29ª Assembleia Geral da União Internacional de Física Pura e Aplicada, realizada no campus da USP, estabelece percentual mínimo de 20% para a presença de mulheres em suas conferências e comissões (foto: University of Nebraska - Lincoln)
29ª Assembleia Geral da União Internacional de Física Pura e Aplicada, realizada no campus da USP, estabelece percentual mínimo de 20% para a presença de mulheres em suas conferências e comissões
29ª Assembleia Geral da União Internacional de Física Pura e Aplicada, realizada no campus da USP, estabelece percentual mínimo de 20% para a presença de mulheres em suas conferências e comissões
29ª Assembleia Geral da União Internacional de Física Pura e Aplicada, realizada no campus da USP, estabelece percentual mínimo de 20% para a presença de mulheres em suas conferências e comissões (foto: University of Nebraska - Lincoln)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – A União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP, na sigla em inglês), em sua 29ª Assembleia Geral, realizada pela primeira vez na América Latina, dedicou atenção especial à desproporção entre as participações feminina e masculina nas conferências internacionais realizadas sob sua chancela.
A IUPAP também estabeleceu a meta mínima de 20% para a presença de mulheres entre os participantes das comissões consultivas (de programa e organizadoras das conferências) e solicitou aos organizadores zelarem pelo aumento da proporção feminina entre os palestrantes convidados. A assembleia ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), de 8 a 13 de outubro de 2017, com apoio da FAPESP.
No triênio 2015-2017, a média mundial de participação feminina nos eventos da instituição foi de 17% entre integrantes das conferências, 18% entre participantes das comissões e 17% entre palestrantes convidados. Estes e outros números foram obtidos em um levantamento feito por Alinka Lépine-Szily, professora titular sênior do Instituto de Física da USP (IFUSP) e vice-presidente da IUPAP.
“Analisei dados de 65 conferências internacionais, realizadas entre 2015 e 2017, nas 18 áreas da Física cobertas pela IUPAP, e fiz uma comparação entre cinco regiões: América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia-Pacífico e África. Os resultados foram bastante surpreendentes. Sempre pensei que a Europa fosse a melhor posicionada quanto à equidade de gênero, mas foi a pior nos quesitos ‘proporção de mulheres nas comissões’ e ‘palestrantes convidados’. Enquanto os números na América do Sul ficaram acima de 22%, os percentuais europeus se situaram na faixa de 13%, 15% e 17% ”, disse Lépine-Szily à Agência FAPESP.
Ao longo dos três anos, ocorreram 31 conferências patrocinadas pela IUPAP na Europa e 34 no resto do mundo. Ou seja, o número de conferências europeias foi quase igual ao de todas as demais regiões em conjunto. O que pressionou os percentuais da Europa para baixo foram conferências relativamente pequenas, com cerca de 100 participantes, nas quais não houve nenhuma mulher nas comissões e pouquíssimas entre os participantes e palestrantes.
“Foi como se a IUPAP tivesse patrocinado reuniões de clubes de senhores. Não acredito que isso corresponda à situação real, ao número de mulheres atuantes em Física. Por isso, a 29ª Assembleia Geral estabeleceu, como recomendação para todas as instituições nacionais afiliadas, que seja alcançada a meta de 20%. E definiu, como regra mais dura, que reuniões com participação feminina menor do que 10% não sejam aceitas. Os organizadores terão um prazo de algumas semanas para fazer as devidas correções”, disse Lépine-Szily.
Até o momento, a investigação referencial sobre a desequilíbrio de gênero na comunidade dedicada à Física foi o levantamento global realizado em 2011 por Rachel Ivie e Casey Langer Tesfaye, do Centro de Pesquisa Estatística do American Institute of Physics (AIP), publicado em fevereiro de 2012 na revista Physics Today, com o título Women in physics: a tale of limits.
O questionário dessa pesquisa, disponibilizado em oito idiomas, foi respondido por 14.932 físicos, homens e mulheres, de 130 países. E, entre seus resultados, o mais expressivo da desigualdade foi o relativo ao impacto exercido na trajetória de jovens físicos pelo nascimento de filhos.
Nos países menos desenvolvidos, 65% das mulheres e 20% dos homens tiveram paradas significativas ou interrupções nos estudos devido ao nascimento de filhos durante o período de doutorado. Nos países altamente desenvolvidos, os percentuais foram de 55% para mulheres e 15% para homens.
