Dois novos títulos traçam a trajetória da instituição responsável pelo vestibular da USP. Fuvest 30 anos, de Shozo Motoyama e Marilda Nagamini, destaca a filosofia e a prática de aplicação dos exames

Livros contam história da Fuvest
17 de outubro de 2007

Dois novos títulos traçam a trajetória da instituição responsável pelo vestibular da USP. Fuvest 30 anos, de Shozo Motoyama e Marilda Nagamini, destaca a filosofia e a prática de aplicação dos exames

Livros contam história da Fuvest

Dois novos títulos traçam a trajetória da instituição responsável pelo vestibular da USP. Fuvest 30 anos, de Shozo Motoyama e Marilda Nagamini, destaca a filosofia e a prática de aplicação dos exames

17 de outubro de 2007

Dois novos títulos traçam a trajetória da instituição responsável pelo vestibular da USP. Fuvest 30 anos, de Shozo Motoyama e Marilda Nagamini, destaca a filosofia e a prática de aplicação dos exames

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Em homenagem ao trigésimo aniversário de criação da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), comemorado em abril de 2006, a Editora da USP lançou, na noite desta terça-feira (16/10), na capital paulista, o livro Fuvest 30 anos – Características do Vestibular da Universidade de São Paulo (Edusp).

Organizada pelos historiadores Shozo Motoyama e Marilda Nagamini, em 632 páginas a obra relata a trajetória da instituição responsável pela organização do processo de seleção de candidatos para o ingresso na Universidade de São Paulo (USP), sobretudo no tocante à filosofia e à prática de aplicação de seus exames.

A coleta das informações do livro, dividido em três partes, foi realizada em documentos e atas do Conselho Curador da Fuvest, além de entrevistas com coordenadores e diretores da fundação e consultas a publicações sobre a história da educação no Brasil.

A primeira parte da obra destaca a relação da Fuvest com a USP e com a sociedade paulista, além de fazer um mapeamento histórico dos vestibulares desde que esse método de avaliação foi implantado no Brasil.

"Nessa parte caracterizamos o conceito de vestibular e relatamos as principais mudanças ao longo de seu tempo. Começamos com os exames de admissão, em 1911, implementados pelo então ministro da Justiça e de Negócio Interiores, Rivadávia Corrêa, que passou a ser a principal exigência para a entrada nas escolas superiores", disse Motoyama, diretor do Centro Interunidade de História da Ciência da USP à Agência FAPESP.

Bastava o candidato ter 16 anos ou mais e ter concluído o ensino médio para estar apto a fazer o exame, que era constituído por provas escritas e orais. "Antes disso, infelizmente, muitas pessoas que mal sabiam ler e escrever entraram na universidade. Ao promulgar a Lei Orgânica de Ensino Superior e Fundamental, em 5 de abril de 1911, o ministro Corrêa instituiu o primeiro vestibular do país, conceito que nunca mais se extinguiu", explicou o também professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Na segunda parte, com o elenco de 16 professores que participaram de sua diretoria executiva e de seu conselho curador, o livro registra e homenageia, em formato de entrevistas, o estabelecimento de feições significativas da Fuvest, cuja experiência em exames de avaliação tornou-a também responsável pelos vestibulares da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

Com a preocupação de preservar a memória da instituição, nessa parte estão depoimentos de profissionais que participaram ativamente da gestão da Fuvest. As entrevistas começam com José Goldemberg, membro do primeiro conselho curador e coordenador dos vestibulares de 1977, e terminam com Hélio Nogueira da Cruz, presidente do Conselho Curador da Fuvest no período de 2002 a 2006. "Os depoimentos mostram as características e filosofias que estavam por trás das idéias dessas pessoas", disse Motoyama.

A terceira parte da obra, intitulada USP, Conselho Curador e Diretoria Executiva; Quadros para as ações da Fuvest, de 1976 aos dias atuais, é dedicada à quantificação das ações da fundação nos últimos 30 anos. Trata-se de uma cronologia com estatísticas de todos os vestibulares realizados, com informações que vão desde o número de vagas e candidatos aprovados até a quantidade de questões nas provas e critérios de convocação dos alunos.


Vestibular e compromisso social

Shozo Motoyama chama a atenção para uma época singular da história, a atual sociedade do conhecimento que, para ele, pode ser entendida tanto como resultado como causa da globalização. "De um lado, trata-se de um mundo cada vez mais competitivo cuja moeda de troca é a produção, transmissão e utilização do conhecimento", disse.

