José Antonio Brum, diretor-geral do LNLS, faz um balanço da reunião anual de usuários e fala sobre os problemas orçamentários que suspenderam as atividades em três laboratórios por dois meses (Foto: F. Castro)
José Antonio Brum, diretor-geral do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron faz um balanço da reunião anual de usuários do LNLS e fala sobre os problemas orçamentários que suspenderam as atividades em três laboratórios por dois meses
José Antonio Brum, diretor-geral do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron faz um balanço da reunião anual de usuários do LNLS e fala sobre os problemas orçamentários que suspenderam as atividades em três laboratórios por dois meses
José Antonio Brum, diretor-geral do LNLS, faz um balanço da reunião anual de usuários e fala sobre os problemas orçamentários que suspenderam as atividades em três laboratórios por dois meses (Foto: F. Castro)
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – No fim de setembro de 2007, por problemas orçamentários, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado em Campinas (SP), foi obrigado a suspender as atividades de três laboratórios e do programa de auxílio aos usuários.
A suspensão, que prejudicou principalmente atividades acadêmicas de usuários, foi apenas um susto. As atividades foram retomadas em dezembro, depois que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que mantém o laboratório, realizou uma recomposição do orçamento.
Mas, segundo José Antonio Brum, diretor-geral do LNLS, se houver outro contingenciamento as atividades poderão ser suspensas novamente. O laboratório atende 1,6 mil pesquisadores do Brasil e do exterior, produzindo conhecimento sobre novas propriedades dos átomos e moléculas, com aplicação em áreas como nanotecnologia, biologia estrutural e desenvolvimento de novos materiais.
Segundo Brum, caso os problemas continuem, o LNLS corre o risco de perder a capacidade de atuar dentro do conceito de laboratório nacional, isto é, de estar à disposição para fomentar a pesquisa e desenvolver experiências de todos os cientistas cujos projetos passarem pelos processos de seleção.
Em entrevista à Agência FAPESP, Brum comentou a questão orçamentária e avaliou as tendências e os projetos do laboratório, discutidos durante a 18ª Reunião Anual de Usuários de Luz Síncrotron, realizada nos dias 18 e 19 de fevereiro.
Agência FAPESP – Em 2006, na reunião dos usuários do LNLS o senhor avaliou que o laboratório enfrentava problemas orçamentários. A suspensão das atividades de alguns laboratórios em setembro de 2007 foi conseqüência daqueles mesmos problemas?
José Antonio Brum – Sim. Há um ano já tínhamos grande preocupação com os custos do LNLS. Ele cresce, as instalações aumentam e tudo isso exige um orçamento que cresça na mesma proporção. O contrato de gestão prevê esse reajuste de orçamento, mas o que tem ocorrido nos últimos anos, infelizmente, é que o orçamento não consegue ser executado na integralidade. Desde 2004 os valores são nominalmente os mesmos. Em 2007, não havia mais como reduzir gastos e fomos obrigados a reduzir operações.
Agência FAPESP – Essas operações foram retomadas?
Brum – Sim. O MCT agiu rapidamente, já em setembro, tentando recompor o orçamento. Conseguimos recuperar parte dos laboratórios e retomamos as atividades em meados de dezembro.
Agência FAPESP – Que tipo de prejuízos decorrem de uma suspensão de atividades como essa?
Brum – Tivemos que reduzir atividades ligadas aos usuários, que eram as que necessitam de mais recursos humanos para funcionar. Foram três laboratórios: o de espectrometria de massas, o de microscopia por varredura de ponta e o de microfabricação e filmes finos. Suspendemos também o Programa de Auxílio aos Usuários. A principal conseqüência foi prejudicar o trabalho de estudantes, que têm prazos a cumprir. Como conseguimos restabelecer o orçamento em dois meses, o estrago foi minimizado.
Agência FAPESP – Será preciso fazer uma recomposição orçamentária para evitar que essa situação se repita?
