Insensibilidade ambiental
23 de maio de 2005

Sem atrativos econômicos e com a pressão cada vez maior da agropecuária, conservar os poucos fragmentos de Cerrado em São Paulo tem sido uma missão quase impossível. Livro que será lançado no dia 31 reúne pesquisas sobre o ecossistema na última década

Insensibilidade ambiental

Sem atrativos econômicos e com a pressão cada vez maior da agropecuária, conservar os poucos fragmentos de Cerrado em São Paulo tem sido uma missão quase impossível. Livro que será lançado no dia 31 reúne pesquisas sobre o ecossistema na última década

23 de maio de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Um grande projeto científico interdisciplinar surgiu no início da segunda metade dos anos 1990 com o nome de Viabilidade de conservação dos remanescentes de Cerrado no Estado de São Paulo. O objetivo era mais do que claro: estudar o ecossistema e descobrir caminhos para o 1% do que resta dele em São Paulo continuar vivo e com um certo vigor.

Os principais resultados dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos desde então pela iniciativa, que está inserida no Programa Biota/FAPESP, estão reunidos em um livro, de nome homônimo ao do projeto. A obra será lançada no dia 31 de maio, em São Paulo. Em anexo, inclui um CD-ROM com mapas e anais dos principais simpósios realizados desde 1995.

"Infelizmente, depois da fase de diagnóstico chegamos à conclusão de que o que existe hoje no Estado e as populações de espécies nos fragmentos de Cerrado não conseguiriam sustentar nenhum mercado do ponto de vista econômico", disse a bióloga Renata Mendonça, uma das organizadoras do livro, à Agência FAPESP

Por lei, alguns fragmentos de "mato", na linguagem dos donos de terra, devem ser mantidos. Sem sustentabilidade comercial, a sobrevivência do Cerrado parece cada vez mais impossível. Para Renata, cultivos como a cana-de-açúcar, que cresce sobre os pastos degradados, poderão se tornar em breve mais uma grande ameaça sobre o que ainda resta do ecossistema em território paulista.

"A conservação desse ecossistema necessita de mudanças nas políticas públicas, com a criação de incentivos aos proprietários que possuem vegetação nativa em sua propriedade", afirma Renata, técnica do Departamento Estadual para a Conservação dos Recursos Naturais do Estado de São Paulo.

Números apresentados no livro Viabilidade de conservação dos remanescentes de Cerrado no Estado de São Paulo (Editora Annablume) mostram que a pressão ocorre há várias décadas. Dos 14% originais do ecossistema, em 1974 havia 4,18%. Em 1992, sobrou apenas 1,14%.

A ausência da sustentabilidade econômica, pelo menos em relação às atividades extrativistas, não serve de pretexto para que os fragmentos que ainda resistem sejam derrubados de vez. A sensibilidade social e política pode ser despertada por várias outras razões, como explica a pesquisadora Marisa Dantas Bitencourt, outra organizadora do livro e professora do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

"Preservar a rica biodiversidade do bioma Cerrado poderia ser argumento suficiente, desde que as pessoas e o poder público já tivessem alcançado um nível mínimo de sensibilidade sobre os temas do meio ambiente. Além disso, o Cerrado ocorre em áreas de recarga do Aqüífero Guarani, o que, por si só, também poderia ser outro bom motivo para preservar o que resta", disse a pesquisadora. Considerado uma importante reserva de água doce da América do Sul, o Guarani está localizado sob quatro paises: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina.

Mesmo diante do quadro aparentemente negativo do ponto de vista científico revelado pelo projeto, o próprio fato de os remanescentes do Cerrado estarem bastante pulverizados pode ser uma saída, na visão de Marisa. "O que sobrou é realmente muito pouco. Contudo, como os fragmentos são quase sempre pequenos e estão espalhados pelo Estado todo, há uma grande chance de se atingir pelo menos uma reabilitação do bioma nas áreas de seu domínio", disse.


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