Listas em branco
17 de outubro de 2005

Poucos Estados conhecem suas espécies vegetais ameaçadas de extinção. Como existe muito trabalho pela frente, a experiência adquirida será fundamental para a elaboração dos novos documentos, apontam pesquisadores

Listas em branco

Poucos Estados conhecem suas espécies vegetais ameaçadas de extinção. Como existe muito trabalho pela frente, a experiência adquirida será fundamental para a elaboração dos novos documentos, apontam pesquisadores

17 de outubro de 2005

 

Por Eduardo Geraque, de Curitiba

Agência FAPESP - Os Estados do Sul e do Sudeste, mais o Pará, concluíram suas listas de espécies vegetais ameaçadas de extinção ou estão com esses documentos em estado avançado de elaboração. Nos outros, há muito ainda a fazer.

"Faltam muitos Estados. Tem ainda muito trabalho pela frente", disse Vinícius Souza, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP.

Segundo Souza, um dos responsáveis pela elaboração da lista paulista de espécies ameaçadas, publicada de forma oficial no início do ano, os documentos já prontos estão sendo muito úteis para a definição de políticas públicas.

No caso de São Paulo, foi criada uma legislação estadual que determina que espécies que estejam na lista sejam utilizadas em projetos de reflorestamento. "Sem dúvida que as listas são um instrumento importante, mas elas não podem ser consideradas um fim em si mesmo", avalia o cientista.

Com base na experiência de elaboração do documento, Souza apresentou durante o 56º Congresso Brasileiro de Botânica, encerrado sexta-feira (14/10), em Curitiba, formas para que as várias barreiras existentes entre a informação científica e a relação das espécies não se tornem totalmente intransponíveis. "O objetivo é também estimular a elaboração das listas em todos os Estados brasileiros que ainda não começaram a fazer isso", explica.

Entre os empecilhos percebidos pelo pesquisador da Esalq, três surgem baseados nas condutas dos próprios pesquisadores. "Muitos acabam deixando a participação na lista para segundo plano, pois isso geralmente não rende dividendos científicos. Outros demonstram insegurança quanto à qualidade dos dados. Há ainda o problema metodológico. Alguns pesquisadores não concordam com o processo empregado e, por isso, decidem que não vão mais participar da elaboração das listas de espécies ameaçadas", conta Souza.

A indisponibilidade dos dados também ocorre em muitos casos por causa da pouca organização e sistematização dos herbários. "Esses bancos de dados precisam ser mais bem estruturados", afirma Souza.

Sobre os outros três obstáculos, o pesquisador também tem algumas sugestões. "É preciso lembrar do papel social da pesquisa em botânica. Os recursos gastos para o estudo da biodiversidade também acabam sendo justificados pela publicação dessas listas", aponta.


Lista nacional

O Brasil deverá conhecer em novembro uma versão atualizada da lista nacional de espécies vegetais ameaçadas de extinção – a última foi promulgada em 1992. A nova relação não foi feita com base nos documentos estaduais, mas a partir de uma outra compilação de dados.

Segundo Miriam Pimentel Mendonça, pesquisadora do Jardim Botânico de Belo Horizonte e coordenadora científica da nova lista, o documento está pronto. No próximo mês, os cientistas vão a Brasília entregá-la ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Depois disso, eles têm que homologar o documento para torná-lo oficial", disse à Agência FAPESP

Apenas em termos botânicos, o documento traz 1.538 espécies "ameaçadas de extinção". Outras 297 estão na categoria "criticamente em perigo", 322 "apenas em perigo", 919 "vulneráveis" e 2.525 sob o rótulo de "dados insuficientes".

Segundo Miriam, 13 espécies foram consideradas extintas. Cinco delas sumiram na natureza, mas ainda são encontradas em coleções científicas. Entre as duas gimnospermas ameaçadas de extinção inseridas na lista, a araucária é uma delas.


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