral de Mudanças do Clima do MCT.

O segundo maior problema ambiental apontado por Pinguelli Rosa foi o consumo de energia. "Estamos aumentando o uso de carvão mineral na geração elétrica. Então, o Brasil está saindo da hidro-eletricidade para o carvão mineral, para o óleo diesel, e isso não é bom", afirmou.

Outro ponto, segundo ele, é a necessidade de uma melhor política de transporte público. "Precisamos optar pelo transporte coletivo no dia-a-dia, e estender o sistema de metrô, por exemplo. Usar o carro gasta muita energia."

Alternativas energéticas


Segundo Miguez, um dos caminhos para reduzir a emissão de gases seria implantar ações nos moldes do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) no setor de geração elétrica.

"O governo federal precisa incentivar a produção de energia elétrica de fontes renováveis, como eólica, biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas. Esse deveria ser o modelo do Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas", disse. O Proinfa é um programa voltado para a diversificação da matriz energética nacional, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

A energia eólica é obtida pelo movimento do ar (vento). É uma fonte abundante de energia, renovável, limpa e amplamente disponível. Cerca de 50 países, entre ricos e pobres, em todos os continentes, têm utilizado com sucesso a energia eólica, como a Alemanha (com cerca de 8.800 megawatts instalados), Estados Unidos (4.200 MW), Espanha (3.300 MW), Dinamarca (2.400 MW) e Índia (1.500 MW).

A biomassa é um tipo de matéria utilizada na produção de energia a partir de processos de combustão de materiais como a lenha, o bagaço de cana e papéis já utilizados. Entre os derivados da biomassa está o biodiesel, feito a partir do dendê, mamona, soja ou de outro produto. Pequena Central Hidrelétrica (PCH) é toda usina hidrelétrica de pequeno porte cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW.

Na reunião realizada no Rio de Janeiro, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas não chegou a uma posição em relação à energia nuclear. "Reconhecemos a vantagem dela em não emitir CO2, mas esse tipo de energia tem outros problemas, como o risco radiativo. A energia nuclear não é uma opção madura e o Brasil tem outras escolhas. Temos urgentemente que evitar o uso do carvão mineral precocemente na matriz energética brasileira e estabelecer metas de redução do desmatamento", destacou Pinguelli Rosa.

O documento proposto pelo Fórum, que será encaminhado ao presidente Lula, estrutura o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas em três eixos estratégicos: ações coordenadas do governo, desenvolvimento de uma rede de pesquisa e criação de uma eEntidade nacional de políticas do clima.

"Precisamos ter um mecanismo de estímulo a pesquisa, de financiamento a professores, pesquisadores e estudantes que se dedicam ao tema das mudanças climáticas e ambientais e todos os temas correlatos", disse Pinguelli Rosa.

As propostas do Fórum terão um longo caminho até chegar ao governo, passando pelos ministérios de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores, Minas e Energia e finalmente pela Casa Civil.

A idéia, segundo Pinguelli, é que o governo inclua as propostas no debate e depois envie novamente as primeiras versões do Plano de Ação para o Fórum para que seja então discutido também pela sociedade.


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