Estudo identifica 14 tipos de elementos sonoros que fazem parte da comunicação complexa do muriqui (foto: Wisc)

Macaco comunicativo
30 de julho de 2007

Estudo identifica 14 tipos de elementos sonoros que fazem parte da comunicação complexa do muriqui. Riqueza vocal do maior primata das Américas intriga pesquisadores

Macaco comunicativo

Estudo identifica 14 tipos de elementos sonoros que fazem parte da comunicação complexa do muriqui. Riqueza vocal do maior primata das Américas intriga pesquisadores

30 de julho de 2007

Estudo identifica 14 tipos de elementos sonoros que fazem parte da comunicação complexa do muriqui (foto: Wisc)

 

Por Liliane Nogueira, de Belo Horizonte

Agência FAPESP – Tentar entender a comunicação verbal de animais exige muita dedicação e o uso de técnicas e métodos de gravação e coleta de dados contextuais, sonografia e análise estatística, como no estudo do repertório vocal do macaco muriqui (Brachyteles hypoxanthus), conduzido pelo antropólogo Francisco Dyonísio Cardoso Mendes, professor da Universidade Católica de Goiás.

O muriqui, ou mono-carvoeiro, é o maior primata das Américas. Encontrado no Brasil, chega a ter 1,5 metro de altura e vive no que sobrou da Mata Atlântica, em grupos com cerca de 50 indivíduos que se organizam de forma igualitária e em diversas configurações socioespaciais.

O estudo, apresentado no 12º Congresso Brasileiro de Primatologia, realizado na semana passada, em Belo Horizonte, mostrou uma complexidade vocal que conta com características tradicionalmente consideradas exclusivas da linguagem, como a percepção categórica (capacidade de distinguir sons), a referencialidade (emitem sinais especifícos) e o caráter combinatório dos sons.

Nos muriquis, Mendes identificou 14 tipos de elementos sonoros, sendo cinco curtos e nove longos. Os curtos, breves e secos, são conhecidos como estocadas; os longos, graves e roucos, são os relinchos. As diversas combinações desses sons resultam em chamados, usados pelo grupo em diferentes contextos. No forrageamento, por exemplo, eles preferem sons mais agudos. Já para reunir o grupo disperso, usam sons mais roucos. O pesquisador, que considera como "frases" as seqüências com até 30 chamadas, registrou 534 seqüências diferentes em 649 chamadas.

" Os muriquis têm um sistema de comunicação complexo, usado o dia inteiro. A linguagem tem ligação direta com os sistemas sociais e com os fatores ambientais. Para entendê-la, temos que observar não apenas a combinação dos sons, mas em que circunstâncias são emitidos", explicou.

O antropólogo atribui a riqueza vocal dos muriquis ao tamanho grande do grupo, ao modo de vida nas florestas – em que há pouca visibilidade – e à organização social igualitária, que permite várias combinações de convivência.


Regra seqüencial

O repertório vocal dos muriquis é usado em situações diversas, como alarme, nas interações e nas disputas intergrupais, no cuidado com os filhotes, de forma lúdica e em outras do cotidiano do grupo, independentemente de estarem se locomovendo ou não.

"Cada indivíduo produz séries variadas de chamadas, mas é interessante perceber que a maioria das seqüências começa com um mesmo tipo de som, e pela sonoridade nota-se que há uma regra nos intercâmbios seqüênciais", disse o professor da Universidade Católica de Goiás.

Segundo Mendes, as "conversas" dos muriquis exibem uma variedade de formas estocadas e relinchos e um intercâmbio a cada três minutos entre os vários indivíduos do grupo.

O material colhido e analisado pelo pesquisador e colegas é significativo no âmbito da pesquisa sobre a linguagem dos primatas. "Apesar da relevância do tema, poucas espécies neotropicais tiveram seu repertório vocal estudado. A maioria carece de qualquer estudo sobre comunicação. No caso dos muriquis, temos uma série de informações interessantes, muito indicativa, mas ainda não temos muitas respostas", disse.


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