O game pode ser acessado aqui (imagem: Hugo Cestari)

Povos indígenas
Jogo leva a crianças o universo Yanomami
28 de novembro de 2025

O game Eli e a Queda do Céu em território Yanomami transforma o pensamento do xamã e ativista Davi Kopenawa em ferramenta de alfabetização e educação ambiental; obra foi produzida por grupo da UFSCar

Povos indígenas
Jogo leva a crianças o universo Yanomami

O game Eli e a Queda do Céu em território Yanomami transforma o pensamento do xamã e ativista Davi Kopenawa em ferramenta de alfabetização e educação ambiental; obra foi produzida por grupo da UFSCar

28 de novembro de 2025

O game pode ser acessado aqui (imagem: Hugo Cestari)

 

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Um herói indígena infantil, chamado Eli, percorre a Floresta Amazônica enfrentando entes malignos, que encarnam aqueles que derrubam as árvores, queimam a mata, poluem as águas e extraem minérios movidos pela ganância. Esta é a proposta de Eli e a Queda do Céu em território Yanomami, jogo em formato de plataforma digital criado pelo laboratório Leetra, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se dedica à investigação de práticas linguageiras e identitárias, ao letramento digital e à literatura ameríndia, sob a coordenação da professora Maria Sílvia Cintra Martins, professora do Departamento de Letras da UFSCar.

Inspirado no livro A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, o jogo pretende ser, ao mesmo tempo, um material de apoio para práticas interdisciplinares de alfabetização e letramento e uma introdução lúdica à cosmovisão indígena e às questões ambientais que afetam toda a humanidade.

“A ideia era criar uma ferramenta pedagógica que ajudasse professores da educação infantil e do ensino fundamental 1 a trabalhar com conteúdos sobre povos indígenas, conforme determina a Lei 11.645/08”, diz Martins. “Os docentes manifestam grande demanda por esse tipo de material e o jogo pode facilitar muito o trabalho em sala de aula.”

O novo jogo dá continuidade a uma trajetória iniciada pelo Leetra com os jogos Jeriguigui e o jaguar na terra dos Bororos e Kawã na terra dos indígenas Maraguá, ambos apoiados pela FAPESP por meio do projeto “Tradução, poética e artefatos culturais em práticas de letramento na educação infantil”.

“Os dois projetos anteriores tiveram excelente retorno de professores e alunos”, recorda a coordenadora. “As crianças jogaram com interesse e curiosidade e os educadores viram neles um recurso concreto para abordar a diversidade cultural brasileira. O sucesso nos levou a propor um novo projeto, centrado na experiência Yanomami. Para isso, nos baseamos nas obras A Queda do Céu e O Espírito da Floresta, de Kopenawa e Albert”.

O roteiro do jogo foi então desenvolvido em parceria com engenheiros e designers especializados em games. O resultado pode ser acessado gratuitamente no site do laboratório.

O personagem central, o menino Eli, não existe nos textos de Kopenawa – é uma criação original da equipe. “Queríamos um protagonista infantil que permitisse às crianças se reconhecerem nele”, afirma Martins. “Eli tem traços xamânicos e enfrenta os entes malignos da floresta, símbolos dos males denunciados por Kopenawa: o desmatamento, as queimadas, a poluição, a mineração ilegal, a destruição da Terra.”

O jogo inclui ainda livretos de iniciação à língua Yanomami, uma inovação que amplia sua dimensão educativa e intercultural. A ideia é que o material seja utilizado tanto por crianças quanto por educadores, de forma autônoma ou mediada em sala de aula. “Dependendo da idade, a criança pode jogar sozinha, mas o ideal é que haja o acompanhamento. Assim, as questões levantadas no jogo – ambientais, culturais e linguísticas – podem ser aprofundadas”, argumenta Martins.

Os ensinamentos de Kopenawa

Publicada originalmente em francês, em 2010, e em português, cinco anos mais tarde, A Queda do Céu é considerada uma das obras mais importantes da antropologia contemporânea. O livro reúne as palavras do xamã Davi Kopenawa Yanomami narradas ao antropólogo francês (nascido no Marrocos) Bruce Albert ao longo de mais de 30 anos de convivência.

Na obra, Kopenawa descreve sua iniciação xamânica, denuncia a devastação da floresta e alerta para o perigo de um colapso cósmico: a “queda do céu”, que seria provocada pela ganância. A dimensão ecológica e espiritual do texto transformou-o em referência mundial em debates sobre meio ambiente, colonialismo e direitos indígenas.

“Os males que afetam o povo Yanomami dizem respeito também à nossa sobrevivência e à do planeta”, comenta Martins. “Transformar essa visão em jogo é uma forma de fazer crianças e adultos pensarem juntos sobre o que estamos fazendo com a Terra.”

O jogo Eli e a Queda do Céu em território Yanomami pode ser acessado em: www.leetra.ufscar.br/artifacts/view/29.
 

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