Desde 2011, muita coisa mudou. Por isso, uma nova pesquisa, intitulada “Gender Gap in Science”, está sendo projetada no âmbito do International Council for Science (ICSU), que congrega entidades nacionais e internacionais dedicadas a diversas atividades científicas, entre elas, a IUPAP.
O levantamento pretende alcançar 45 mil cientistas, homens e mulheres, de mais de 130 países, utilizando ao menos 10 idiomas. E fará também um levantamento exaustivo do material publicado por mais de 500 mil cientistas, desde 1970.
Igle Gledhill, professora da School of Mechanical, Industrial and Aeronautical Engineering, da University of the Witwatersrand, da África do Sul, é a representante da IUPAP na iniciativa. Ex-presidente do South African Institute of Physics, Gledhill preside atualmente o Grupo de Trabalho 5 da IUPAP, voltado para participação da mulher em Física.
“Estamos realizando workshops em várias regiões do mundo para definir as perguntas que devem ser incluídas no novo questionário”, disse à Agência FAPESP. “É muito importante basear nossas ações em evidências. Precisamos agir de maneira lógica, para poder formular as melhores recomendações. A inclusão é o princípio fundamental. Os homens não podem ser excluídos. Ao contrário, precisam ser considerados parte integral da mudança a ser alcançada.”
Segundo Gledhill, a pesquisa deverá detectar contrastes e similaridades, considerando as diferentes regiões e culturas, a distinção entre países mais e menos desenvolvidos e as diversas disciplinas abrigadas sob o guarda-chuva da ciência.
“A iniciativa terá a participação dos escritórios regionais do ICSU e também da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura]. Esperamos que a investigação seja compatível com o levantamento de 2011 e, ao mesmo templo, que incorpore as recentes mudanças político-sociais e detecte as principais tendências”, disse.
Prêmios Nobel e os novos desafios em Física
Com a participação de dois ganhadores do Prêmio Nobel de Física – William Phillips (1997) e David Wineland (2012) – foi realizado, conjuntamente com a 29ª Assembleia Geral da IUPAP, um workshop que teve por tema “New Challenges in Pure and Applied Physics” (“Novos Desafios em Física Pura e Aplicada”).
Segundo o físico australiano Bruce McKellar, presidente da IUPAP, a escolha de um tema tão genérico foi a forma encontrada para integrar as diferentes comissões da associação, que trabalham nas mais diversas áreas da Física. “Os presidentes das 18 comissões da IUPAP, que cobrem todas as áreas modernas da Física, estavam presentes na Assembleia Geral. E decidimos aproveitar essa oportunidade rara para dar a palavra a todos eles”, disse.
“No passado, as reuniões da IUPAP tratavam exclusivamente de questões administrativas. Nesta 29ª Assembleia Geral, procuramos agregar também workshops. A Física é uma disciplina extremamente ampla, que se subdivide em muitas áreas. Em vez de criar uma instituição para cada área, o que fizemos foi criar comissões, todas elas agrupadas na mesma instituição. A ideia que nos levou a adotar um tema tão amplo foi possibilitar que cada comissão comunicasse às demais aquilo que está sendo feito em sua área”, acrescentou.
Perguntado sobre quais seriam, na opinião dele, os maiores dos “novos desafios em Física pura e aplicada”, McKellar destacou dois grandes campos de investigação: o da matéria e energia escuras; e o da estrutura da matéria em pequena escala
“Toda a Física produzida até hoje baseia-se em apenas 5% do conteúdo do Universo. O entendimento dos outros 95%, que identificamos por meio das expressões ‘matéria escura’ e ‘energia escura’, constitui um enorme desafio. Outro desafio é a investigação da estrutura da matéria em muito pequena escala. Trata-se de um campo mais aplicado, que possibilita criar novos materiais e novas soluções tecnológicas, mas também envolve conhecimento fundamental”, disse.
Ao longo de meio século de atividade como pesquisador e coordenador, McKellar acumulou vasta experiência internacional, a começar por sua participação no Instituto de Estudos Avançados da Princeton University, nos Estados Unidos, a convite de Robert Oppenheimer (1904-1967). Na Austrália, desempenhou importante papel tanto na institucionalização da pesquisa quanto na colaboração dos físicos australianos com colegas de outros países. Em 2014, tornou-se presidente da IUPAP.
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