Por outro lado, as profundas desigualdades econômicas resultantes da globalização, segundo ele, induzem o processo de exclusão social entre aqueles que não fazem parte dessa corrida mundial pelo conhecimento, que tem como pano de fundo as instituições de ensino e pesquisa.

"Nesse contexto, as universidades foram concebidas visando a formar recursos humanos capazes de raciocinar para enfrentar esses desafios e o desconhecido. Por isso, instituições como a USP deveriam saber escolher indivíduos aptos a assimilar os ensinamentos e devolver os investimentos feitos pela sociedade, a fim de que as desigualdades econômicas e sociais sejam, pelo menos em parte, minimizadas", destacou.

Para ele, a tentativa de reduzir essas diferenças faz parte da razão de ser dos vestibulares e também do livro, que mostra a importância, nos dias atuais, desse sistema de seleção de alunos, ao mesmo tempo em que faz o registro de acontecimentos que evidenciam como os vestibulares têm atendido às necessidades da sociedade.

"Mas, principalmente, o livro faz germinar uma semente para que possamos refletir sobre o papel da educação de qualidade no futuro da humanidade e, nessa perspectiva, se o vestibular continuará tendo um papel relevante no suprimento das demandas sociais", disse Motoyama.


Fórmula de sucesso

A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) foi criada oficialmente no dia 20 de abril de 1976, época do início da distensão do regime militar, resultante do golpe de 1964. A USP tentava retomar a normalidade, passados os anos de violenta repressão durante o governo do general Emílio Médici (1969-1974), quando vigorou o Ato Institucional nº 5.

Com o advento do governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), o sistema repressivo começou a enfraquecer e os institutos de ensino superior readquiriram autonomia.

A Fuvest foi criada para produzir, aplicar, apurar e tornar públicos os resultados das provas, que atendem aos programas oficiais do ensino médio e são elaboradas por docentes da USP, que se revezam periodicamente na produção de questões em diferentes áreas do conhecimento. A análise das provas envolve diferentes instâncias administrativas e acadêmicas da universidade.

Atualmente a Fuvest reúne cerca de 145 mil candidatos por ano, que concorrem a pouco mais de 10.200 vagas oferecidas pela USP.

Desde a década de 1930, quando a universidade foi criada, vários modelos de seleção foram adotados: exames orais, classificatórios, eliminatórios, separados por faculdades, unificação dos vestibulares, questões objetivas e inclusão paulatina de questões discursivas, introdução da redação, uso da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), isenção de taxas de inscrição e, em 2006, bônus para egressos de escola pública.

"Tudo isso foram formas de, em diferentes tempos, instituições responsáveis pelo exame de seleção responderem aos desafios e pressões de diferentes momentos da história da educação no Brasil", disse Franco Lajolo, atual presidente do Conselho Curador da Fuvest, no prefácio do livro que acaba de ser lançado.

"A Fuvest sempre foi pioneira, quer na experimentação de novos formatos de prova, quer na discussão dos resultados educacionais dos vestibulares que, goste-se ou não, acabam pautando o ensino médio brasileiro", destacou Lajolo, também vice-reitor da USP.


Homenagem em dose dupla

Outro livro que também marca as comemorações do trigésimo aniversário da Fuvest, a ser lançado em breve, é 30 anos de Fuvest: A História do Vestibular da Universidade de São Paulo, 1976-2006 (Edusp), de Eni de Mesquita Samara, diretora do Museu Paulista e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Dividida em três partes e seis capítulos, em 184 páginas a obra também traça um panorama histórico da Fuvest, com destaque para os diferentes tipos de exames de ingresso para a USP implementados desde a década de 1930.

Mostra as várias modificações que ocorreram na organização das seleções de alunos, analisa e contextualiza a criação da Fuvest, a estruturação funcional da instituição e descreve a criação de rotinas e procedimentos para que o vestibular possa atender às necessidades sociais e da educação brasileira.

O livro de Eni descreve ainda o esforço coletivo da equipe da Fuvest para chegar a resultados de organização, sigilo, competência e seriedade inquestionáveis.

"As duas obras explicitam a identidade da Fuvest, o que poderá contribuir para melhorar a eficiência e o alcance dos próximos vestibulares. Para isso, apesar de terem enfoques diferentes, os dois livros se complementam", disse Shozo Motoyama.

Mais informações: www.edusp.com.br


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