Miguel Nicolelis defende uma nova gestão para a neurociências
(foto: E. Geraque)

Interface cérebro-sociedade
30 de agosto de 2005

Dentro dos laboratórios, a partir dos resultados, aproximar a ciência básica das aplicações clínicas. Para Miguel Nicolelis, esse será um dos caminhos da neurociência, que também precisa ganhar um novo modelo de gestão

Interface cérebro-sociedade

Dentro dos laboratórios, a partir dos resultados, aproximar a ciência básica das aplicações clínicas. Para Miguel Nicolelis, esse será um dos caminhos da neurociência, que também precisa ganhar um novo modelo de gestão

30 de agosto de 2005

Miguel Nicolelis defende uma nova gestão para a neurociências
(foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Na ousadia de tentar entender como grandes circuitos neurais funcionam, o grupo da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, liderado pelo brasileiro Miguel Nicolelis, tem obtido resultados importantes. Uma das hipóteses de trabalho mais reforçadas nos últimos tempos caminha no sentido de aproximar as ciências básicas das aplicações clínicas.

Estudos realizados com primatas vêm provando que o cérebro desses animais é capaz de incorporar, por exemplo, um braço artificial como se fosse uma extensão normal do corpo. Será que as atividades cerebrais dos primatas podem ir além da pele? Essa é uma pergunta que está sendo feita pelo grupo liderado por Nicolelis. Eles estão trabalhando em instrumentos que poderão ser chamados de neuropróteses corticais.

"Entender o cérebro é entender a nossa espécie", gosta de dizer Nicolelis. Para ele, a neurociência, a partir desses novos paradigmas experimentais, precisa caminhar no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas, de oferecer um retorno para a sociedade. "A neurociência também capta a imaginação da sociedade", explica o pesquisador, que fez a conferência de encerramento da Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), no último fim de semana, em Águas de Lindóia (SP).

A partir de tudo isso, acredita Nicolelis, um novo modelo de gestão em neurociência precisa ser implementado. "É por isso que um sonho como o de criar o Instituto Internacional de Neurociências de Natal está cada vez mais forte", disse à Agência FAPESP.

Essa instituição, que deve começar a funcionar no fim do ano na capital do Rio Grande do Norte, vai fazer parte de uma rede internacional de neurociências. Além do Brasil, centros de pesquisa nos Estados Unidos e na Europa, segundo Nicolelis, já confirmaram a participação na rede.

"Claro que nem sempre é fácil. As dificuldades ocorrem", afirmou o pesquisador. No caso da construção do centro de Natal, por exemplo, a expectativa era que as atividades de pesquisa e sociais que fazem parte da iniciativa já estivessem sendo desenvolvidas. "O resultado é muito bom. Até agora, em um ano e meio de coleta de recursos conseguimos obter algo próximo dos R$ 10,7 milhões", afirma Nicolelis. Os recursos foram conseguidos com as iniciativas pública e privada tanto do Brasil como do exterior.

O primeiro edifício do ousado plano de Nicolelis, e isso foi anunciado na reunião da Fesbe, levará o nome professor César Timo-Iaria. "Não tenho dúvida de que esse é o pai da neurociência brasileira", disse Nicolelis, que foi orientado pelo pesquisador da Universidade de São Paulo, que morreu em junho aos 80 anos.


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