O economista Bresser Pereira, em Caxambu

Laboratório social
23 de outubro de 2003

Primeiro ano do governo Lula tem se mostrado cenário rico para análises dos cientistas sociais. Durante a reunião da Anpocs, o assunto provocou debates entusiasmados. Para Luiz Werneck Vianna (foto), do Iuperj, o pior que pode acontecer é a descrença nas instituições públicas por parte da população

Laboratório social

Primeiro ano do governo Lula tem se mostrado cenário rico para análises dos cientistas sociais. Durante a reunião da Anpocs, o assunto provocou debates entusiasmados. Para Luiz Werneck Vianna (foto), do Iuperj, o pior que pode acontecer é a descrença nas instituições públicas por parte da população

23 de outubro de 2003

O economista Bresser Pereira, em Caxambu

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - Os cientistas sociais brasileiros estão com uma oportunidade ímpar nas mãos. Essa é uma das certezas saída dos debates realizados durante a 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais (Anpocs), que termina nesta sexta-feira (23/10), em Caxambu (MG).

De acordo com os especialistas reunidos no evento, ter um governo de esquerda, pela primeira vez no comando do país, permite que muitas análises sociais sejam corroboradas, ou então, absolutamente derrubadas. O ineditismo representa uma oportunidade de verificar as aplicações práticas de teorias sociológicas ou políticas.

"A única certeza que tenho no momento é que chove lá fora", disse o cientista político Luiz Werneck Vianna, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e presidente da Anpocs, provocando risos dos presentes em uma sessão montada especificamente para discutir o atual governo brasileiro. "Mas é preciso ter prudência, pois o assunto é extremamente sério", disse em seguida.

Para Vianna, está claro que o Partido dos Trabalhadores (PT) migrou em direção ao centro, ao mesmo tempo em que conseguiu espantar alguns fantasmas. "Lembram-se que todos temiam, aqui mesmo nessa reunião no ano passado, que uma espécie de Hugo Chaves assumisse o Brasil?", questionou aos presentes, para em seguida dizer que o país se encontra, depois de quase dez meses da posse, bem alinhado em termos internacionais.

Na opinião de Vianna, a pior tragédia que pode ocorrer, em termos políticos, é a descrença nas instituições públicas por parte da população, que espera pelo resgate da dívida social. "Há o risco de o governo se acomodar e desistir das mudanças. Um crescimento de 2% ao ano, por exemplo, pode levá-lo à releição, sem a necessidade de ter que fazer reformas", disse.

Do lado econômico, o professor Luís Carlos Bresser Pereira, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, mostrou em Caxambu um quadro muito negativo do país. Segundo o economista, não há como imaginar um crescimento para os próximos três anos maior que 3%, em termos brutos.

Para Bresser Pereira, esse quadro deve ocorrer porque não há coragem, na opinião dele, de se mudar as políticas cambiais e de juros. "O Brasil precisa atingir a estabilidade macroeconômica", disse. Na opinião do economista, dentro do laboratório social que se tornou o Brasil hoje, essa é uma das variáveis que precisa ser imediatamente ajustada.


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