Estudo realizado em peixes revela novo caminho para o controle das inflamações e dos tumores

Inflamação descontrolada
06 de julho de 2005

Pesquisador brasileiro do Instituto Salk, nos EUA, descobre mecanismo de controle dos processos inflamatórios e tumorais. Os resultados ajudam a explicar por que determinados medicamentos devem ser produzidos com cuidado

Inflamação descontrolada

Pesquisador brasileiro do Instituto Salk, nos EUA, descobre mecanismo de controle dos processos inflamatórios e tumorais. Os resultados ajudam a explicar por que determinados medicamentos devem ser produzidos com cuidado

06 de julho de 2005

Estudo realizado em peixes revela novo caminho para o controle das inflamações e dos tumores

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O já conhecido complexo enzimático IKK (I-kapaB quinase) pregou uma peça nos cientistas. Trabalho realizado pelo pesquisador brasileiro Ricardo Corrêa no Instituto Salk, nos Estados Unidos, mostra que, ao contrário de ativar processos inflamatórios e tumorais, parte dessas enzimas já inibe, de forma natural, os níveis inflamatórios e tumorais.

"Conseguimos mostrar, em vertebrados inferiores, no caso peixes ‘paulistinhas’, que dentro desse complexo existe uma subunidade, a IKK1, que age de forma adversa do que se imaginava até agora", disse Corrêa à Agência FAPESP

Antiinflamatórios já lançados no mercado partem de um raciocínio bastante simples. Como o complexo está envolvido na ativação da proteína NF-KapaB – ao menos era o que se pensava até agora –, que, por sua vez, auxilia no controle da morte celular e, ao mesmo tempo, estimula processos inflamatórios e tumorais, tudo estava resolvido. Bastava desenvolver medicamentos que inibissem a ação do complexo IKK para que a inflamação e o tumor fossem controlados.

"As companhias farmacêuticas têm gerado inibidores que podem reagir tanto com o IKK1 como com o IKK2 (a outra subunidade do complexo). Essa falta de especificidade pode causar efeitos contrários ao esperado. Pelo que se descobriu agora, a inibição de IKK1 via medicamento poderá ativar – e não inibir – as proteínas responsáveis por estimular a inflamação", explica Corrêa. Isso porque na prática, como foi visto nos peixes pelo estudo, a presença do IKK1 já inibe, de forma natural, o processo inflamatório e o tumoral.

As duas subunidades investigadas, e isso já era sabido, são ao menos 50% idênticas. É isso que levou os cientistas a imaginar que ambas desempenhavam atividades semelhantes. "Isso não é verdade. Nosso trabalho mostra que essas subunidades têm funções antagônicas na regulação da proteína NF-KapaB", explica o pesquisador. Os resultados obtidos pelo estudo serão publicados na edição de 26 de julho da revista Current Biology.

Além de alertar para a necessidade de um desenvolvimento mais racional de medicamentos voltados para os tumores e as inflamações, o estudo também tem relevância em termos da chamada pesquisa básica. Os resultados obtidos nos Estados Unidos mostram novas vias de controle da evolução embrionária dos vertebrados.

"O bloqueio da mesma proteína (NF-KapaB) em fases mais precoces da embriogênese causa deformidades na notocorda (eixo de sustentação e de estímulo para a formação da coluna vertebral)", explica Corrêa.

A conseqüência desse processo é que o peixe nasce com deformações no eixo que liga a cabeça à cauda. O que se vê normalmente nesses casos são animais que nascem sem a cauda. "Os nossos dados mostram que uma via tipicamente envolvida com a proteção celular tem também um papel vital na embriogênese dos seres humanos."


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