Exposição e viagem pelos rios Negro e Uapés resgatam a trajetória pela Amazônia de Alfred Wallace, que, independentemente de Darwin, propôs uma teoria para a evolução por meio da seleção natural (foto: divulgação/F.Edwards)

Jornada evolucionária
26 de novembro de 2008

Exposição e viagem pelos rios Negro e Uapés resgatam a trajetória pela Amazônia de Alfred Wallace, que, independentemente de Darwin, propôs uma teoria para a evolução por meio da seleção natural

Jornada evolucionária

Exposição e viagem pelos rios Negro e Uapés resgatam a trajetória pela Amazônia de Alfred Wallace, que, independentemente de Darwin, propôs uma teoria para a evolução por meio da seleção natural

26 de novembro de 2008

Exposição e viagem pelos rios Negro e Uapés resgatam a trajetória pela Amazônia de Alfred Wallace, que, independentemente de Darwin, propôs uma teoria para a evolução por meio da seleção natural (foto: divulgação/F.Edwards)

 

Por Michelle Portela, de Manaus

Agência FAPESP – O fotógrafo inglês Fred Langford Edwards está em meio a uma jornada, não somente em busca da realização de uma idéia, mas também para tentar mudar o pouco conhecimento que se tem de Alfred Wallace (1823-1913), em comparação com Charles Darwin (1809-1882), quando se fala da Teoria da Evolução das espécies pela seleção natural.

Edwards realiza uma viagem fotográfica que terminará no fim do mês e que tem como objetivo refazer a trajetória de Wallace, registrando a vida ao longo dos rios Negro e Uapés, na região do município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus.

Edwards é também o idealizador da exposição Alfred Wallace – O evolucionista esquecido, que homenageia os 150 anos da Teoria da Evolução, formulada a partir dos trabalhos de Darwin e Wallace. A exposição, inaugurada em julho no País de Gales, ficará no shopping Millenium Center, em Manaus, até dezembro, para depois ser exibida em Brasília e São Paulo, em locais a serem definidos.

A exposição de 50 fotografias veio de Londres com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia do Amazonas (SECT) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ela é resultado da primeira fase de um projeto de três anos para tentar trazer a memória de Wallace à história, desenvolvido com apoio do Museu de História Natural de Londres.

As fotografias foram produzidas a partir de gravuras de peixes e palmeiras, feitas por Wallace, que de 1848 a 1852 percorreu trechos do rio Negro e Uapés. O naturalista coletou espécimes e registrou dados sobre a geografia, flora, fauna, linguagens e pessoas que encontrou pelo caminho.

No retorno da sua expedição para a Inglaterra, o navio no qual viajava se incendiou e passageiros e tripulantes foram obrigados a abandoná-lo. Poucas anotações e gravuras foram salvas. Mesmo com o grande prejuízo, Wallace conseguiu publicar nos anos seguintes seis artigos acadêmicos e dois livros sobre a região que conheceu, Palmeiras da Amazônia e seus usos e Viagens na Amazônia.

“Não por acaso, tenho muita identificação com Wallace, sobre quem me interessei quando li a biografia de Darwin, por volta de 1968. Assim como ele, percorri um longo caminho em busca de financiamento para realizar esse projeto, que é uma releitura do que foi documentado por ele. São trabalhos próximos em épocas distintas”, disse Edwards, que é mestre em teoria da arte, com graduação em química e fotografia.

Edwards destaca que grande parte dos estudos de Wallace sobre a evolução foi embasada na viagem que realizou à Amazônia, quando a região ainda era considerada um "novo mundo”. “Ele acreditou que na Amazônia encontraria a resposta para o problema da evolução das espécies”, disse.

“Em minha viagem, pretendo fotografar, filmar e registrar a vida na região dos rios Negro e Uapés, para tentar compreender suas dificuldades e interesses. Sinto que esse é um projeto muito urgente, maior que a realização de um projeto pessoal, porque posso ajudar no reconhecimento de Wallace”, disse o artista antes do início da viagem.

O reconhecimento também é almejado por pesquisadores. “É uma grande polêmica a questão da Teoria da Evolução. Mas é fato que Wallace merece um maior reconhecimento”, disse Hugo Mesquita, pesquisador do Inpa.

Para Mesquita, Wallace, além de ser autodidata, era socialista e espírita, posições que poderiam ajudar a explicar, quem sabe, uma omissão histórica. “Era um homem que não aceitava as respostas fáceis sobre a origem de vida e que teve uma trajetória impressionante. Se não estamos falando de um herói, sabemos que, pelo menos, foi alguém muito especial”, disse.

Após retornar de sua viagem à Amazônia, Edwards partirá para uma nova fase de sua jornada “wallaciana”. Será a vez da Malásia e Indonésia, percorrendo os caminhos de Wallace, que lá esteve entre 1854 e 1862. Em 1858, Wallace escreveu a Darwin, expondo suas idéias sobre a evolução das espécies, o que levou à divulgação conjunta dos trabalhos.

Em 1º de julho de 1858, as teorias dos dois foram apresentadas na Linnean Society, em Londres, com o título duplo On the Tendency of Species to form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection. No ano seguinte, Darwin publicaria A origem das espécies.
 

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