Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, disse que a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas aumentou a visibilidade brasileira junto a empresas estrangeiras, que vêm demonstrando interesse em investir em estudos no Brasil. "Mas a nossa expectativa é que a iniciativa privada brasileira mude de mentalidade e também comece a apoiar as pesquisas no país", disse (foto: Thiago Romero)

Investimentos necessários
23 de julho de 2008

Para Mayana Zatz, da USP, liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias deu destaque ao país junto a empresas estrangeiras, mas ainda faltam investimentos nacionais na área

Investimentos necessários

Para Mayana Zatz, da USP, liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias deu destaque ao país junto a empresas estrangeiras, mas ainda faltam investimentos nacionais na área

23 de julho de 2008

Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, disse que a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas aumentou a visibilidade brasileira junto a empresas estrangeiras, que vêm demonstrando interesse em investir em estudos no Brasil. "Mas a nossa expectativa é que a iniciativa privada brasileira mude de mentalidade e também comece a apoiar as pesquisas no país", disse (foto: Thiago Romero)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Após a autorização pelo Supremo Tribunal Federal, em maio desse ano, do uso de células-tronco de embriões humanos em pesquisas científicas, Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) e uma das articuladoras da aprovação, disse que a falta de recursos é um dos principais desafios atuais para o bom andamento desse tipo de estudo no país.

A pró-reitora de pesquisa da USP apresentou a conferência “Pesquisas com células-tronco” na sexta-feira (18/7), último dia de atividades da 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas (SP), onde revelou estudos em andamento que utilizam células-tronco adultas.

“A liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil colocou o país numa posição de muito respeito frente à comunidade científica internacional, que está disposta a colaborar em vários aspectos com nossos estudos. Com a aprovação da lei, grupos da iniciativa privada de países europeus e dos Estados Unidos também vêm demonstrando interesse em investir em pesquisas no Brasil. Essa é uma possibilidade real”, destacou Mayana.

“Por maior que seja o interesse do governo brasileiro em investir nos estudos, a quantidade de recursos ainda é muito pequena em relação ao suporte financeiro disponível em outros países. Outro gargalo importante é a demora para importar materiais biológicos. Apesar do esforço do governo em melhorar essa situação, os pesquisadores brasileiros ainda levam meses para conseguir alguns tipos de material”, apontou.

A professora disse ter comprovado a boa repercussão estrangeira dos estudos brasileiros no 6º Congresso Internacional de Pesquisas com Células-Tronco, no Reino Unido, que teve a presença de mais de 2,8 mil cientistas da área. Mayana afirmou que, por outro lado, a participação das empresas nacionais no investimento das pesquisas básicas ainda é muito modesta e, caso fosse maior, certamente poderia acelerar os experimentos.

“Enquanto apenas com as verbas públicas é possível testar um ou dois animais de cada vez, com as verbas privadas seria possível trabalhar com mais indivíduos e termos mais resultados simultâneos. Temos vários laboratórios no Brasil com potencial para desenvolver pesquisas com células-tronco, que precisam justamente de mais investimento e know-how”, explicou Mayana.

“A nossa expectativa é que a iniciativa privada brasileira mude de mentalidade e comece a investir nesse tipo de pesquisa no país, principalmente com os novos incentivos da lei de inovação que proporcionam uma maior interação da academia com as empresas. A oferta de colaboração internacional é gigantesca e vai desde a vinda de cientistas estrangeiros ao Brasil para lecionar cursos até o envio de células para serem injetadas em nossos modelos experimentais”, complementou.

Mayana, que possui mais de 200 trabalhos científicos publicados, lembrou que as pesquisas com células-tronco abrem um futuro ainda imensurável de possibilidades, não apenas do ponto de vista da terapia celular como também para entender o funcionamento dos genes humanos. Segundo ela, o Centro de Estudos do Genoma Humano da USP publicou, nos últimos dois anos, nove trabalhos em revistas científicas internacionais com resultados de estudos que utilizaram células-tronco adultas.

“É possível que nunca tenhamos que injetar células-tronco embrionárias em humanos para o tratamento de doenças, mas hoje a importância de pesquisar esse tipo de célula está em aprendermos como elas podem gerar novos tecidos”, afirmou Mayana. O grande problema das tentativas terapêuticas, segundo ela, é a perda de controle após a injeção das células-tronco.

“Corre-se o risco, por exemplo, de injetar células de músculo em um paciente que venham a crescer como osso. Entre outras aplicações, os investimentos permitirão um melhor entendimento sobre a manipulação dessas células”, explicou a também diretora presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular e professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP.

 

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