Geógrafo, professor catedrático da UFPE e especialista em geografia humana e estudos agrários morreu na sexta-feira (22/6), no Recife
Geógrafo, professor catedrático da UFPE e especialista em geografia humana e estudos agrários morreu na sexta-feira (22/6), no Recife
Correia de Andrade foi diretor do Centro de Estudos de História Brasileira da Fundação Joaquim Nabuco de 1984 a 2003. Publicou mais de 100 livros e 250 artigos científicos nas áreas de geografia humana, estudos agrários e geopolítica brasileira.
"Ele foi um grande intelectual, geógrafo e historiador. Sua obra historiográfica é tão importante quanto a geográfica", disse a geógrafa Maria Adelia Aparecida de Souza, professora titular aposentada da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
De acordo com Maria Adelia, embora fosse filho de senhor de engenho e por isso pertencesse à oligarquia pernambucana, Correia de Andrade "foi um hojem aberto, progressista, com uma sensibilidade enorme para defender causas sociais".
Por conta desse perfil, foi convidado para comandar a política agrícola do governo de Miguel Arraes, deposto pelo golpe militar de 1964. "No exílio, em 1964, participamos juntos dos cursos de Celso Furtado – também exilado – na Universidade de Paris", lembrou Maria Adelia.
Uma de suas obras mais conhecidas, A terra e o homem no Nordeste, de 1963, tratou de questões relacionadas à reforma agrária no Brasil. Escrita com o objetivo de esclarecer políticos e estudiosos sobre o tema, o livro foi classificado como subversivo e apreendido pela ditadura.
"Esse livro é uma obra prima da goeografia brasileira. Em termos de requinte intelectual e de demonstração das condições de vida do povo nordestino, ele representa para o Nordeste aquilo que Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, representa para Minas Gerais", disse Maria Adelia.
A professora destacou que Correia Andrade estava em plena atividade intelectual. "Tenho comigo as gravações de todos os cursos que ele deu na USP. Tentei falar com ele na última semana para propor que transformássemos esse material em livro."
Os cursos, de acordo com a professora, tratam de temas atuais: a ocupação do território nordestino pelo cultivo de cana-de-açúcar e o papel da Sudene no desenvolvimento do Nordeste. "É um material precioso. São cursos que ele deu na USP, convidado por mim, com patrocínio da FAPESP", disse.
Além de ser um dos maiores conhecedores da questão agrária brasileira, Andrade foi, e acordo com Maria Adelia, um grande professor. "Além das pesquisas e livros, ele foi um professor como hoje não se encontra mais. Gerações de pernambucanos foram seus alunos no ginásio. Hoje o professor é pouco valorizado, mas ele insistia nisso", declarou.
Correia de Andrade iniciou a carreira como professor de geografia econômica na UFPE, em 1952. Atuou também na Universidade Católica de Pernambuco, de 1953 a 1975, e presidiu a Associação dos Geógrafos Brasileiros de 1961 a 1962.
Nas décadas de 1980 e 1990, ministrou cursos em nível de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e na Universidade de Buenos Aires, na Argentina. Em 2002, foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
Entre outros livros de Correia de Andrade estão Paisagens e problemas do Brasil, O planejamento regional e o problema agrário no Brasil, Nordeste: espaço e tempo, Latifúndio e reforma agrária no Brasil, Tradição e mudança, Poder político e produção do espaço, Agricultura e classes sociais no Nordeste, Geografia econômica do Nordeste e Geografia econômica.
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