Zago: Sistema de CT&I do Estado de São Paulo começou a ser estruturado com a criação de instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico de Campinas, em 1887, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, em 1899, e do Butantan, em 1901 (foto: Erika de Faria/Temporal Filmes)
Na abertura da Escola Interdisciplinar FAPESP 2025: Humanidades, Ciências Sociais e Artes, Marco Antonio Zago ressaltou que essa trajetória começou há mais de cem anos
Na abertura da Escola Interdisciplinar FAPESP 2025: Humanidades, Ciências Sociais e Artes, Marco Antonio Zago ressaltou que essa trajetória começou há mais de cem anos
Zago: Sistema de CT&I do Estado de São Paulo começou a ser estruturado com a criação de instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico de Campinas, em 1887, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, em 1899, e do Butantan, em 1901 (foto: Erika de Faria/Temporal Filmes)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Segundo o ranking “Cities of Science”, criado pelo Nature Index, existem 78 cidades na Europa que se destacam pela produção científica, 60 na região da Ásia e Pacífico, 55 na América do Norte e apenas uma na América Latina: São Paulo. Os pesquisadores do Estado de São Paulo publicam mais artigos do que os do México, do Chile ou da Argentina. E respondem por cerca de 40% da produção científica do Brasil. Quando se acrescentam métricas capazes de aferir a qualidade desse material, a proporção sobe para quase 60%.
Por que essa liderança desproporcional? “A resposta é que São Paulo tem um sistema robusto de ciência, tecnologia e inovação, que começou a ser estruturado há mais de um século, com a criação de instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico de Campinas [IAC, em 1887], o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo [IPT, 1899] e o Instituto Butantan [1901]”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, em uma palestra magna na abertura da Escola Interdisciplinar FAPESP 2025: Humanidades, Ciências Sociais e Artes, que ocorreu no dia 1º de dezembro, no Instituto Principia, na capital.
Esse processo, que teve um salto qualitativo em 1934, com a criação da Universidade de São Paulo (USP), e outro em 1962, com o início das atividades da FAPESP, configura uma política de longo prazo, que sobreviveu às mudanças de governo e às vicissitudes da história do Brasil. “O Estado de São Paulo investe cerca de 9,5% da arrecadação do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] nas universidades públicas estaduais [USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp)] e destina 1% de toda a receita tributária para a FAPESP”, enfatizou Zago.
“O sistema de ciência, tecnologia e inovação de São Paulo inclui 63 instituições de ensino superior, 28 institutos de pesquisa e mais de 10 mil empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. No ensino superior, o Estado tem mais de 160 mil estudantes de graduação e quase 15 mil docentes, a maioria deles pesquisadores em tempo integral. E o sistema inclui também uma rede muito forte de hospitais e institutos de pesquisa em saúde”, disse.
Como contribuição decisiva para esse processo, Zago destacou que, ao longo de seus primeiros 60 anos de existência, completados em 2022, a FAPESP investiu R$ 60 bilhões em 180 mil bolsas, 130 mil projetos de pesquisa e 23 mil projetos de colaboração internacional. Mais de 27 mil projetos, entre eles quase 13 mil novos, foram apoiados em 2024, com um investimento superior a R$ 1,76 bilhão.
Além da concessão de bolsas – de iniciação científica, mestrado, doutorado, pós-doutorado e treinamento técnico – e de auxílios – projetos Regulares; Temáticos; Jovens Pesquisadores e encontros científicos –, a FAPESP mantém um conjunto de programas estratégicos de grande impacto, como pesquisas sobre mudanças climáticas, transição energética e tecnologias quânticas, e programas de parcerias com empresas ou de apoio a políticas públicas, dentre outras atividades. “Apoiamos também centros de pesquisa de longo prazo. Uma das modalidades é a dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão [CEPIDs], que reúnem pesquisa básica e transferência de tecnologia. São projetos de dez anos, com grandes equipes, normalmente de 20 ou mais pesquisadores, trabalhando juntos em um tema, em diferentes áreas”, disse o presidente.
Interdisciplinaridade
Além de Zago, falaram na cerimônia de abertura o diretor-presidente e o diretor científico da FAPESP: Carlos Graeff e Marcio de Castro, respectivamente. Dirigindo-se a uma plateia formada por pós-doutorandos em humanidades, ciências sociais e artes, ambos ressaltaram a complementaridade entre os diferentes campos do conhecimento e a importância da interdisciplinaridade.
“Se voltássemos 200 anos no tempo, talvez fosse possível aprender praticamente todo o conhecimento produzido pela humanidade em dez ou 20 anos de estudo. Hoje, isso é absolutamente impossível. Por isso, as barreiras à interdisciplinaridade são um grande obstáculo ao progresso. Ao mesmo tempo, as ideias novas e ousadas costumam surgir justamente quando as pessoas conseguem derrubar essas paredes e conversar umas com as outras, atravessando diferentes campos. É aí que a criatividade realmente aparece”, afirmou Graeff.
Castro, por sua vez, sublinhou que “compreender a sociedade, a cultura, as expressões artísticas e os sistemas simbólicos é tão essencial quanto avançar nas fronteiras tecnológicas e biomédicas”. E acrescentou: “As humanidades e as ciências sociais desempenham um papel insubstituível na interpretação dos grandes desafios do nosso tempo – da desigualdade e das transformações políticas aos impactos ambientais, às mudanças tecnológicas e às formas em evolução da produção cultural. Esses campos nos ajudam a entender não só o mundo como ele é, mas o mundo que estamos ativamente construindo”.

Castro e Graeff: destaque para o papel fundamental da interdisciplinaridade (montagem com fotos de Erika de Faria/Temporal Filmes)
A palavra do comitê científico organizador do evento foi dada por Deisy das Graças de Souza, professora titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que falou em nome do coordenador, o professor da USP Oswaldo Baffa Filho. Ela destacou a importância da interação entre pesquisadores de diferentes áreas e gerações no enfrentamento dos desafios impostos à ciência contemporânea em escala global. “Isso ganha nuances especiais em uma época de crise da ciência. A credibilidade da ciência vem sendo erodida, creio que todos aqui concordam, e, nas humanidades, essa falta de credibilidade aparece até mesmo dentro da própria comunidade científica”, provocou, convidando os participantes a pensar e debater sobre o tema durante a semana de realização da Escola Interdisciplinar FAPESP 2025: Humanidades, Ciências Sociais e Artes.
O evento foi apresentado por Gabriela Pellegrino Soares, professora do Departamento de História da USP, assessora da Diretoria Científica da FAPESP e também integrante da Comissão Científica responsável pelas conferências e escolas interdisciplinares da FAPESP. E recebeu as boas-vindas do professor Gerson Francisco, diretor-presidente do Instituto Principia.
A cerimônia foi finalizada com uma apresentação musical do Trio São Paulo Ensemble, com obras de Mozart, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Hervé Cordovil e Sinhô.
Mais informações sobre a Escola Interdisciplinar FAPESP 2025: Humanidades, Ciências Sociais e Artes em: escolafapesp2025humanas.webeventos.tec.br/.
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