O químico José Carlos Andreoli será o principal responsável pelas obras de restauração dos livros do Senado
(foto:Roberto Fleury/UnB Agência)

Livros do Senado na sala cirúrgica
23 de fevereiro de 2005

Centro de Documentação (Cedoc) da Universidade de Brasília está restaurando 4 mil obras que pertencem ao Senado. Além da história política do país, exemplares raríssimos da literatura dos séculos 17, 18 e 19 estão sendo tratados

Livros do Senado na sala cirúrgica

Centro de Documentação (Cedoc) da Universidade de Brasília está restaurando 4 mil obras que pertencem ao Senado. Além da história política do país, exemplares raríssimos da literatura dos séculos 17, 18 e 19 estão sendo tratados

23 de fevereiro de 2005

O químico José Carlos Andreoli será o principal responsável pelas obras de restauração dos livros do Senado
(foto:Roberto Fleury/UnB Agência)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A conservação preventiva e mesmo as intervenções de restauro feitas anteriormente falharam. Para salvar um acervo de 4 mil obras, o Senado e a Universidade de Brasília (UnB) fecharam um contrato para que livros do Poder Legislativo possam entrar na sala de cirurgia. Serão investidos R$ 2,08 milhões no projeto.

"Nesse material existem documentos da história do próprio Senado e ainda exemplares da literatura dos séculos 17, 18 e 19", disse José Carlos Andreoli, diretor do Centro de Documentação da Universidade de Brasília, à Agência FAPESP. O engenheiro químico, que está desde 1988 na UnB, será o responsável pelos trabalhos de restauração das obras, ao lado de uma equipe de 14 pessoas integralmente treinada por ele.

"A coleção mais rara é formada pelos 24 volumes da Flora Brasiliensis. Alguns volumes estão em bom estado, mas alguns vão dar bastante trabalho", explica Andreoli, que se especializou na arte da restauração em cursos realizados em Florença, Itália, e na Sorbonne, na França. A importante coleção do acervo do Senado, feita pelo botânico alemão Karl Von Martius em 1842, é apenas uma das duas que existem na mundo. A outra está na Áustria.

Toda a restauração dos livros que formam o acervo da biblioteca do Senado não vai ficar pronta antes dos três próximos anos. "Esse não é um trabalho rápido. Ele é delicado e lento. Restauro não é como fazer pão de queijo. Só colocar no forno e pronto", brinca o diretor do Cedoc da UnB.

No caso do acervo de parte do Poder Legislativo, Andreoli explica que vários agentes biológicos agiram sobre os papéis e as encadernações ao longo do tempo, como as brocas que perfuraram os papéis e os fungos que também danificaram bastante as páginas históricas do Brasil. "A própria tinta usada anteriormente acaba corroendo o papel. As fibras da celulose também sofrem um desgaste natural com o tempo", explica o químico da UnB.

O agente biológico homem também tem uma contribuição importante na má conservação de obras históricas em termos gerais, segundo lembra Andreoli. "O manuseio incorreto, por exemplo, causa o rompimento na lombada", adverte o pesquisador. Em obras com capas de couro, o cuidado deve ser redobrado. "Mesmo depois do restauro dos livros do Senado, por exemplo, será preciso fazer um trabalho constante com eles. A hidratação do couro tem que ser feita a cada dois anos", informa Andreoli.

Por causa da alta demanda por trabalhos de conservação e restauração, apesar da primeira ser sempre negligenciada, o Cedoc da UnB está preocupado também em formar novos profissionais para que essa técnica, que exige bastante habilidade manual, seja cada vez mais difundida entre as bibliotecas brasileiras. "A conservação tem que ser um processo contínuo", afirma Andreoli.


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