Avaliação foi feita por Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, em debate sobre os desafios das políticas públicas para inovação no Brasil na 70ª Reunião Anual da SBPC (foto: Elton Alisson / Agência FAPESP)

Investimento em inovação dependerá de diálogo com governo e sociedade
27 de julho de 2018

Avaliação foi feita por Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, em debate sobre os desafios das políticas públicas para inovação no Brasil na 70ª Reunião Anual da SBPC

Investimento em inovação dependerá de diálogo com governo e sociedade

Avaliação foi feita por Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, em debate sobre os desafios das políticas públicas para inovação no Brasil na 70ª Reunião Anual da SBPC

27 de julho de 2018

Avaliação foi feita por Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, em debate sobre os desafios das políticas públicas para inovação no Brasil na 70ª Reunião Anual da SBPC (foto: Elton Alisson / Agência FAPESP)

 

Elton Alisson, de Maceió (AL)  |  Agência FAPESP – A inovação tecnológica é fundamental para melhorar a qualidade de vida da população e acelerar o crescimento econômico do Brasil. A permanência e o aumento dos investimentos nessa área só serão possíveis, contudo, se os formuladores de políticas científicas e tecnológicas conseguirem estabelecer um diálogo com o governo e a sociedade no sentido de mostrar a importância da inovação para o aumento da produtividade do país.

A avaliação foi feita por Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, em mesa-redonda sobre os desafios das políticas públicas para a inovação realizada no dia 25 de julho, durante a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que ocorre até o dia 28 no campus da Universidade Federal de Alagoas.

“Se a sociedade e o governo forem capazes de entender que para aumentar a produtividade brasileira é preciso investir em inovação, talvez tenhamos alguma chance de diálogo”, disse Pacheco.

Segundo ele, a produtividade brasileira, fundamental para aumentar a renda da população sem gerar inflação, está estagnada há 25 anos, enquanto a produtividade do mundo tem crescido. A inovação tecnológica é o principal determinante para aumentá-la no longo prazo.

No caso do Brasil, entretanto, dado o atraso institucional do país – onde, por exemplo, é difícil fechar uma empresa, cumprir as obrigações tributárias e a burocracia é enorme –, talvez as reformas institucionais sejam capazes, no curto prazo, de melhorar a produtividade tecnológica mais rápido do que a inovação tecnológica, estimou Pacheco.

“A inovação tecnológica, porém, é crítica para o aumento da produtividade do país a longo prazo e saber explorar isso de forma inteligente é importante por ser a única linguagem que a área econômica de qualquer governo do país consegue identificar no diálogo sobre ciência e tecnologia”, disse.

Segundo o diretor-presidente da FAPESP, os formuladores de políticas científicas e tecnológicas e a comunidade científica, no geral, também têm que ter maior habilidade de explicar para a sociedade o que os investimentos em ciência, tecnologia e inovação resultam em termos de desenvolvimento econômico e social e melhoria na qualidade de vida.

Esse esforço terá que ser maior especialmente agora, quando o país vive uma grave crise econômica e o sistema nacional de ciência e tecnologia foi seriamente impactado, apontou.

“A reconstrução do sistema nacional de ciência e tecnologia só será possível se formos capazes de explicar para a sociedade por que os investimentos nessas áreas são importantes e que benefícios sociais e econômicos podem trazer”, disse Pacheco.

Na avaliação dele, uma nova geração de políticas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil deve atentar para alguns requisitos, como recursos humanos, capacitação científica, flexibilidade para cooperação público-privada, boa governança e gestão adequada. Além disso, deve apontar questões objetivas que podem dar um rumo ao Brasil a partir de desafios que o país enfrenta ou com os quais vai se deparar, ter foco e selecionar algumas prioridades.

“Não dá para ter uma agenda de ciência, tecnologia e inovação que vá desde a felicidade geral da nação até a biodiversidade, passando por nanomateriais, por exemplo. É preciso criar uma mensagem mais sintética e traduzível do ponto de vista da inovação de coisas que são possíveis tocar para a frente”, disse.

Segundo Pacheco, uma das áreas prioritárias em uma nova geração de políticas de inovação é a agricultura de precisão. A cadeia do agronegócio responde por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e tem passado por uma revolução tecnológica, caracterizada pelo uso cada vez maior de sensores e drones com o intuito de aumentar a eficiência no campo.

“O setor do agronegócio brasileiro transformou a tecnologia em algo endógeno, o que sempre foi o nosso sonho para a indústria brasileira. Temos na carteira de empresas apoiadas pelo programa PIPE da FAPESP um número gigantesco de agrotechs, como chamamos as startups cujo foco de negócio é o desenvolvimento de tecnologias para o setor agrícola”, disse.

A agricultura de precisão, em conjunto com a biologia sintética, a engenharia genética e práticas sustentáveis podem alavancar o conjunto de cadeias de valor que se articulam com o mundo real, avaliou Pacheco.

Experiência internacional

Na opinião de Luiz Antonio Rodrigues Elias, ex-secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) no período de 2006 a 2014, além da inovação, os países enfrentam hoje novos desafios no comércio, na produção e na concorrência.

Segundo ele, o comércio mundial fragmentou geograficamente várias cadeias de valor. Empresas de países avançados terceirizaram a produção e se concentraram nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), design e marketing. Novos produtores – especialmente da Ásia – avançaram em P&D e passaram a disputar a liderança global.

Elias comentou que países avançados, como Estados Unidos, Japão e Alemanha, têm reagido a essas mudanças aumentando os dispêndios em ciência, tecnologia e inovação. Na contramão, países da América do Sul e do Caribe têm intensificado a dependência em matérias-primas, e o Brasil tem diminuído os dispêndios em ciência, tecnologia e inovação.

“Algumas das lições que o Brasil poderia aproveitar da experiência internacional é que é essencial reforçar e articular sistemas de ciência, tecnologia e inovação e induzir atividades permanentes de engenharia e P&D no sistema empresarial por meio de ecossistemas produtivos e inovativos e ampliar a infraestrutura científica e tecnológica”, disse.

Segundo Elias, algumas premissas para uma estratégia brasileira de inovação devem ser reconhecer e endereçar os anseios da sociedade por qualidade de vida e ambiental; construir consenso em torno de uma visão nacional; partir dos legados; e ter visões e metas ambiciosas para tirar proveito das oportunidades.

“O país também precisa de uma estratégia de formação de recursos humanos produtiva, inovativa, consistente e de longo prazo”, disse.
 

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