Brum – Não precisamos de uma recomposição, mas sim da execução integral do orçamento previsto. Se isso não for feito, teremos problemas novamente. É preciso lembrar que nosso orçamento inclui todos os gastos, inclusive folha de pessoal, diferentemente de outros laboratórios públicos. Cada incremento aumenta o custeio de operação. Cada investimento feito aumenta em 10% o valor para operar nas novas condições
Agência FAPESP – Qual é o orçamento previsto para o LNLS este ano?
Brum – Em 2007, a previsão era de R$ 25,3 milhões e o orçamento executado foi de R$ 22,2 milhões, depois da recuperação em dezembro. O orçamento previsto para 2008 é de R$ 27,9 milhões. Se conseguirmos a execução integral, o laboratório funcionará sem problema algum, mas sabemos que o país tem outras dificuldades e pode haver novo contingenciamento.
Agência FAPESP – Quais são os principais projetos para 2008?
Brum – Há dois grandes projetos nos quais estamos focados. Um é finalizar uma linha de luz de espectroscopia de ultravioleta para aplicações em áreas como física de superfície e química. É uma linha que funciona com um dispositivo de inserção – um ondulador. O equipamento, que tem 7 toneladas, é o primeiro desse tipo construído no Brasil. É uma luz ultravioleta com intensidade 10 mil vezes mais brilhante do que a que tínhamos antes.
Agência FAPESP – E quanto ao outro projeto?
Brum – É a conclusão do prédio voltado para nanociências. Estamos em processo de instalação dos novos microscópios eletrônicos. O prédio foi financiado pela Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] e os microscópios pela FAPESP. Além disso, estamos fazendo o acompanhamento de um novo dispositivo de inserção com tecnologia supercondutora que produz raios X duros, mais intensos que os disponíveis atualmente, para ciências de materiais. Estamos também começando a avaliar qual a demanda para a construção de um novo síncrotron. Estamos em operação há 11 anos e um laboratório como esse leva 15 anos para ser desenvolvido. Por isso temos que nos preocupar com a necessidade futura do país.
Agência FAPESP – Quantos são hoje os usuários do LNLS e quantos participaram da reunião anual?
Brum – Tivemos 352 participantes na reunião. O número de usuários tem aumentado ao longo dos anos: eram 300 em 2001, mil em 2004 e hoje são 1,6 mil. O número de projetos está estabilizado em relação ao ano passado. Em 2007, foram 466 projetos nas linhas de luz. No total, envolvendo todas as outras instalações, foram 685 projetos.
Agência FAPESP – Qual o número de pesquisadores estrangeiros atualmente?
Brum – Cerca de 17% dos usuários das linhas de luz síncrotron são de países vizinhos da América Latina. Eles também estiveram representados na reunião. Entre os brasileiros, notamos que muitos dos novos usuários são pesquisadores jovens que estão se especializando nessas novas técnicas e aprendendo a usar instrumentação – o laboratório está ajudando a formar recursos humanos.
Agência FAPESP – Qual o objetivo dessa reunião?
Brum – A reunião tem três aspectos principais. Um deles é reunir pessoas de outros síncrotrons que tragam novas técnicas para a discussão. O segundo é mostrar os trabalhos que estão sendo feitos no LNLS e o terceiro é discutir as melhorias.
Agência FAPESP – Que tipo de novas técnicas foram apresentadas?
Brum – A discussão girou em torno de alguns eixos principais. Um deles foi a chamada matéria mole – que são polímeros e líquidos. É uma área que tem crescido muito, mas que consiste em sistemas complexos que impõem dificuldades para a construção de um conhecimento científico bem embasado. As novas gerações de síncrotrons têm feito grandes progressos e têm gerado esse conhecimento que pode ser aproveitado para aplicações em plásticos, cosméticos e fibras.
Agência FAPESP – Algum outro eixo mereceu destaque?
Brum – Demos atenção também aos experimentos em condições extremas, com altas temperaturas e pressões. A luz síncrotron permite simular a situação real a que são submetidos materiais como, por exemplo, ligas metálicas de motores, ou as tubulações em situações de grande fluxo usadas em exploração de petróleo em águas profundas. O objetivo nesse caso é desenvolver melhor nossa instrumentação e entender como esses materiais reagem.
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