Estudo revela o lado cientista do Patriarca da Independência do Brasil

José Bonifácio, o químico
19 de abril de 2006

Estudo analisa trabalho do Patriarca da Independência, feito para a Academia Real das Ciências de Lisboa, com alternativas para desinfetar cartas vindas de regiões onde havia doenças como febre amarela

José Bonifácio, o químico

Estudo analisa trabalho do Patriarca da Independência, feito para a Academia Real das Ciências de Lisboa, com alternativas para desinfetar cartas vindas de regiões onde havia doenças como febre amarela

19 de abril de 2006

Estudo revela o lado cientista do Patriarca da Independência do Brasil

 

Agência FAPESP - José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) é conhecido como o Patriarca da Independência, mas o historiador Alex Gonçalves Varela resolveu estudar uma parte pouco lembrada da vida do personagem.

Nascido em Santos de família da aristocracia portuguesa, José Bonifácio, após o ensino preparatório em São Paulo, mudou-se para Portugal, onde esteve de 1780 a 1819. No longo período, estudou na Universidade de Coimbra, formando-se em filosofia natural e direito canônico, e desenvolveu uma série de atividades como naturalista e pesquisador, especializando-se em mineralogia.

Em artigo publicado na revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos, Varela, aluno de pós-graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contextualiza os trabalhos de Andrada e Silva feitos em Portugal no campo da química.

Segundo o estudo, a vida do Patriarca da Independência na Europa teve uma movimentação intensa. "Ele participou de viagens científicas a pedido do governo português por importantes áreas de mineração na Europa Central e do Norte", escreve Varela. Além disso, como membro da Academia Real das Ciências de Lisboa publicou diversos trabalhos no âmbito da história natural e administrou espaços governamentais ligados à mineração.

Entre as várias contribuições de José Bonifácio, uma está ligada diretamente à história da química do período. Segundo Varela, o ministro da Coroa Britânica em Lisboa iniciou, em 1813, um interessante debate científico. Ele acreditava que o método para desinfetar correspondências vindas de regiões onde havia pragas, como a febre amarela, deveria ser baseado nos avanços da química daquele tempo.

Até então, era usado o ácido acético e todas as correspondências precisavam ser abertas para fazer a desinfecção. Andrada e Silva e outros dois membros da Academia Real das Ciências foram designados para dar um parecer técnico sobre o problema. Depois de pesquisas em laboratórios e nos estudos que estavam sendo feitos principalmente por cientistas na França, eles escreveram um manuscrito, que nunca chegou a ser publicado para o grande público, mas que mostrava grande ressonância com avanços da química.

Dentro de outro tipo de conhecimento epidemiológico – a noção de contágio era bem diferente das atuais e acreditava-se que as doenças poderiam ser adquiridas pelos sentidos –, José Bonifácio e companheiros não descartaram a eficiência do ácido acético e afirmaram que as cartas não ofereciam tantos riscos como se imaginava. Entre os antissépticos estudados, definiram como mais poderoso o "gás oximuriático", por ser considerado o mais inflamável. A substância também poderia ser usada sem precisar abrir as correspondências.

Escrito em 1815, o parecer é praticamente contemporâneo à descoberta, feita em 1808 pelo químico inglês Humphry Davy (1778-1829), de que o gás oximuriático era um elemento químico, conhecido hoje pelo nome de cloro.

Para ler o artigo Um manuscrito inédito do naturalista José Bonifácio de Andrada e Silva: o parecer sobre o método de desinfetar as cartas vindas de países estrangeiros, na biblioteca virtual SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.