Para Silvana Goellner, da UFRGS, o fato de a delegação brasileira em Atenas ter 49,59% de mulheres merece comemoração, mas a situação, segundo ela, deve ser avaliada com cautela (foto: Washington Alves/COB)

Longe da inclusão
12 de agosto de 2004

Para Silvana Goellner, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o fato de a delegação brasileira em Atenas ter 49,59% de mulheres merece comemoração, mas a situação, segundo ela, deve ser avaliada com cautela

Longe da inclusão

Para Silvana Goellner, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o fato de a delegação brasileira em Atenas ter 49,59% de mulheres merece comemoração, mas a situação, segundo ela, deve ser avaliada com cautela

12 de agosto de 2004

Para Silvana Goellner, da UFRGS, o fato de a delegação brasileira em Atenas ter 49,59% de mulheres merece comemoração, mas a situação, segundo ela, deve ser avaliada com cautela (foto: Washington Alves/COB)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O fato é histórico. Pela primeira vez na história do esporte olímpico nacional, uma delegação brasileira será formada por praticamente o mesmo número de mulheres e de homens. Entre os 246 competidores que participam das Olimpíadas de Atenas, 122 (49,59%) são do sexo feminino, contra 124 homens.

"Se por uma lado esse dado pode merecer comemoração, por outro exige atenção. Apesar da crescente presença feminina na vida esportiva do país, a situação atual das mulheres ainda deve ser avaliada com cautela", disse a pesquisadora Silvana Goellner, à Agência FAPESP. Estudiosa da questão do gênero no esporte, entre outros assuntos, Silvana é professora do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Coordenadora do Centro de Memória do Esporte da mesma instituição.

Os exemplos citados por Silvana, para mostrar que a inclusão feminina ainda está longe do ideal, são retirados do próprio mundo olímpico brasileiro. "No Brasil, apenas a Confederação Brasileira de Ginástica é dirigida por uma mulher. Não chega a 1% o índice de dirigentes mulheres nas federações esportivas", disse.

Nem mesmo o futebol – nos Jogos Olímpicos de Atenas apenas as mulheres representam a camisa verde e amarela pois a seleção masculina não passou pela fase classificatória – também é usado pela pesquisadora em favor da tese que defende. "O número de mulheres que hoje pratica o futebol em clubes e áreas de lazer aumentou, se comparado à década anterior", conta. Mesmo assim, lembra, as próprias equipes femininas não são treinadas ou administradas por mulheres.

Apesar de hoje o quadro ser bem diferente do que era até o século 20, quando as mulheres participavam de eventos esportivos apenas para acompanhar os maridos, o sucesso que às vezes é obtido em uma olimpíada por uma atleta do Brasil está mais relacionado ao esforço individual do que a uma política sistemática de inclusão. "É importante pensar em estratégias de inclusão que possibilitem um número bem mais expressivo de mulheres em atividades esportivas", defende Silvana.

Para a professora da UFRGS, essa sistematização não deve ser focada apenas em competições de alto nível, como os Jogos Olimpícos, mas deve valer desde a escola, onde as meninas recebem um tratamento diferente nas aulas de educação física, até em diversas atividades que envolvam a prática corporal. "É preciso que as mulheres possam exercer o direito de participação, nas associações comunitárias, nos parques, nas zonas rurais e até nas comunidades indígenas", acredita.


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