Maconha para artrite

Estudo feito no Reino Unido indica resultados positivos de um remédio à base da cannabis no tratamento da artrite reumatóide. Medicamento auxiliou na redução das dores

Agência FAPESP - Uma pesquisa feita no Reino Unido acaba de indicar efeitos positivos de um remédio à base de maconha no tratamento da artrite reumatóide. Segundo os pesquisadores, o medicamento mostrou-se eficaz para reduzir as dores dos portadores da doença.

Os pesquisadores submeteram 27 pacientes a doses de placebo e 31 ao Sativex, analgésico derivado da cannabis fabricado na Inglaterra e vendido comercialmente no Canadá desde junho.

O remédio, na forma de spray, foi administrado pelos próprios pacientes em no máximo seis vezes ao dia. O medicamento consiste de uma mistura de extratos da maconha que contém quantidades iguais de dois principais componentes da planta, o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabinol (CBD).

O estudo, o primeiro controlado a investigar os efeitos desse medicamento no tratamento da doença, terá seu resultados publicados na quarta-feira (9/11), na edição on-line da revista Rheumatology.

Estudos anteriores feitos com camundongos indicaram efeitos antiinflamatórios nas duas substâncias e a capacidade do CBD em bloquear a progressão da artrite reumatóide, além da melhoria dos sintomas. Estima-se que a doença afete de 1% a 1,5% da população e mais de três vezes as mulheres do que os homens.

Os cientistas britânicos verificaram que, em comparação com o placebo, os pacientes que receberam o remédio apresentaram melhorias significativas na dor em movimento, na dor em repouso, na qualidade do sono, nas inflamações e na intensidade das dores.

As dores foram medidas pelo questionário McGill, um inventário que consiste de 78 palavras descritoras, organizadas em quatro grupos e 20 subgrupos. Em uma escala de 0 a 100, onde 0 significa ausência de dor, enquanto os pacientes que receberam placebo permaneceram em 50, os submetidos ao Sativex ficaram entre 48 e 33.

De acordo com os pesquisadores, os efeitos colaterais foram considerados pequenos ou moderados. Dos oito que experimentaram leve tontura, seis foram no período inicial, tendo a sensação desaparecido após ajustes nas doses. Nenhum dos voluntários que recebeu o medicamento abandonou o período de testes.

"Os resultados são encorajadores, com melhorias nas dores, na qualidade do sono e na condição geral dos pacientes. Apesar de os ganhos não serem tão grandes, e de variarem dentro do grupo, eles representam benefícios de relevância clínica e indicam a necessidade de que sejam feitas mais investigações para que se descubra exatamente de que modo os medicamentos podem ser mais bem empregados", disse Ronald Jubb, da Universidade de Birmingham e um dos autores do estudo, em comunicado da Oxford University Press.


Uso não-recreativo

Quanto à idéia comum de que os medicamentos à base de maconha possam ser usados não apenas por portadores de doenças, mas também por aqueles que queiram apenas sentir os efeitos do uso da droga, os pesquisadores são categóricos. Segundo eles, nas centenas de testes feitos em voluntários com remédios derivados da planta, não houve um único caso documentado de abuso.

"O fato é que a motivação do uso medicinal é completamente diferente da verificada no uso recreacional. Os pacientes querem apenas se livrar dos sintomas das doenças e poder viver normalmente suas vidas", disse Philip Robson, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford e outro dos autores do estudo.

O artigo Preliminary assessment of the efficacy, tolerability and safety of a cannabis-based medicine (Sativex) in the treatment of pain caused by rheumatoid arthritis pode ser lido no site da Rheumatology, em http://rheumatology.oxfordjournals.org.