As origens do rap, do break e o impacto dessas formas de expressão negra no cotidiano da periferia paulistana são os temas abordados pelo historiador Rafael Lopes de Sousa (foto:Cufa/Wikimedia)

Livro traça a genealogia do movimento hip hop
18 de janeiro de 2013

As origens do rap, do break e o impacto dessas formas de expressão negra no cotidiano da periferia paulistana são os temas abordados pelo historiador Rafael Lopes de Sousa

Livro traça a genealogia do movimento hip hop

As origens do rap, do break e o impacto dessas formas de expressão negra no cotidiano da periferia paulistana são os temas abordados pelo historiador Rafael Lopes de Sousa

18 de janeiro de 2013

As origens do rap, do break e o impacto dessas formas de expressão negra no cotidiano da periferia paulistana são os temas abordados pelo historiador Rafael Lopes de Sousa (foto:Cufa/Wikimedia)

 

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – A genealogia do movimento hip hop, desde suas influências africanas mais longínquas, passando pela popularização nos Estados Unidos durante os anos 1970 e a chegada ao Brasil na década de 1980, foi traçada pelo historiador Rafael Lopes de Sousa no livro O movimento hip hop: a anti-cordialidade da ‘república dos manos’ e a estética da violência, lançado pela editora AnnaBlume.

Mais do que um levantamento histórico, a obra busca compreender as demandas que os jovens da cultura hip hop trazem à tona, como eles se tornam porta-vozes da experiência negra e repercutem no cotidiano da periferia de São Paulo nos dias de hoje.

O primeiro capítulo investiga as bases históricas de formação da cultura hip hop, que segundo Sousa é composta por quatro elementos principais: a música rap (ritmo e poesia na sigla em inglês), a dança break, o grafite e as figuras do DJ e do MC (disc-jóquei e mestre-de-cerimônias). Foi no bairro nova-iorquino do Bronx, na primeira metade da década de 1970, que os quatro elementos se fundiram.

Por meio de uma pesquisa etnográfica, o historiador apresenta também o percurso do movimento em São Paulo, desde a década de 1970 até a atualidade. Aborda algumas de suas ramificações artísticas como as posses – encontro de grupos de rap – para realizar ações sociais em suas comunidades e promover disputas de dançarinos de break, os b-boys.

O segundo capítulo busca explicar a efervescência cultural que dominou a cena marginal nos Estados Unidos na década de 1970, resultando em uma intensa troca de experiências entre os jovens latinos e afrodescendentes.

“Se buscarmos as principais fontes de informação e de formação do grafite, encontraremos fortes traços de influência latina. Os maiores artistas do gênero na época vinham de países como Porto Rico, Colômbia, Bolívia e Costa Rica. Já os primeiros DJs e MCs de rap que surgem nos Estados Unidos são jamaicanos”, afirmou o historiador.

O break, por sua vez, surge como uma dança de protesto, fazendo alusão aos corpos mutilados dos soldados que voltavam da Guerra do Vietnã, contou Sousa.

“Alguns DJs perceberam que os encontros de DJs e MCs poderiam avançar para além da diversão e promover a integração entre gangues rivais. A rivalidade e as brigas de rua foram transferidas para disputas de danças”, disse.

Mais focado na realidade brasileira, o terceiro capítulo faz uma radiografia das transformações urbanas que ocorreram na cidade de São Paulo ao longo do século 20 e discute suas repercussões para os jovens da periferia. De acordo com Sousa, a partir dos anos 1980, os jovens antes confinados na periferia passaram a mostrar sua arte em regiões centrais, como o Largo São Bento, a Praça da Sé ou a Praça Roosevelt.

“Com a chegada desses e de outros novos atores sociais ao centro de São Paulo, entre eles os punks, começa a haver disputa de espaço e a perseguição policial fica mais intensa. Os jovens da periferia que ousavam circular no centro eram tratados como intrusos, delinquentes e arruaceiros”, disse Sousa.

Agenda cultural

O capítulo seguinte trata do surgimento, popularização e legado dos bailes black para o rap, desde os tempos em que ainda estavam isolados na periferia até os dias em que passaram a integrar a agenda cultural das casas de espetáculo dos grandes centros urbanos, como o Chic Show, em São Paulo, e o Canecão, no Rio.

“A presença constantes de figuras como Tim Maia, Gilberto Gil, Jorge Ben, James Brown e Billy Paul, começa atrair frequentadores de outros segmentos sociais”, contou o autor.

Para finalizar, Sousa retrata o cotidiano atual da periferia paulistana, cercado de violência e marginalidade e aponta a música rap como um caminho para os jovens da periferia superarem essa realidade.

O quinto e último capítulo fala também sobre o universo simbólico da “república dos manos”, que engloba um jeito próprio de vestir, andar e falar. “Esse universo criou as condições para a superação dos pressupostos da consagrada dialética da malandragem e a criação de uma nova forma de atuação social definida como dialética da marginalidade, que rejeita, muitas vezes, as regras de inserção social”, afirmou.

Publicado com apoio da FAPESP, o livro é resultado da tese de doutorado de Sousa, defendida em 2009 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Durante seu mestrado, realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o historiador investigou as origens e os impactos do movimento punk. Agora, como professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Santo Amaro, continua a estudar os movimentos juvenis e sua interferência no espaço urbano.

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